Fome (atualizado)
"Pontus é um jovem escritor que tenta sobreviver do ofício na gélida cidade da Christiania, mas cuja vida é das mais difíceis porque não consegue dinheiro para comer. Ele passa fome e sofre de alucinações enquanto luta para manter a dignidade e o orgulho.”
A obra literária do norueguês Knult Hansum, Fome (Sult) chegou ao Brasil através da tradução do escritor Carlos Drummond de Andrade e foi recomendado e analisado pelo médico, geógrafo e sociólogo Josué de Castro em seu livro Geografia da Fome. Destaque na literatura mundial no século XIX, o romance ganhou o Nobel em 1920 e recebeu uma adaptação para o cinema em 1966 que faz jus a sua obra através do dinamarquês Henning Carlsen. Na época o diretor conseguiu reunir recursos de diversos países escandinavos e organizar um elenco de peso para a filmagem.
Assim como no romance, percebi que o filme de forma perturbadora e angustiante retrata o estado de pobreza de um jovem escritor Pontus (Peter Oscarsson) que tenta sobreviver do seu ofício, mas que sem ter o que comer fica perambulando pelas ruas gélidas de Christiania (atual Oslo). Ao procurar emprego, passa a ter suas tentativas frustradas e conforme sua situação de penúria vai se agravando, deposita todas suas esperanças em um artigo enviado para uma editora.
O personagem se recusa a pedir esmolas e a roubar. Entra em um ciclo vicioso: Escreve para comer e come para escrever. Mas, nem sempre tem o que escrever nem o que comer.
Entre a fronteira da loucura e lucidez, nunca sabemos qual o seu estado mental. No ápice da trama, Pontus começa a sofrer terríveis efeitos da inanição: irritabilidade, quietismo mórbido vergonha, fraqueza, falta de concentração e desanimo excessivo. Além disso, começa a delirar e cair constantemente em ilusões românticas.
Através da subjetividade do personagem, podemos nos deparar com cenas em que ele chega ao extremo de ficar conversando com os seus próprios pés ou achar que o tempo todo está sendo observado por pessoas que passam na rua. Contudo, negando sua condição de humilhado, o personagem luta constantemente pra manter sua dignidade e orgulho diante de uma fome atroz que o devora lentamente de dentro pra fora.
Em suma, o que prevalece são as reflexões e angústias profundas de Pontus. Fome (Sult) segue sendo um filme perturbadoramente atual. Peter Oscarsson ao interpretar esse personagem de forma brilhante, ganhou do prêmio de melhor ator em Cannes. Ao ser lançado no Brasil pela Platina Films possui interessante extras: o depoimento do diretor Henning Carlsen e os relatos de Regina Hamsun (sua neta) e do escritor Paul Auster.
===Ficha técnica===
Gênero: Drama
Diretor: Henning Carlsen
Duração: 112 minutos
Ano de Lançamento: 1966
País de Origem: Dinamarca/Suécia/Noruega
Idioma do Áudio: Dinamarquês