"Capitão Fantástico” (Captain Fantastic)
"Capitão Fantástico” (Captain Fantastic)
O Quinto Congresso Internacional dos Resenhadores Medíocres ocorreu semana passada na Praia do Espelho, e os organizadores imploraram para que o melhor de um filme não seja entregue de bandeja.
Tendo isso em mente solicito aos visitantes desta página uma singela ovação ao sr. Matthew Brandon Ross, primeiro trabalho que ele escreve e dirige, que eu saiba, esteve bastante envolvido em seriados como ator.
É de se perguntar se isso ficou cozinhando nalguma gaveta durante décadas até se transformar em filme no ano de 2016, ou se o sr. Ross foi acometido de uma inspiração vulcânica em 2014, digamos, redigiu tudo furiosamente e vapt, transformou em 24 quadros por segundo. A propósito, já tem cineasta rodando em 120 quadros por segundo. Eis o pogresso.
Bodevan
Kielyr
Vespyr
Rellian
Zaja
Nai
Três meninos e três meninas, com idades que variam dos 5 aos 18, mais ou menos. São os 6 filhos do casal Viggo Mortensen e Trin Miller, esta só aparece por segundos em 2 devaneios de Viggo.
A primeira cena desemboca em duas hipóteses: forçação de barra ou diapasão, ou seja, de cara o autor dá o tom tanto da família como da obra. Tirando isso o negócio flui que nem salmão em corredeira. Sim, ele nada contra a corrente, igualzinho ao argumento do sr. Matt Ross.
Aaron Sorkin, um dos papas do entretenimento, coloca na boca de um personagem no episódio piloto do seriado Studio 60 (não veio para o Brasil), a seguinte fala: (...) Esse show deveria representar sátiras políticas e sociais, mas foi lobotomizado. (...) Estamos todos sendo lobotomizados pela indústria de maior influência do país. Não desafiam a audiência, não fazem nada que não inclua a cortesia por garotos de 12 anos. Nem mesmo os espertos de 12 anos, mas os estúpidos, os idiotas, que são muitos graças às emissoras de TV".
Viggo e os jovens moram no mato, e pode-se dizer muito sobre seus filhos, exceto que sejam estúpidos ou que tiveram os miolos derretidos pelo conteúdo eletrônico. Da abertura à cena xis, digamos 15 minutos, o espectador se depara com a rotina da tribo e vai engendrar inúmeras ruminações. É quando fica-se sabendo que a mãe está ausente há 3 meses por conta de um tratamento e, nos próximos 5 minutos, o roteiro nos conta que ela partiu desta para melhor por vontade própria na noite anterior. Deste ponto até o final o estilingue do autor, por sinal mais afiado que navalha de malandro, vai emitir flechadas tão certeiras no nosso estilo de vida, ou se preferir na hipnose em que vivemos, que será literalmente impossível ao espectador se fingir de indiferente.
(Festival de Cannes - Melhor diretor - Matt Ross, Festival Internacional de Cinema de Bucheon Captain Fantastic venceu na categoria Melhor Filme, Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, idem, Festival Internacional de Cinema de Seattle, idem, Festival de Cinema de Roma, idem).
O que há de tão especial nesse trabalho, se você me perguntar, direi que, além do notável dinamismo do enredo, a resposta está no arranjo de comunicação. Evidente que o conteúdo conta, porém estamos tratando de cinema, há mais de um sentindo no jogo da absorção e duzentos transmissores atuando em conjunto.
Viggo e os jovens moram no mato, numa espécie de Cidadela dos Robinsons do séc. XXI, praticam exercícios, lêem a torto e a direito, arrancam as peles dos bichos que caçam, fazem compotas de frutas, produzem artesanato, cultivam hortaliças, de noite debatem, ensejam música, cantam e dançam. Tudo na família acontece às claras. Quando vem a notícia de que a matriarca cortara os pulsos Viggo não diz seu gato subiu no telhado.
Momento de sair da reclusão e entrar em contato com o aquilo a que se chama sociedade.
A família possui um ônibus alcunhado Steve, será através desse veículo que eles irão ao funeral da mãe, ziguezaguear por uma fatia da América, se encontrar com parentes que nem conhecem e por à prova os anos de confinamento numa bolha com valores um tanto diversos dos nichos Facebook - Noticiário Catástrofe - Etc.
Como já se disse, Captain Fantastic é um trabalho de autoria, certos autores, dos bons, colocam os dois lados da moeda para o espectador raciocinar, outros autores são monomaníacos, difícil entender a praia do Matt Ross, fica claro que a liberdade de expressão é tônica, o filho caçula tem um poster do Pol Pot no "quarto árvore” ao passo que a filha caçula dá uma aula sobre constituição americana e direitos civis. O filho mais velho, fluente em 6 idiomas, foi convidado para as melhores universidades do país graças a educação caseira. Benjamin McLane Spock (The Common Sense Book of Baby and Child Care) é citado, aliás educação juvenil, o tema, bate como um coração vigoroso no seio da obra, de quebra a prole até comemora o "Noam Chomsky Day”, no problem, de acordo com proeminente pensador brasileiro, "Se há uma coisa inexplicável, é o prestígio intelectual de Noam Chomsky. Seus livros sobre política não contêm a mais mínima elaboração teórica, são pura propaganda, jornalismo polêmico na mais generosa das hipóteses, e sua teoria da "gramática gerativa" não é nenhuma física quântica”.
Não seria injusto, também, uma pequena ovação aos responsáveis pela escalação do elenco (casting), destaque para as meninas Samantha Isler como Kielyr e Annalise Basso como Vespyr, ambas na casa da pré adolescência, (no filme, na vida real real estão com 18 anos), atuam com profissionalismo impecável e reúnem uma beleza cativante cem por cento distante dos rostos capas de revistas, precisa de certo faro apurado para pinçar tais talentos.
Viggo e a filharada vão visitar sua irmã, casada com Steve Zahn, eles tem 2 filhos homens pré adolescentes. Prato cheio para o autor fazer subir à tona a antítese da frase “temos mais semelhanças do que diferenças”.
O zoológico de altercações, contendas, bate-bocas, desavenças que pontilham o debate nacional não encontram eco na família de Viggo. Meninos são meninos, meninas são meninas, drogas tô fora, literatura eu amo.
Para os pitaqueiros que apontaram o dedo para o personagem de Viggo Peter Mortensen Jr., novaiorquino de 1958, ele explana com muita tranquilidade que seus filhos tem condicionamento físico igual ou superior a atletas de competição, sabem se orientar pelas estrelas e possuem inigualável erudição para suas idades. Detalhe: não são macacos de repetição. Argumentam. Ele ainda arremata: estão melhores do que a maioria da população sub educada e super medicada.
Em nenhum momento do filme alguém chama o pai de Capitão Fantástico. Uma única vez ele, na direção do Steve, faz um comunicado e brinca: quem fala é o capitão.
Todos se dirigem para o velório da mãe, ocorre a contenda com o sogro poderoso vivido por Frank Langella, Viggo argumenta que a esposa era budista por filosofia já que ela mesma detestava qualquer organização religiosa e seu desejo visava a cremação.
Ainda tem água para passar por debaixo dessa ponte.
A sogra de Mortensen lhe mostra uma carta da filha, onde ela comunica a mãe que seu trabalho junto com o marido em prol dessas crianças não tem paralelo na história da humanidade, que estão criando “Reis Filósofos” avessos a república de Platão.
Contornam a obra, como um abraço invisível embora veemente, a unidade da família e a presença materna.
Encerramos com a declaração de um dos raros autênticos magos brasileiros: "Meu Deus, como tenho saudade da época que a minha família não tinha rádio, não comprava jornais, informação ZERO! Nenhuma energia negativa entrava. Os loucos faziam barbaridades, a gente não sabia. Quem era o presidente? Sob qual regime político a gente vivia? O regime do som das gafieiras chegando de longe, enquanto não chegava o sono. No nosso bairro só tinha um ladrão, chamado Corôa, que nunca feriu ninguém, não traficava drogas e só vivia preso na pequena delegacia. Paz para estudar, era nossa realidade”. (Heraldo do Monte).
"Capitão Fantástico” (Captain Fantastic)
O Quinto Congresso Internacional dos Resenhadores Medíocres ocorreu semana passada na Praia do Espelho, e os organizadores imploraram para que o melhor de um filme não seja entregue de bandeja.
Tendo isso em mente solicito aos visitantes desta página uma singela ovação ao sr. Matthew Brandon Ross, primeiro trabalho que ele escreve e dirige, que eu saiba, esteve bastante envolvido em seriados como ator.
É de se perguntar se isso ficou cozinhando nalguma gaveta durante décadas até se transformar em filme no ano de 2016, ou se o sr. Ross foi acometido de uma inspiração vulcânica em 2014, digamos, redigiu tudo furiosamente e vapt, transformou em 24 quadros por segundo. A propósito, já tem cineasta rodando em 120 quadros por segundo. Eis o pogresso.
Bodevan
Kielyr
Vespyr
Rellian
Zaja
Nai
Três meninos e três meninas, com idades que variam dos 5 aos 18, mais ou menos. São os 6 filhos do casal Viggo Mortensen e Trin Miller, esta só aparece por segundos em 2 devaneios de Viggo.
A primeira cena desemboca em duas hipóteses: forçação de barra ou diapasão, ou seja, de cara o autor dá o tom tanto da família como da obra. Tirando isso o negócio flui que nem salmão em corredeira. Sim, ele nada contra a corrente, igualzinho ao argumento do sr. Matt Ross.
Aaron Sorkin, um dos papas do entretenimento, coloca na boca de um personagem no episódio piloto do seriado Studio 60 (não veio para o Brasil), a seguinte fala: (...) Esse show deveria representar sátiras políticas e sociais, mas foi lobotomizado. (...) Estamos todos sendo lobotomizados pela indústria de maior influência do país. Não desafiam a audiência, não fazem nada que não inclua a cortesia por garotos de 12 anos. Nem mesmo os espertos de 12 anos, mas os estúpidos, os idiotas, que são muitos graças às emissoras de TV".
Viggo e os jovens moram no mato, e pode-se dizer muito sobre seus filhos, exceto que sejam estúpidos ou que tiveram os miolos derretidos pelo conteúdo eletrônico. Da abertura à cena xis, digamos 15 minutos, o espectador se depara com a rotina da tribo e vai engendrar inúmeras ruminações. É quando fica-se sabendo que a mãe está ausente há 3 meses por conta de um tratamento e, nos próximos 5 minutos, o roteiro nos conta que ela partiu desta para melhor por vontade própria na noite anterior. Deste ponto até o final o estilingue do autor, por sinal mais afiado que navalha de malandro, vai emitir flechadas tão certeiras no nosso estilo de vida, ou se preferir na hipnose em que vivemos, que será literalmente impossível ao espectador se fingir de indiferente.
(Festival de Cannes - Melhor diretor - Matt Ross, Festival Internacional de Cinema de Bucheon Captain Fantastic venceu na categoria Melhor Filme, Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, idem, Festival Internacional de Cinema de Seattle, idem, Festival de Cinema de Roma, idem).
O que há de tão especial nesse trabalho, se você me perguntar, direi que, além do notável dinamismo do enredo, a resposta está no arranjo de comunicação. Evidente que o conteúdo conta, porém estamos tratando de cinema, há mais de um sentindo no jogo da absorção e duzentos transmissores atuando em conjunto.
Viggo e os jovens moram no mato, numa espécie de Cidadela dos Robinsons do séc. XXI, praticam exercícios, lêem a torto e a direito, arrancam as peles dos bichos que caçam, fazem compotas de frutas, produzem artesanato, cultivam hortaliças, de noite debatem, ensejam música, cantam e dançam. Tudo na família acontece às claras. Quando vem a notícia de que a matriarca cortara os pulsos Viggo não diz seu gato subiu no telhado.
Momento de sair da reclusão e entrar em contato com o aquilo a que se chama sociedade.
A família possui um ônibus alcunhado Steve, será através desse veículo que eles irão ao funeral da mãe, ziguezaguear por uma fatia da América, se encontrar com parentes que nem conhecem e por à prova os anos de confinamento numa bolha com valores um tanto diversos dos nichos Facebook - Noticiário Catástrofe - Etc.
Como já se disse, Captain Fantastic é um trabalho de autoria, certos autores, dos bons, colocam os dois lados da moeda para o espectador raciocinar, outros autores são monomaníacos, difícil entender a praia do Matt Ross, fica claro que a liberdade de expressão é tônica, o filho caçula tem um poster do Pol Pot no "quarto árvore” ao passo que a filha caçula dá uma aula sobre constituição americana e direitos civis. O filho mais velho, fluente em 6 idiomas, foi convidado para as melhores universidades do país graças a educação caseira. Benjamin McLane Spock (The Common Sense Book of Baby and Child Care) é citado, aliás educação juvenil, o tema, bate como um coração vigoroso no seio da obra, de quebra a prole até comemora o "Noam Chomsky Day”, no problem, de acordo com proeminente pensador brasileiro, "Se há uma coisa inexplicável, é o prestígio intelectual de Noam Chomsky. Seus livros sobre política não contêm a mais mínima elaboração teórica, são pura propaganda, jornalismo polêmico na mais generosa das hipóteses, e sua teoria da "gramática gerativa" não é nenhuma física quântica”.
Não seria injusto, também, uma pequena ovação aos responsáveis pela escalação do elenco (casting), destaque para as meninas Samantha Isler como Kielyr e Annalise Basso como Vespyr, ambas na casa da pré adolescência, (no filme, na vida real real estão com 18 anos), atuam com profissionalismo impecável e reúnem uma beleza cativante cem por cento distante dos rostos capas de revistas, precisa de certo faro apurado para pinçar tais talentos.
Viggo e a filharada vão visitar sua irmã, casada com Steve Zahn, eles tem 2 filhos homens pré adolescentes. Prato cheio para o autor fazer subir à tona a antítese da frase “temos mais semelhanças do que diferenças”.
O zoológico de altercações, contendas, bate-bocas, desavenças que pontilham o debate nacional não encontram eco na família de Viggo. Meninos são meninos, meninas são meninas, drogas tô fora, literatura eu amo.
Para os pitaqueiros que apontaram o dedo para o personagem de Viggo Peter Mortensen Jr., novaiorquino de 1958, ele explana com muita tranquilidade que seus filhos tem condicionamento físico igual ou superior a atletas de competição, sabem se orientar pelas estrelas e possuem inigualável erudição para suas idades. Detalhe: não são macacos de repetição. Argumentam. Ele ainda arremata: estão melhores do que a maioria da população sub educada e super medicada.
Em nenhum momento do filme alguém chama o pai de Capitão Fantástico. Uma única vez ele, na direção do Steve, faz um comunicado e brinca: quem fala é o capitão.
Todos se dirigem para o velório da mãe, ocorre a contenda com o sogro poderoso vivido por Frank Langella, Viggo argumenta que a esposa era budista por filosofia já que ela mesma detestava qualquer organização religiosa e seu desejo visava a cremação.
Ainda tem água para passar por debaixo dessa ponte.
A sogra de Mortensen lhe mostra uma carta da filha, onde ela comunica a mãe que seu trabalho junto com o marido em prol dessas crianças não tem paralelo na história da humanidade, que estão criando “Reis Filósofos” avessos a república de Platão.
Contornam a obra, como um abraço invisível embora veemente, a unidade da família e a presença materna.
Encerramos com a declaração de um dos raros autênticos magos brasileiros: "Meu Deus, como tenho saudade da época que a minha família não tinha rádio, não comprava jornais, informação ZERO! Nenhuma energia negativa entrava. Os loucos faziam barbaridades, a gente não sabia. Quem era o presidente? Sob qual regime político a gente vivia? O regime do som das gafieiras chegando de longe, enquanto não chegava o sono. No nosso bairro só tinha um ladrão, chamado Corôa, que nunca feriu ninguém, não traficava drogas e só vivia preso na pequena delegacia. Paz para estudar, era nossa realidade”. (Heraldo do Monte).