A COMILANÇA
(La Grande Bouffe – 1973- Itália/França)
nair lúcia de britto
Na década de 70 fui assistir este filme no Cine Arouche, em São Paulo. Sempre gostei das comédias italianas (as melhores que eu já assisti) e do famoso astro italiano Marcello Mastroianni.
Entrei, pois, no cinema com ótimas espectativas de que a minha tarde seria portentosa, só nós dois: eu e o meu saquinho de pipoca. Sonoras gargalhadas e uma agradável diversão!
Qual o quê? Um filme grotesco, uma linguagem chula, cenas deprimentes, num casarão onde quatro homens, bem-sucedidos na vida, tinham ido passar um fim-de-semana para degustar boas iguarias.
Só que eles (um piloto de avião, um jornalista, um juiz e um “chef” de cozinha) resolveram não ter limites para satisfazer sua gula feroz.
Boas maneiras, pra quê? Bom senso? Nem sinal! Deseducação, uma piada sem a menor graça...
Saí do cinema frustrada com tudo que eu, nem sei por que cargas d’água, assistira...
Só mais tarde mais amadurecida intelectualmente pude entender o motivo pelo qual o premiado diretor, Marco Ferreri, produzira o que hoje é considerado uma obra-prima do Cinema.
O cineasta, pelo que pesquisei, através desta comédia dramática, quis mostrar as questões repulsivas de uma sociedade cega e decadente. Talvez o alvo dessa crítica, ao se espelhar numa tela de cinema, pudesse se conscientizar do ridículo papel perante seu comportamento.
O filme foi campeão de crítica no Festival de Cannes. Silvia Marques (articulista) comentou muito bem ao escrever:
“Por meio de uma situação bizarra e grotesca, é revelado o enfado de uma sociedade pautada no consumo, em que tanto os excessos alimentares como sexual indicam a precariedade das relações sociais e afetivas.”
“O quadro onírico de Ferrari -- ela prossegue -- simboliza nossa cultura de excesso e do desperdício...”
Vemos hoje uma "Comilança" real e inconcebível. Ricos cujo dinheiro, por mais abundante que lhes seja, nunca os satistazem... A ganância lhes impõe a acumularem seus bens com fartura; e, ainda, roubarem o bem alheio. Mesmo os mais simples e indispensáveis de quem vive do trabalho.
Por outro lado, aqueles que buscam a compensação de suas frustrações no sexo, sem se preocupar com escrúpulos e desconhecendo a ética.
A violência à mulher em todos os lugares, até nos ônibus, parece até já fazer parte do cotidiano... Como se a mulher fosse um mero objeto de satisfação e o ônibus um antro de perdição.
Para este cenário da vida real, tão indigesto como o da ficção, só existe uma solução: Educação!
(La Grande Bouffe – 1973- Itália/França)
nair lúcia de britto
Na década de 70 fui assistir este filme no Cine Arouche, em São Paulo. Sempre gostei das comédias italianas (as melhores que eu já assisti) e do famoso astro italiano Marcello Mastroianni.
Entrei, pois, no cinema com ótimas espectativas de que a minha tarde seria portentosa, só nós dois: eu e o meu saquinho de pipoca. Sonoras gargalhadas e uma agradável diversão!
Qual o quê? Um filme grotesco, uma linguagem chula, cenas deprimentes, num casarão onde quatro homens, bem-sucedidos na vida, tinham ido passar um fim-de-semana para degustar boas iguarias.
Só que eles (um piloto de avião, um jornalista, um juiz e um “chef” de cozinha) resolveram não ter limites para satisfazer sua gula feroz.
Boas maneiras, pra quê? Bom senso? Nem sinal! Deseducação, uma piada sem a menor graça...
Saí do cinema frustrada com tudo que eu, nem sei por que cargas d’água, assistira...
Só mais tarde mais amadurecida intelectualmente pude entender o motivo pelo qual o premiado diretor, Marco Ferreri, produzira o que hoje é considerado uma obra-prima do Cinema.
O cineasta, pelo que pesquisei, através desta comédia dramática, quis mostrar as questões repulsivas de uma sociedade cega e decadente. Talvez o alvo dessa crítica, ao se espelhar numa tela de cinema, pudesse se conscientizar do ridículo papel perante seu comportamento.
O filme foi campeão de crítica no Festival de Cannes. Silvia Marques (articulista) comentou muito bem ao escrever:
“Por meio de uma situação bizarra e grotesca, é revelado o enfado de uma sociedade pautada no consumo, em que tanto os excessos alimentares como sexual indicam a precariedade das relações sociais e afetivas.”
“O quadro onírico de Ferrari -- ela prossegue -- simboliza nossa cultura de excesso e do desperdício...”
Vemos hoje uma "Comilança" real e inconcebível. Ricos cujo dinheiro, por mais abundante que lhes seja, nunca os satistazem... A ganância lhes impõe a acumularem seus bens com fartura; e, ainda, roubarem o bem alheio. Mesmo os mais simples e indispensáveis de quem vive do trabalho.
Por outro lado, aqueles que buscam a compensação de suas frustrações no sexo, sem se preocupar com escrúpulos e desconhecendo a ética.
A violência à mulher em todos os lugares, até nos ônibus, parece até já fazer parte do cotidiano... Como se a mulher fosse um mero objeto de satisfação e o ônibus um antro de perdição.
Para este cenário da vida real, tão indigesto como o da ficção, só existe uma solução: Educação!