SOBRE O FILME “PRECIOSA”

A história conta a vida de Clareece Precious, uma garota negra, obesa e pobre, vítima de violência física e psicológica, o que inclui abuso sexual, desde os três anos de idade, tanto pelo pai, quanto pela mãe. Além desses problemas, a adolescente é semianalfabeta.

A mãe a odeia porque, na loucura que lhe é peculiar, enxerga na menina uma concorrente. Assume que permitiu que o pai abusasse da filha porque precisava dele e era o único jeito de mantê-lo em sua cama. Alimentava um ciúme doentio por conta dos filhos que Clareece teve com o pai e porque este não mais a procurava, apenas à menina. Atribuindo a culpa pela distância do namorado à filha, ela também abusa dela, como uma forma de “compensação”.

A primeira filha de Clareece, a “Mongo”, tem Síndrome de Down e vive com a bisavó, que a traz para a casa onde aquela vive com a mãe, nos dias de visita da Assistente Social, para garantir o recebimento do cheque da assistência.

Aos 16 anos de idade Clareece é expulsa da escola por estar grávida, pela segunda vez. Mas, felizmente, é convidada a ingressar na escola alternativa, onde será alfabetizada e, obviamente, acompanhada por profissionais que a ajudarão. Sobre a escola, a mãe da menina insiste em dizer que não serve pra nada.

Embora uma das temáticas mais evidentes seja o abuso sexual no ambiente familiar, o papel da educação como elemento positivo na transformação da garota foi algo que me chamou a atenção, por vários fatores. A escola, com ajuda da assistência social, alcançou a verdade sobre a vida da menina que sofria bullying por ser gorda e por ter dificuldade de aprendizagem.

A leitura e a escrita nitidamente implica inclusão social, sendo a escrita posta como uma forma de libertação, quando a professora pede que as meninas escrevam, sem preocupação com erros gramaticais, apenas escrevam, sobre o que sentem. E a relação afetiva concebida entre a adolescente e a professora é decisiva para seu desenvolvimento pessoal.

O esforço da professora em ajudar a menina é visível. Numa de suas reflexões, Clareece lamenta, por entender que a docente vai muito além das suas possibilidades para ajudá-la: “Tenho pena dela, é só uma professora, não uma assistente social”.

Outra reflexão de Clareece é sobre o preconceito contra gays, ao descobrir que a professora mantém uma relação afetuosa com outra mulher: “A mãe diz que gay é gente ruim... mas, mãe, o que eles fizeram pra você? Não foram os gays que me estupraram; gays não me deixaram sentada numa sala pra não aprender nada...” Por fim, ela diz que foi graças à professora que ela virou a “rainha do abc”.

É um filme muito forte, emocionante, que toca profundamente em questões de preconceito e problemas sociais, fazendo-nos refletir, entre outros pontos, sobre a importância da proteção às crianças e o papel que a educação (a escola) tem, enquanto agente transformador.

É muito mais do que sou capaz de descrever, acredite!

Título original: Precious

Diretor: Lee Daniels

Estados Unidos, 2009