FILME - CHOCOLATE (CHOCOLAT) - 2016

*Por Herick Limoni

Tenho três passatempos preferidos: escrever, assistir filmes e ler livros, não necessariamente nessa ordem.

Há algum tempo venho pensando em juntar os prazeres da escrita com a paixão pela chamada sétima arte, e por isso resolvi dar o pontapé inicial.

Não há nenhum motivo especial pela escolha do presente filme, apenas senti vontade de escrever sobre ele e resolvi me arriscar.

Como cinéfilo e escritor amador que sou, não é minha pretensão, e não irei fazê-lo, escrever críticas profundas sobre os filmes que me instigarem a escrever. Ao contrário, pretendo apenas resumir os enredos e tecer alguns comentários pessoais sobre esses filmes. De amador para amador.

De igual maneira, acalento o desejo de um dia escrever sobre livros, mas isso é um projeto para o futuro.

Espero que meus textos possam auxiliar aqueles que, como eu, são amantes da arte que tem como pioneiros os irmãos Lumiere.

Ficha técnica

Ano: 2016

Elenco: Omar Sy, James Thiérrée, Thibault de Montalembert, etc.

Título Original: Chocolat

Origem: França

Gênero: Biografia, drama

A história é baseada em fatos reais e se passa no final do século XIX. Conta a saga de Rafael Padilla, o primeiro artista de circo negro na França.

Padilla é filho de um mordomo negro, o qual trabalhava para uma família rica que o humilhava e o ridicularizava frequentemente na frente dos convidados. Quando criança, o jovem negro africano é vendido por seus pais a um espanhol, que o leva para a Europa, mais especificamente para a cidade de Bilbao, na Espanha, de onde mais tarde viria a fugir em direção à França, embalado pelo sonho de liberdade, igualdade e fraternidade. Em suas andanças, o jovem fujão, para sobreviver, exerce diversas funções, todas elas lhe exigindo grande esforço físico. Até que um dia, no interior da França, já adulto, começa a trabalhar no Cirque Delvaux, onde exerce o papel de um canibal africano chamado Kananga, o qual tinha a fama de comer pessoas.

Não é um trabalho digno, mas não exigia sacrifícios físicos e permitia a Kananga sobreviver com o que lhe era pago. Ademais, como é costume nos circos, tinha comida e cama disponíveis. Outro motivo que o prendia ao circo Delvaux era seu romance com Camille, uma bonita jovem francesa de pele clara, cujo número circense consiste em se equilibrar sobre um cavalo.

Kananga estava satisfeito com a vida que levava até conhecer o decadente palhaço Footit, que fizera algum sucesso no passado, mas se encontrava no ostracismo. Footit lhe propõe formarem uma dupla de palhaços e, após alguma resistência e levado por interesses financeiros – já que palhaços ganhavam mais – Kananga aceita o convite, surgindo então a dupla de palhaços batizada de “Footit e Chocolate”, a primeira dupla de palhaços formada por um branco e um negro.

As apresentações, obviamente comandadas por Footit – branco e já com alguma fama prévia – consistiam em algumas brincadeiras em que, invariavelmente, Chocolate era golpeado com tapas e chutes cenográficos, o que levava a plateia, formada em sua totalidade por brancos, às gargalhadas.

Não demorou muito e a dupla se tornou um sucesso de público, sendo convidada pelo Sr, Oller, dono do Cirque Noveau, a se apresentar em Paris, por um salário bem mais compensador do que aquele que recebiam até então. Com esse forte apelo financeiro a dupla segue para Paris, e sua avant premiere na cidade luz é um sucesso de público e crítica.

Mas como sempre, o sucesso traz a reboque alguns problemas. A dupla, até então bastante afinada, começa a dar sinais de desgaste, tendo em vista que Chocolate começa a se destacar, o que não agrada Footit. Era a criatura superando o criador. Com o sucesso vem a fama e o dinheiro, e Chocolate, que era viciado em jogos desde os tempos de Kananga, afunda-se ainda mais no submundo das jogatinas em Paris. Outro problema é que chocolate, até então um imigrante ilegal desconhecido e que não incomodava a ninguém, passa a chamar a atenção das autoridades locais, o que acaba por levá-lo á prisão.

No cárcere - onde é recebido pelos policiais com um banho de água fria e onde teve suas costas esfregadas com uma vassoura para ver se a “tinta” saía - conhece Victor, um imigrante haitiano acusado de subversão. Durante conversa com Victor, Chocolate revela já ter lido Romeu e Julieta três vezes, e que, cansado da vida no circo, gostaria de interpretar a peça de Shakespeare no teatro. Nesse momento, Victor lhe apresenta outro livro do autor inglês, Otelo, e sugere que aquele enredo se enquadraria melhor nas pretensões de Chocolate, por se tratar de um protagonista negro.

Decidido a mudar de ramo e cansado da fama conquistada a chutes no traseiro e bofetadas, Chocolate parte para sua última apresentação no circo, onde subverte os papéis e, ao invés de apanhar, bate em Footit, levando a plateia ao êxtase. É o fim da famosa dupla de palhaços. Após o rompimento, o ex-palhaço Chocolate, decidido a ser conhecido por seu nome de batismo, é apresentado por uma enfermeira viúva, com quem mantinha um romance, ao gerente do Theatre Antoine, também em Paris. Ao saber das pretensões de Padilla de interpretar Otelo no teatro, o gerente gosta da ideia, uma vez que até então a peça só havia sido encenada por atores brancos maquiados de negro.

Depois de muitos ensaios e testes Padilla finalmente estreia em um teatro lotado, que tem entre seus expectadores Footit, que assiste a tudo escondido. Apesar de todo o esforço e dedicação, Padilla é sumariamente vaiado por uma plateia predominantemente branca, que não aceita um negro como protagonista. É o fim do sonho de um negro pioneiro, que ousou enfrentar a sociedade racista do final do século XIX, descobrindo, de forma dolorosa, que a liberté que almejava encontrar na França naquela época não incluía os negros.

Por fim, Padilla, já velho, volta a trabalhar em um circo, agora como uma espécie de ajudante geral. E é trabalhando lá que morre, antes de completar os 50 anos, de tuberculose.

Nota: 8,5

*Bacharel e Mestre em Administração de Empresas

Email: hericklimoni@yahoo.com.br