13 Reasons Why: sem contra-indicações
A série da TV americana 13 Reasons Why, baseada no livro Thirteen Reasons Why, de Jay Asher foi adaptada por Brian Yorkey para a Netflix. Recebi, de meu filho, a indicação para assisti-la. Antes de iniciar, comecei a ler inúme uhros comentários contrários, indo desde problemas de descontinuidade até apologia ao suicídio.
Suicida que fui (ou ainda sou), achei os quatro ou cinco episódios (dos 13) muito cansativo, mas nada de depressivo ou coisa do tipo. A narrativa não me agradou, no início, por ser monótona. Então, por insistência e pelo bombardeio – um marketing reverso que alçou picos de popularidade à série– decidi ouvir as tais 13 fitas deixadas pela adolescente Hannah (Katherine Langford) para explicar sua morte.
Primeiro: o suicídio de Hannah não vai fazer com que ninguém se sinta tentado a segui-la nesta empreitada. Até porque, o fio condutor da história, é um tema recorrente desde que eu me entendo por gente e tudo era visto como “brincadeira de criança”: o bullyng. Segundo: vendo a série despida do preconceito que envolve o suicídio, quase sempre associado a algum tipo de transtorno mental (depressão, por exemplo), a mensagem é mesmo a necessidade de rever o tratamento dado às pessoas no decorrer de suas vidas pela família, escola, igreja, sociedade enfim.
Hannah se mata porque se sente excluída e não parece corresponder ao esperado dela pelos pais. Mata-se porque foi violentada sexualmente por um jovem com valores distorcidos. Mata-se porque recorre ao “conselheiro” da escola e este deixa claro que dificilmente este rapaz será punido, e superar o ocorrido é a melhor opção. Mata-se pela solidão e pelo vazio existencial que fazem parte, quase sempre, dessa fase da vida (a adolescência).
Há muita Hannah entre nós e há muitos de nós em Hannah. Há muitos pais desatentos como os de Hannah, bem mais preocupados em amealhar riquezas. Há muitos jovens e adultos que não respeitam a si e, portanto, não respeitam aos outros. Há, ainda, escolas empenhadas em ter status, apagando as porcarias escritas nos banheiros, ou ocorridas nas salas e nos corredores, com uma mão de tinta ou vistas grossas. Há maníacos em cada ponto, nas escolas, nas ruas e dentro das casas, às vezes até das nossas, se observarmos que os abusos contra crianças são protagonizados por pais, padrastos, tios...
Então, se há “13 razões” para não ver a série, há inúmeras razões para vê-la: Mostra a depressão. Mostra a ansiedade. Mostra a culpa. Mostra a falta de remorso. O descaso. Mostra a incapacidade de ver o que está na ponta do nariz. Mostra o que deve ser refletido. Mostra a alegria de estar vivo... também. Mostra o suicídio não como única opção, mas como uma carga expressiva de desespero, que se torna mais pesada por diversos fatores. Mostra que mesmo passando por dificuldades e cercada por incertezas, é possível dar novo sentido às coisas como faz Jessica (Alisha Boe), ou fazer o mesmo que Hannah... Ou tentar.
Por tudo isso, apesar daquela cicatriz que nunca fecha no em Clay Jensen (Dylan Minnette), o jovem mais próximo de Hannah, ou das aparições de Tony (Christian Navarro) designado por ela para entregar as fitas a seus 13 escolhidos, sempre que Clay vira a esquina, a série é bem razoável. Por quê? Vou dar apenas uma razão: faz pensar.