AS PONTES DE MADISON.
É um filme para ser assistido mais de uma vez. Duas, três, talvez. O porquê, não saberia explicar. Talvez, um dos melhores filmes a que já assisti. Sem muitos recursos cinematográficos, cenário simplista, muito embora, enriquecido pelas maravilhosas paisagens que emolduram o desenrolar do filme. Mas que nos dá a certeza de que um grande e verdadeiro amor independe de tempo e espaço e que apesar da curta duração de apenas quatro dias, pode marcar para sempre, toda uma vida. Desconfio de que tenha sido produzido para um público alvo; para aqueles que acreditam na força do verdadeiro amor, no encontro de almas. Para aqueles que acreditam no poder de uma paixão e no quanto essa mágica energia pode mudar, para sempre, suas vidas.
No elenco, temos nada mais, nada menos, que “Clint Weastwood” e Meryl Streep, como protagonistas. Ambos nos presenteiam com um show de interpretação. Ele, no papel de um homem de meia idade, experiente e vivido. Um homem da vida, do mundo. Fotógrafo profissional de uma conceituada revista da época. Ela, uma dona de casa, também na metade da vida, sem grandes expectativas futuras. Acomodada, porém, não conformada com a vida pacata que levava junto à família numa região rural da cidade de Madison. A história se passa em meados dos anos sessenta quando a maioria das mulheres chegavam a esse mundo com seus destinos traçados por mãos de pouco tato e sensibilidade. O direito de escolha quanto à vida que se queria levar era bastante restrito. Restando para grande parte delas, o casamento. Algumas poucas conseguiam destaque no mercado de trabalho, mas, quase sempre, abandonavam o emprego para dedicarem-se integralmente à família.
Não foi diferente para “Francesca”( Meryl Streep). Uma mulher bonita, sensual, intensa, que há muito, havia desacreditado nos encantos que ainda carregava por trás da apagada e insatisfeita dona de casa. Uma mulher que abdicou de seus sonhos quando optou pelo casamento e a nada fácil tarefa de viver em função de sua escolha. Sim, somos o resultado de nossas escolhas. “Ninguém entende que quando uma mulher resolve casar e ter filhos, por um lado sua vida se inicia, por outro, termina”. Palavras de Francesca. Palavras da Francesca que ficou para trás, quando fez sua escolha numa época de tão pouco espaço para os desejos e vontades de uma mulher. Aquela mulher precisava ser vista, notada, sentida, pela sua família e demais pessoas. O seu lado esquecido precisava respirar por seus próprios pulmões, precisava gargalhar suas próprias risadas, chorar suas próprias lágrimas e viver suas próprias fantasias. Precisava ser vista por olhos de raio X, para que pudesse ser entendida e admirada pelo fato de carregar dentro de si, um Universo de emoções, inteligência, sensibilidade, humor, delicadeza e vontades. Vontade de ser, de realizar, de provar, conhecer, desvendar, e viver o seu lado esquecido pela realidade escolhida por ela mesma, tempos atrás.
Ele, “Robert”, (Clint Eastwood), muito embora, homem do mundo, vivido e rodado...já havia experimentado outros amores, muitos outros, porém, nenhum até, então, profundo e verdadeiro o suficiente para preencher o vazio que ainda carregava em sua alma, em seu coração. Até perceber naquela mulher, todos os encantos tão procurados e nunca encontrados em tantos outros amores. Seu olhar de homem vivido conseguiu identificar naquela mulher uma intensidade de sentimentos jamais encontrada, até então, em sua vida. Aquela mulher o encantava pela sua transparência, sensibilidade, ternura, inteligência...pela sua essência, e vontade de mostrar-se como verdadeiramente, seu coração precisava ser visto e entendido.
A história tem início quando Robert, por acaso, estaciona seu carro em frente a propriedade da Francesca, em busca de algumas informações. Procura por uma determinada “ponte”,( ponte; aproxima, une) onde ele pudesse fotografar para sua matéria. Francesca, já, no primeiro momento, compelida por uma força, nem sempre explicável, mostra-se solícita e oferece ajuda para o que for necessário. Põe-se, inclusive, à disposição para acompanhá-lo ao local da referida ponte. Seu marido havia viajado com os filhos durante quatro dias para uma exposição bovina, evento tradicional na cidade. Francesca preferiu ficar. Já naquele momento tem início um lindo romance. Naquele instante, Francesca começa a se despir do papel em que atuou durante tantos anos para uma plateia vazia. E passa a ouvir seus desejos mais íntimos e seus sentimentos. Sentimentos, simplesmente, acontecem, não se param sentimentos. Francesca, por quatro dias, abandona o seu mundinho preto e branco e mergulha no universo colorido de Robert, e vai de encontro ao arco-íris. E tomada pelo poder transformador do amor, Francesca deixa vir à tona a mulher há muito esquecida no passar dos anos. Uma mulher linda, interessante e verdadeira. E ela então, se redescobre. E vive tão intensamente aqueles quatro maravilhosos dias de amor e paixão.
Pouco tempo dentro de uma eternidade. Convidada a partir com seu amor, ela decide ficar. Dar sequência àqueles dias maravilhosos era arriscado, poderia ter um fim inesperado e colocar a perder toda a beleza de uma vida vivida em apenas quatro dias. Em seus corações ficaram as lembranças que não foram esquecidas, jamais...nem por um só dia, sequer. Ter vivido esse amor, deu forças àquela mulher para voltar ao seu mundinho preto e branco. Deu-lhe forças para continuar cuidando de sua família, e do seu marido de uma forma amigável e carinhosa. Porque essa havia sido sua escolha tempos atrás.
Alguns, verão o filme sob o foco da traição, do adultério feminino. Outros entenderão que esses destinos estavam traçados. Saberão entender que havia sincronicidade. Aquelas almas se procuravam e precisavam desse encontro. Mesmo que por apenas, quatro dias.
Elenice Bastos.