Breve resenha e algumas indagações sobre a temática do filme A ESCOLHA DE SOFIA (5563 leituras, o meu texto mais lido)



 
     Anos após o fim da II Guerra Mundial, uma mulher de origem polonesa, sobrevivente a campo de concentração, continua a sobreviver no além da guerra, com seu amante e um amigo, que também a cobiça, todos terrivelmente problemáticos. Vamos acompanhando o ruir progressivo do mundo interior deles e, consequentemente, das suas relações com o mundo exterior. Uma mulher em situação de permanente tragédia, verdadeira personagem de tragédia grega, de mito sobre cuja existência não me recordo de jamais ter lido nada (o que não quer dizer que ele, mito, não exista nessa e ou talvez, em  alguma outra tradição mítica).
     Um momento do passado explica-lhe a causa, a causa dessa vida trágica: Vemos esta mesma mulher, fugitiva, com seus dois filhos, ambos muito pequenos (uma menina e um menino) a tentar embarcar, clandestinamente, em um trem, na busca de escape ao horror nazista. Não o consegue. Um guarda a descobre e lhe propõe (claro, não me lembro das palavras, assisti a este filme há muitos anos): "Escolha um de seus filhos para o sacrifício e eu garanto que a senhora segue, a salvo, com o outro filho". Ela, após um tempo de desesperada agonia, acaba por gritar: "Leve a minha garotinha" e consegue partir, com o filho (que também morreria, algum tempo depois, na guerra); consegue seguir, para a "liberdade".


Sem qualquer espécie de julgamento, que a nós pobres, falíveis e pecadores por herança e... destino tal julgamento não pode nem deve caber, gostaria, apenas, de deixar aqui estas indagações:
I- De quantos abismos pode se compor a alma humana?
II - 1. O que pode ter levado esta mãe a fazer tal escolha, em nível inconsciente ou em qualquer outro nível?
- 2. De que outras possibilidades de escolha poderia dispor esta desgraçada mãe (no sentido daquele que perdeu ou que não dispõe da Graça)?


Na manhã de 5 de março de 2010.




                               
 
 
Comentários, para esta e para a publicação original.
 
 
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18/10/2016 21:34 - Hyerohydes Gonçalves
Muito emocionante e, ao mesmo tempo, um texto bastante convidativo a uma reflexão racional. Estou muito grato, Zuleika dos Reis, por esta oportunidade de ir ao encontro dessa magnífica resenha. Parabéns! Deus te abençoa sempre!!!
 
16/04/2016 13:18 - Roberta GM
Obrigada pelos comentários ao meu recente texto. Esta resenha foi bastante esclarecedora, pois eu ainda não assisti a este filme.

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20/10/2013 23:45 - Ella Costa [não autenticado]
 
É um dos meus filmes preferidos. Me encanta a delicadeza e sutilidade da escolha. Entendo que o escritor elucidou a questão da preservação da raça judaica, uma vez que a meninas é que perpetuam. Não ficou claro se a menina realmente morre, tornando-se um momento em que a possibilidade de preservar a descendência sobressaiu. A inteligência da mulher judaica também instintivamente sobressai ao analisar que o filho menor teria menos conhecimento da situação e sofreria menos. Mas como mãe universal, jamais conseguiu superar as perdas.
 
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02/07/2011 13:02 - Zuleika dos Reis
Cara Marietta, como estou sem provedor para lhe responder diretamente, vou fazê-lo aqui mesmo,como se fora um comentário ao meu texto. Como assisti a esse filme há muitos anos, é realmente possível que minha memória me tenha traído e, neste caso, peço desculpas a você e a todos que venham a ler esta resenha. De todo modo,creio que o texto se justifica em um sentido, o de colocar o problema da escolha instintiva da mãe pela filha, como o ser para o sacrifício, e sobre essa questão devo frisar a importância das colocações do leitor Athos de Alexandria. Apenas por essa razão vou manter o texto publicado. Muito obrigada por sua leitura e pelo comentário elucidativo e esclarecedor. Peço desculpas, mais uma vez, a todos, pelos erros da resenha. Atenciosamente, Zuleika dos Reis
 
02/07/2011 12:16 - Marietta [não autenticado]
Bom, acho que vc deve ter se enganado. O filho, assim como a menina que foi escolhida pela mãe para morrer, também não sobreviveu a guerra. A história se passa em 1947, dois anos após o fim de Segunda Grande Guerra, e mostra Sofia como imigrante nos EUA e seu amante americano (Nathan). O rapaz jovem (Stingo)que aparece do sul para viver na mesma casa que eles no Brooklyn é apenas um aspirante a escritor que acaba conhecendo Sofia e seu namorado por acaso. Stingo não é o filho de Sofia. Se assistir ao filme ou ler o livro até o final verá isso de forma muito clara: Ela não conseguiu salvar nenhum dos dois filhos e carregou essa culpa até a sua morte! PS: E eles (ela e as crianças)não entraram clandestinamente em um trem tentando fugir do horror nazista como vc descreveu. Pelas cenas vc pode ver que se trata de um trem de carga e Sofia descreve sua prisão e deportação a Auschwitz com seus filhos.
 
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05/03/2010 14:24 - Athos de Alexandria
São raras as vezes que vejo perguntas incomuns como as tuas, as quais são de uma profundidade abissal. Raras são as pessôas também, que não veem um filme apenas como um espetáculo lúdico, mas sim sentem no coração, as entrelinhas da mensagem este traz, que motiva a interpretação dos principais atores dos personagens de um filme. Você o sentiu! Creio que o escritor do livro (que não li) Willian Stycon trasladou para a vida da personagem principal, estes questionamentos que você fez. Seu primeiro questionamento e o terceiro, para eles não há resposta. Para o segundo é simples. Eu sou homem, mas sei que a mulher sempre esteve, está e por muitos e muitos anos ainda vai estar sendo "escolhida", "preterida", como foi a menina. A mensagem do autor do Diretor do Filme (Pakula) é clara. À mulher sempre coube e cabe a culpa de todos os pecados do mundo, que tiveram origem no Paraíso, com o pecado original. A mãe coube a terrível escolha, e como não poderia deixar de ser, pois sempre foi e será assim, à mulher cabe levar sempre também o castigo. Escolheu então, a filha, que é mulher e foi a castigada. Meus parabéns às mulheres pelo seu dia, 08/03. Tenha um lindo final de semana! Athos...
 
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05/03/2010 12:02 - Oswaldo Genofre
Bom dia, Zuleika Um retrato de uma situação terrível. Qualquer escolha já se torna terrível, por mais simples que seja... com envolimento emocional, então... Beijos e, muita poesia. Deixei em minha escrivaninha uma homenagem às mulheres do recanto. São quatro poemas. Sinta-se dentro deles....