Walt Disney e os duendes

WALT DISNEY E OS DUENDES
Miguel Carqueija


Resenha do filme “A lenda dos anões mágicos” (Walt Disney Productions, Estados Unidos, 1959; título original “Darby O’Gill and the little people”, ou seja, “Darby O’Gill e o povo pequeno”). Produção de Walt Disney. Direção de Robert Stevenson. Roteiro de Herminie Templeton Kavanagh e Lawrence Edward Watkin, com base no livro de Herminie. Música composta por Oliver Wallace. Elenco: Albert Sharpe (Darby O’Gill), Jimmy O’Dea (King Brian), Janet Munro (Kate O’Gill), Sean Connery (Michael McBride), Walter Fitzgerald (Lord Fitzpatrick).

Pelo que consta, o grande Walt Disney (1901-1966) carregou por mais de dez anos o projeto deste grandioso filme de fantasia, cuja tessitura é perfeita, na maneira como apresenta o relacionamento, por muitos anos, entre homem e duende, e os vários duelos de inteligência que ambos travam — o Darby O’Gill do título original e King Brian, Rei dos Leprechauns. A narrativa é singelamente cômica, ao elaborar o caso dos três ou quatro desejos — quem conseguisse capturar um duende, driblando os seus poderes, podia exigir dele três desejos, mas se fizesse um quarto este anularia os três anteriores. Com uma sagacidade invulgar, o enredo vai sendo construindo com base nessa premissa enquanto acompanhamos os incidentes com Kate, a bela filha de Darby, o jovem Michael (interpretado por um Sean Connery irreconhecível de tão jovem) em seu novo emprego, os vizinhos e até a sinistra égua Cleópatra, pertencente a Darby e que lhe causa transtornos.
Trucagens excelentes (que os Estúdios Disney já realizavam naquela época) mostram o contraste de tamanho entre o “povo pequeno” e os humanos, bem como a sequência no reino subterrâneo de Brian; ou a sinistra aparição da “banshee” ou fada má das lendas irlandesas, na verdade uma figura da morte e que surge quando tudo terá de se decidir.
Bem interpretada, musicada, colorida, com esperta direção do veterano Robert Stevenson (que trabalhou em muitos filmes de Walt Disney), esta fantasia é marcante e prende atenção desde o início. A sequência da “banshee” chega a ser de terror. Há, enfim, uma bem dosada mistura de música, romance, terror, fantasia, suspense e comédia. A vizinha fofoqueira, que vive tramando para que o filho rufião se dê bem, é um dos elementos cômicos, bem como as presepadas de Darby O’Gill na taverna.
Uma obra-prima com a marca do saudoso Walt Disney. A primeira vez que ouvi falar nessa película foi num episódio da Disneylandia onde Walt, desta vez atuando, vai á Irlanda, encontra com Darby O’Gill e vai com ele à colina onde se encontraria a entrada para o reino subterrâneo. Na expectativa de encontrar os leprechauns, os dois travam um curioso diálogo:
DARBY O’GILL – Está escutando?
WALT DISNEY – Não ouço nada.
DARBY O’GILL - Não ouve eles ficarem calados?
Mas levou muitos anos para que eu conseguisse assistir ao filme tão intrigantemente divulgado na Disneylândia... todavia, valeu a pena.

Rio de Janeiro, 6 de agosto de 2016.