Midnight Special - #01 Resenha Crítica
Temos visto bastantes filmes em Hollywood que utilizam o CGI de forma exagerada e preguiçosa visando apenas o espetáculo visual que se sobrepõe a história que está sendo narrada, seus personagens e acima de tudo a inteligência do espectador. Só até o meio do ano já tivemos Independence Day 2, Alice Através do Espelho, Civil War, Warcraft, A Quinta Onda... Todos preocupando-se com o CGI bem feito para mascarar algo mal contado; é com grande alívio que termino de assistir Midnight Special que o utiliza da melhor forma possível ficando escondido como complemento de uma história fantástica com personagens interessantes.
Alton é um garoto que têm poderes especiais e vive em um rancho religioso povoado por extremistas que o veem como salvador. Quando a data profetizada pela criança se aproxima seu pai Roy e um amigo, Lucas, pegam-no e o levam para fora, porém, tanto os religiosos quanto o FBI (que descobriu os dons) estão atrás deles. O longa começa em uma tomada do carro onde não somos apresentados a nenhum personagem e muito menos temos noção do que se passa; a medida em que os diálogos vão acontecendo entre os três que estão ali percebemos que a criança tem dons especiais e que precisam fugir do FBI que quer pegá-la. Esse início é feito de forma inteligente, pois, por mais que o desenrolar da trama vá acontecendo nunca realmente sabemos toda a verdade.
A direção é perfeita em compreender que o forte de seu roteiro são seus personagens, então Jeff Nichols (diretor) opta pelos enquadramentos intimistas com câmera parada no rosto, no gesto e em tomadas fechadas evitando usar plano geral. O Design de arte também acerta perfeitamente na caracterização de Alton que sempre aparece com óculos e acendendo uma lanterna para ler gibi de super heróis, afinal a sua história de ter que fugir dos religiosos por eles acharem que é o salvador e do FBI por que o mesmo quer pegá-lo para usar como arma serve de metáfora a pressão que nossas crianças sentem em uma sociedade que acha normal falar para o filho “Olha só brincando de cuidar do boneco. Certeza que vai ser médico”, “Ah, esse ai vai ser igual ao pai”, “vai ser advogado”... Afinal uma criança só quer enxergar o mundo com sua visão ingênua e divertir-se o máximo que puder.
Seus atores compreendem o que devem fazer e entregam atuações excelentes: Michael Shannon (Roy) consegue transmitir muito bem seu amor paternal para com o filho; Joel Edgerton (Lucas) faz muito bem seu papel como amigo de Roy e suas expressões faciais demonstram certa incerteza naquilo tudo que está fazendo, reforçando ainda mais a amizade entre os dois sem precisar verbalizar ou de flashbacks, Jaeden Lieberher (Alton) transita muito bem entre um menino confuso, cansado de pressões e exausto da longa viagem que estão fazendo para alguém forte que compreende mais o que fala do que os adultos. Os dois maiores destaques com certeza vão para Kirsten Dunst (Sarah) onde praticamente reprisa seu papel em Melancolia, porém com um pouquinho mais de força passa toda a carga que a personagem viveu afastada de alguém que ama apenas com olhares e gestos; e por último Adam Driver (Agente Sevier) demonstra que consegue se livrar de seu papel em Star Wars para fazer outra espécie de vilão com certo fascínio no olhar.
Por fim, Midnight Special e seu diretor Jeff Nichols nos entregam uma experiência divina sobre uma criança que quer apenas ser ela mesma e brincar com outros de sua idade, tudo isso usando um pano de fundo de super herói, drama familiar e discussão religiosa. Infelizmente peca apenas pela trilha sonora que entrega todos os momentos de perigo subindo o som grave.
Nota 5/5.