Viagem pelo fantástico
As histórias de fantasia sempre nos proporcionam deliciosos momentos e O último unicórnio, longa animado dirigido por Jules Bass e Arthur Rankin Jr. em 1982, baseado no romance fantástico de mesmo nome escrito pelo inglês Peter S. Beagle, é um bom exemplo desta afirmação. Feito numa época em que não se dispunha de tantos efeitos especiais, o filme é superior a muitas animações atuais por causa do seu roteiro coerente e personagens fortes e consistentes.
A história é aparentemente simples: unicórnio acredita ser o último da sua espécie, pois há tempos não vê outros, até que uma borboleta lhe diz que os demais unicórnios foram aprisionados pelo rei Haggard, que se valeu de um touro vermelho. Resolvendo partir pelo mundo para resgatá-los, acaba se deparando com perigos inesperados, mas também encontrando ajuda e conhecendo sentimentos que jamais pensaria conhecer.
Em sua jornada, o unicórnio conhece a perversa Mamãe Fortuna, que captura animais e faz as pessoas acreditarem que são seres míticos; o aspirante a mágico Schmendrick, o qual se dispõe a auxiliá-lo a encontrar os unicórnios perdidos e Molly Grue, companheira do líder de um grupo de salteadores que os ajuda a encontrar o caminho do reino de Haggard, que é triste, estéril e sombrio.
O último unicórnio está longe de ser uma simples batalha do bem contra o mal, pois chega um momento em que o unicórnio experimenta uma crise de identidade, esquecendo de sua missão e se tornando vulnerável ao sentir sentimentos tipicamente humanos como dúvida, amor e tristeza. Além disso, o clima da animação é marcadamente sombrio e fatalista, como podemos constatar nas cenas em que o unicórnio diz a Mamãe Fortuna que esta, ao capturar a Harpia, outro ser mítico, encontrou sua morte e quando o mago do rei Haggard lhe diz que ele recebeu seu fim pela porta da frente, dando-nos uma ideia de uma tragédia anunciada.
Pode-se dizer que o fim trágico que está reservado para o rei Haggard é um terrível castigo divino para o fato dele ter aprisionado seres tão fantásticos apenas para o seu divertimento, como uma criança caprichosa que pretenda manipular tudo e todos ao seu bel-prazer.
Outro fator que leva O último unicórnio a destoar dos contos de fadas habituais é que não podemos esperar o típico final feliz, como bem diz o próprio Schmendrick: "Não existem finais felizes, porque nada acaba".Tudo está sempre recomeçando.
Enfim, O último unicórnio é um excelente filme de animação, com bastante magia, aventura, seres fantásticos, amizade, conflitos íntimos e até um pouco de romance, o que não decepcionará os que apreciam as histórias de fantasia.