Sailor Moon Crystal 1: como a lenda começou
SAILOR MOON CRYSTAL 1: COMO A LENDA COMEÇOU
Miguel Carqueija
“O que vai acontecer comigo daqui para a frente?”
(Usagi Tsukino)
Resenha do episódio 1 – “Usagi – Sailor Moon” (Toei Animation, Japão, 2014) do seriado de animação “Sailor Moon Crystal” – criação da personagem e supervisão do animê: Naoko Takeushi. Direção: Munehisa Saka. Sailor Moon (Usagi Tsukino) dublada por Kotono Mtsuishi.
Os grande ícones da ficção, especialmente heróis, costumam ter suas lendas especificadas e que são seguidas nas diversas versões e reatualizações. É o que acontece com Super-Homem, Batman, Tarzan, Fantasma e outros. O Super-Homem, por exemplo, criado em 1938, pode ser atualizado até o século XXI, mas continua tendo sua origem na destruição do planeta Krypton, de onde foi ejetado numa nave interestelar pelo pai, como forma de salvá-lo. O bebê atravessa assim o oceano espacial, vai parar na Terra e é adotado por um casal de fazendeiros norte-americanos , que o criam como filho mesmo sabendo que se trata de um alienígena e descobrindo seus poderes paranormais.
Batman tem sua lenda definida pelo assassinato de seus pais por um assaltante desconhecido, diante do menino Bruce Wayne – que decide tornar-se um combatente contra o crime.
Tarzan e o Fantasma têm as suas lendas relacionadas com o serem largados em terras africanas, onde um é criado por uma gorila, o outro, tendo ido parado lá adulto, naufragado e escapado de piratas, faz o juramento da caveira para também combater o crime – e transmite essa missão a todos os seus descendentes.
Por inverossímeis que sejam esses inícios (o do Batman é o mais aceitável), definem as lendas dos personagens.
A de Sailor Moon, criada em 1991 no Japão, em mangá de Naoko Takeushi, também já foi reaproveitada várias vezes: no animê de 1992-1997, na série em ação viva de 2003-2005 e agora no novo seriado de animação, que se intitula “Sailor Moon Crystal” – o crystal, assim com y, para diferenciar dos outros títulos e referenciar o cristal de prata da história.
Usagi Tsukino é uma menina de 14 anos que porta imensas marias-chiquinhas. Linda, mas estouvada, ela sabe de seus defeitos: chorona, dorminhoca, gulosa, desastrada (ainda nos primeiros minutos do seriado leva o maior tombo da escada de casa), pouco empenhada nos estudos, tira notas baixas. Usagi parece o contrário de uma heroína. Mora com a mãe Ikuko, o pai Kenji e o irmão caçula Shingo, numa bela residência do bairro Azabu-Juuban, em Tóquio, e estuda no colégio Juuban Júnior.
A lenda começa no dia em que Usagi, como de costume, acorda atrasada para ir à escola. Reclama com a mãe por não tê-la chamado (e ela tinha chamado). Veste-se às pressas, nem toma o café da manhã, despede-se da mãe e sai correndo... e Ikuko, que estava lendo as notícias do dia, observa a foto da vigilante Sailor Vênus (que acabara de prender uma quadrilha de ladrões de joalheria) e lamenta que sua filha não seja como aquela heroína misteriosa.
Sailor Vênus, de fato, já agia antes da Sailor Moon.
Usagi corre pela rua, assustada com seu atraso, e de repente tropeça numa gata preta. Espantada, Usagi constata que a bichana está com uns “ban-daids” na testa e aflita por tirá-los. A menina retira o curativo e vê, admirada, que o bichinho tem um sinal de lua crescente na testa. Menina e gata se observam fixamente, qualquer coisa se mexe nas memórias da estudante... mas ela lembra que está se atrasando mais ainda e volta a correr. Nada adianta: ela chega atrasada mesmo e é posta pela professora de castigo, em pé no corredor.
Assim, de forma meio humilhante, principia a lenda da Guerreira do Amor e da Justiça.
Usagi tem a sua dose de frivolidade. Aceita o convite de sua amiga Naru para visitar a joalheria da mãe desta, que está fazendo uma liquidação. Usagi vai lá, esbarra com um rapaz meio estranho com um fraque, roupa inusitada para usar nas ruas. Ela observa o leilão e sai de lá triste, pois sua mesada não daria para comprar mesmo uma jóia em liquidação.
O que ela não sabe nem pode imaginar é que aquela mulher não é a mãe de Naru, só tomou a sua forma, pois foi enviada por Jedyte — personagem do sinistro Reino Escuro — com dois objetivos: absorver a energia dos seres humanos (o que é feito através de jóias enfeitiçadas) e tentar encontrar o cristal de prata. A mãe de Naru foi presa no porão. Naru acaba descobrindo que aquela que lá está não é a sua mãe.
Ao voltar para casa e deitar em sua cama, desanimada com a bronca que a mãe lhe deu por causa da nota 3 no boletim (chegou a ser posta de castigo algum tempo do lado de fora da casa, segundo castigo no mesmo dia), Usagi nem quer fazer a lição de casa. Então a gata do sinal de lua aparece em seu quarto e fala com ela. Usagi não consegue acreditar que uma gata fale (dizendo que ela é uma guerreira escolhida para enfrentar as forças do mal) e se deita, virando de costas para a bichana, certa de que tudo é um sonho. A gata, de nome Luna, só consegue a atenção da garota quando lhe entrega um broche de presente. Usagi se interessa e coloca o broche no pescoço. Luna lhe diz então para pronunciar a frase “Pelo poder do prisma lunar!”
Quando Usagi repete a frase, um prodígio acontece: ela se transforma magicamente, em meio a uma apoteose de cores. E surge pela primeira vez a guerreira Sailor Moon.
Usagi não consegue entender o que está acontecendo, mas seus sentidos subitamente tornados especiais escutam, em algum ponto ao longe, o grito de socorro de Naru, atacada pela yuma (demonio do folclore japonês). Usagi – Sailor Moon, sabe que tem de socorrer sua amiga e para lá se desloca. Ao chegar, porém, diante da yuma que tem a aparência de uma mulher monstruosa, custa a responder à pergunta “Quem é você?”, pois ainda não se acostumou com sua nova identidade. Ela hesita mas as palavras acabam aflorando em seus lábios, como se no fundo já soubesse:
“Sou uma guerreira que luta pelo Amor e pela Justiça! Sou Sailor Moon, e punirei você em nome da Lua!”
Este bordão acompanhará Sailor Moon daqui em diante, nos combates que a esperam.
Entretanto, a coisa não era tão fácil. Sailor Moon ainda não sabia lutar e a gata esquecera de lhe ensinar a técnica, ou supunha que já soubesse. A yuma atiça contra sua adversária as mulheres que estavam na joalheria, agora transformadas em zumbis. Usagi se apavora e grita de medo, e ao fazê-lo detém sem querer o ataque, com um som muito agudo de sua voz. Mas resta a yuma. Luna, apressadamente, avisa Usagi que ela deve retirar a tiara da cabeça — a tiara que faz parte de seu uniforme mágico — gritar “tiara lunar bumerangue!” e lançá-la sobre a inimiga. Usagi faz o que a gata manda: a tiara se transforma num anel de fogo e fulmina a yuma, que se desfaz em pó. Como um bumerangue, a tiara retorna à sua dona.
Alguém mais aparece: um homem com fraque e máscara que, da janela, se identifica como o Tuxedo Kamen (mascarado de fraque) e observa que, mesmo não tendo encontrado o cristal de prata, viu uma coisa interessante. “Tornaremos a nos ver, Sailor Moon” – e dizendo isso vai embora, voando mesmo — não horizontalmente como o Super-Homem, mas verticalmente, de qualquer maneira com a capa esvoaçando. As mulheres se recuperam. Sailor Moon vai embora, mas, já destransformada, ainda acredita ter vivido um sonho. No dia seguinte, porém, vê Naru relatando sua experiência às colegas. E Naru comenta que, antes de desmaiar, viu aparecer uma “sailor guerreira” (não a Sailor V ou Vênus, já se vê) que apareceu para salvá-la.
Usagi, que observou o colóquio sem se aproximar, não tem mais como negar os fatos a sim mesma. Podemos imaginar que, naquela hora, ela pensa ingenuamente: “Por que eu?” E murmura para seus botões: “Aparentemente, não foi um sonho.” E acrescenta, como falando ao vento, pateticamente, pois ninguém virá responder:
“O que vai acontecer comigo daqui para a frente?”
Uma menina de 14 anos, com os defeitos, idiossincrasias e sonhos de qualquer adolescente, foi convocada, por um poder misterioso, para ser uma guardiã da Justiça e combater as forças do mal. Mas por que? Quem é o inimigo que ela deve combater? Por que Luna lhe diz que ela deve encontrar as outras guerreiras e também a Princesa? E o que é o cristal de prata?
Pela posse dessa arma mística, que pode ser usada para o bem ou para o mal, disputarão as guerreiras, de um lado, o Reino Escuro, do outro, e o misterioso Tuxedo Kamen, no meio.
Ainda que, após isso, divirjam em muitos detalhes o mangá e os vários seriados feitos (e Sailor Moon Crystal é o que segue mais fielmente o mangá), este é o início da lenda, mais ou menos igual nas diversas versões.
Rio de Janeiro, 28 de março de 2016.
(imagem do seriado: Sailor Moon empunha o cetro lunar)
SAILOR MOON CRYSTAL 1: COMO A LENDA COMEÇOU
Miguel Carqueija
“O que vai acontecer comigo daqui para a frente?”
(Usagi Tsukino)
Resenha do episódio 1 – “Usagi – Sailor Moon” (Toei Animation, Japão, 2014) do seriado de animação “Sailor Moon Crystal” – criação da personagem e supervisão do animê: Naoko Takeushi. Direção: Munehisa Saka. Sailor Moon (Usagi Tsukino) dublada por Kotono Mtsuishi.
Os grande ícones da ficção, especialmente heróis, costumam ter suas lendas especificadas e que são seguidas nas diversas versões e reatualizações. É o que acontece com Super-Homem, Batman, Tarzan, Fantasma e outros. O Super-Homem, por exemplo, criado em 1938, pode ser atualizado até o século XXI, mas continua tendo sua origem na destruição do planeta Krypton, de onde foi ejetado numa nave interestelar pelo pai, como forma de salvá-lo. O bebê atravessa assim o oceano espacial, vai parar na Terra e é adotado por um casal de fazendeiros norte-americanos , que o criam como filho mesmo sabendo que se trata de um alienígena e descobrindo seus poderes paranormais.
Batman tem sua lenda definida pelo assassinato de seus pais por um assaltante desconhecido, diante do menino Bruce Wayne – que decide tornar-se um combatente contra o crime.
Tarzan e o Fantasma têm as suas lendas relacionadas com o serem largados em terras africanas, onde um é criado por uma gorila, o outro, tendo ido parado lá adulto, naufragado e escapado de piratas, faz o juramento da caveira para também combater o crime – e transmite essa missão a todos os seus descendentes.
Por inverossímeis que sejam esses inícios (o do Batman é o mais aceitável), definem as lendas dos personagens.
A de Sailor Moon, criada em 1991 no Japão, em mangá de Naoko Takeushi, também já foi reaproveitada várias vezes: no animê de 1992-1997, na série em ação viva de 2003-2005 e agora no novo seriado de animação, que se intitula “Sailor Moon Crystal” – o crystal, assim com y, para diferenciar dos outros títulos e referenciar o cristal de prata da história.
Usagi Tsukino é uma menina de 14 anos que porta imensas marias-chiquinhas. Linda, mas estouvada, ela sabe de seus defeitos: chorona, dorminhoca, gulosa, desastrada (ainda nos primeiros minutos do seriado leva o maior tombo da escada de casa), pouco empenhada nos estudos, tira notas baixas. Usagi parece o contrário de uma heroína. Mora com a mãe Ikuko, o pai Kenji e o irmão caçula Shingo, numa bela residência do bairro Azabu-Juuban, em Tóquio, e estuda no colégio Juuban Júnior.
A lenda começa no dia em que Usagi, como de costume, acorda atrasada para ir à escola. Reclama com a mãe por não tê-la chamado (e ela tinha chamado). Veste-se às pressas, nem toma o café da manhã, despede-se da mãe e sai correndo... e Ikuko, que estava lendo as notícias do dia, observa a foto da vigilante Sailor Vênus (que acabara de prender uma quadrilha de ladrões de joalheria) e lamenta que sua filha não seja como aquela heroína misteriosa.
Sailor Vênus, de fato, já agia antes da Sailor Moon.
Usagi corre pela rua, assustada com seu atraso, e de repente tropeça numa gata preta. Espantada, Usagi constata que a bichana está com uns “ban-daids” na testa e aflita por tirá-los. A menina retira o curativo e vê, admirada, que o bichinho tem um sinal de lua crescente na testa. Menina e gata se observam fixamente, qualquer coisa se mexe nas memórias da estudante... mas ela lembra que está se atrasando mais ainda e volta a correr. Nada adianta: ela chega atrasada mesmo e é posta pela professora de castigo, em pé no corredor.
Assim, de forma meio humilhante, principia a lenda da Guerreira do Amor e da Justiça.
Usagi tem a sua dose de frivolidade. Aceita o convite de sua amiga Naru para visitar a joalheria da mãe desta, que está fazendo uma liquidação. Usagi vai lá, esbarra com um rapaz meio estranho com um fraque, roupa inusitada para usar nas ruas. Ela observa o leilão e sai de lá triste, pois sua mesada não daria para comprar mesmo uma jóia em liquidação.
O que ela não sabe nem pode imaginar é que aquela mulher não é a mãe de Naru, só tomou a sua forma, pois foi enviada por Jedyte — personagem do sinistro Reino Escuro — com dois objetivos: absorver a energia dos seres humanos (o que é feito através de jóias enfeitiçadas) e tentar encontrar o cristal de prata. A mãe de Naru foi presa no porão. Naru acaba descobrindo que aquela que lá está não é a sua mãe.
Ao voltar para casa e deitar em sua cama, desanimada com a bronca que a mãe lhe deu por causa da nota 3 no boletim (chegou a ser posta de castigo algum tempo do lado de fora da casa, segundo castigo no mesmo dia), Usagi nem quer fazer a lição de casa. Então a gata do sinal de lua aparece em seu quarto e fala com ela. Usagi não consegue acreditar que uma gata fale (dizendo que ela é uma guerreira escolhida para enfrentar as forças do mal) e se deita, virando de costas para a bichana, certa de que tudo é um sonho. A gata, de nome Luna, só consegue a atenção da garota quando lhe entrega um broche de presente. Usagi se interessa e coloca o broche no pescoço. Luna lhe diz então para pronunciar a frase “Pelo poder do prisma lunar!”
Quando Usagi repete a frase, um prodígio acontece: ela se transforma magicamente, em meio a uma apoteose de cores. E surge pela primeira vez a guerreira Sailor Moon.
Usagi não consegue entender o que está acontecendo, mas seus sentidos subitamente tornados especiais escutam, em algum ponto ao longe, o grito de socorro de Naru, atacada pela yuma (demonio do folclore japonês). Usagi – Sailor Moon, sabe que tem de socorrer sua amiga e para lá se desloca. Ao chegar, porém, diante da yuma que tem a aparência de uma mulher monstruosa, custa a responder à pergunta “Quem é você?”, pois ainda não se acostumou com sua nova identidade. Ela hesita mas as palavras acabam aflorando em seus lábios, como se no fundo já soubesse:
“Sou uma guerreira que luta pelo Amor e pela Justiça! Sou Sailor Moon, e punirei você em nome da Lua!”
Este bordão acompanhará Sailor Moon daqui em diante, nos combates que a esperam.
Entretanto, a coisa não era tão fácil. Sailor Moon ainda não sabia lutar e a gata esquecera de lhe ensinar a técnica, ou supunha que já soubesse. A yuma atiça contra sua adversária as mulheres que estavam na joalheria, agora transformadas em zumbis. Usagi se apavora e grita de medo, e ao fazê-lo detém sem querer o ataque, com um som muito agudo de sua voz. Mas resta a yuma. Luna, apressadamente, avisa Usagi que ela deve retirar a tiara da cabeça — a tiara que faz parte de seu uniforme mágico — gritar “tiara lunar bumerangue!” e lançá-la sobre a inimiga. Usagi faz o que a gata manda: a tiara se transforma num anel de fogo e fulmina a yuma, que se desfaz em pó. Como um bumerangue, a tiara retorna à sua dona.
Alguém mais aparece: um homem com fraque e máscara que, da janela, se identifica como o Tuxedo Kamen (mascarado de fraque) e observa que, mesmo não tendo encontrado o cristal de prata, viu uma coisa interessante. “Tornaremos a nos ver, Sailor Moon” – e dizendo isso vai embora, voando mesmo — não horizontalmente como o Super-Homem, mas verticalmente, de qualquer maneira com a capa esvoaçando. As mulheres se recuperam. Sailor Moon vai embora, mas, já destransformada, ainda acredita ter vivido um sonho. No dia seguinte, porém, vê Naru relatando sua experiência às colegas. E Naru comenta que, antes de desmaiar, viu aparecer uma “sailor guerreira” (não a Sailor V ou Vênus, já se vê) que apareceu para salvá-la.
Usagi, que observou o colóquio sem se aproximar, não tem mais como negar os fatos a sim mesma. Podemos imaginar que, naquela hora, ela pensa ingenuamente: “Por que eu?” E murmura para seus botões: “Aparentemente, não foi um sonho.” E acrescenta, como falando ao vento, pateticamente, pois ninguém virá responder:
“O que vai acontecer comigo daqui para a frente?”
Uma menina de 14 anos, com os defeitos, idiossincrasias e sonhos de qualquer adolescente, foi convocada, por um poder misterioso, para ser uma guardiã da Justiça e combater as forças do mal. Mas por que? Quem é o inimigo que ela deve combater? Por que Luna lhe diz que ela deve encontrar as outras guerreiras e também a Princesa? E o que é o cristal de prata?
Pela posse dessa arma mística, que pode ser usada para o bem ou para o mal, disputarão as guerreiras, de um lado, o Reino Escuro, do outro, e o misterioso Tuxedo Kamen, no meio.
Ainda que, após isso, divirjam em muitos detalhes o mangá e os vários seriados feitos (e Sailor Moon Crystal é o que segue mais fielmente o mangá), este é o início da lenda, mais ou menos igual nas diversas versões.
Rio de Janeiro, 28 de março de 2016.
(imagem do seriado: Sailor Moon empunha o cetro lunar)