Pequena resenha sobre o filme "Life’s a breeze"
O filme conta a história de uma família irlandesa que luta por ficarem todos unidos nos momentos de crise. O preguiçoso e desempregado Colm (Pat Shortt), sua mãe idosa Nan (Fionnula Flanagan) e sua sobrinha Emma (Kelly Thornton) devem superar suas diferenças para lutar contra o tempo e conseguirem encontrar uma fortuna perdida pelas ruas de Dublin. Trata-se na verdade de uma comédia suave e em muitos momentos, com aspectos dramáticos, sobre a família de Nan, cujos filhos resolvem fazer uma limpeza em sua casa, como presente de aniversário e por acreditarem que ela acumula muita coisa inútil, deixando, segundo eles, o ambiente um veradeiro caos. Nesta limpeza, porém, jogam fora um colchão que abrigava todas as economias de sua vida. A partir daí, começa a luta desesperada em procurar o colchão pelas ruas de Dublin.
Neste momento, podemos perceber que toda a harmonia se desfaz numa fúria quase selvagem, na busca descontrolada em achar o tal colchão, mostrando cada qual o seu verdadeiro caráter. Brigam entre si, censuram a mãe, muitas vezes consideram-na uma pessoa demente, pelo avançado da idade e por fim, pensam até em colocá-la num asilo. Apenas a neta de treze anos, que propiciara a limpeza na casa, ajudando-os, ao fazer um passeio com a avó pelas ruas de Dublin, deixando-os à vontade em seu objetivo. Porém, com o decorrer da trama, ela vai entendendo mais a avó e cada vez acredita mais em suas histórias. Sua influência se torna cada vez mais nítida em cada cena.
Percebe-se que o foco do filme se dá sobre as relações familiariares, principalmente entre Nan, a matriarca e o filho que está sempre desempregado, apesar de suas censuras aos demais componentes. Também, como já mencionado, a relação entre ela e Emma, a neta, fica muito consistente, embora discordem em alguns aspectos, mas ocorre sempre uma linha imperceptível de compreensão provocada por situações traumáticas que a vida apresenta, unindo as duas. Em meio a este emaranhado de sentimentos vestidos de amor, intolerância e ganância desenfreada, o cenário que surge com extrema virulência no filme é o estado atual da sociedade irlandesa, um País, que há algum tempo era um exemplo de sucesso econômico na Europa. Tudo ocorre sob o humor leve, mas recheado de elementos fortes de sátira sobre as dificuldades atuais do povo irlandês. Uma sociedade que procura a sua fortuna a qualquer preço e que parece meio perdida em seus princípios da dignidade humana. Afinal, sem explicar muito o filme, retomamos a história de Nan, uma mulher de 78 anos, que após a viuvez e ter visto seus filhos adultos, tem a impressão de que não amadureceram e permanecem presos a sua saia, conformados em viver a vida que lhes é permitida, envolvendo-se no seu cotidiano. Parece que não conseguiram superar o colapso da economia irlandesa e voltaram à casa materna, tal como um dos filhos, que traz toda a família para morar em sua casa. No entanto, o diretor sinaliza com uma mudança positiva, pois na busca desenfreada e insana pelo dinheiro que está no colchão, eles acabam não mais se importando tanto nesta busca e no desfecho, mas na própria viagem que fazem juntos, o que justifica o verdadeiro tesouro. Talvez nem se deem conta disso, mas seus corações ainda batem por um pouco de dignidade e humanidade. A neta Emma, que sempre está ao lado de Nan é uma lufada de ar fresco na trajetória empreendida. Afinal, são polos opostos da vida de duas mulheres que é mostrado ao expectador de forma sutil e comovente. Sinal de que nem tudo está perdido. Um belo filme, que me surpreendeu positivamente.