Uma celebração à vida

Quem está acostumado a associar animação ao universo infantil certamente se surpreenderá ao assistir ao longa A pequena loja de suicídios(Le magasin des suicidés) dirigido pelo francês Patrice Leconte, exibido em 2012 e baseado em livro de Jean Teulé.

Logo no início do filme, somos surpreendidos pelas imagens cinzentas, onde vemos uma cidade francesa feia e sem graça habitada por pessoas invariavelmente emburradas e deprimidas que vão para todos os lugares sem se importar para onde estão indo. Elas apenas vegetam, sem realmente viver. Ao mesmo tempo, outras, cansadas da existência, vão cometendo suicídio, saltando de pontes e viadutos enquanto uma música é cantada.

Em seguida, somos apresentados à loja,cujo proprietário, Mishima Tuvache, homem sombrio, oferece todos os apetrechos possíveis a quem esteja disposto a morrer, desde cordas para se enforcar até espadas japonesas para quem quiser fazer seppuku (ritual dos antigos samurais, também chamado harakiri). O senhor Mishima cuida de sua loja junto com a esposa, Lucrèce, e seus dois filhos, Vincent e Marilyn, crianças depressivas e que nunca sorriem. Segundo os donos, nenhum que procurar seus serviços retornará, o que é uma prova da eficácia dos seus produtos.

Porém, esta rotina está prestes a mudar. Lucrèce está grávida e dá à luz um lindo menino, que mostra que irá bagunçar a vida monótona da família Tuvache: mesmo sendo filho de pais que não riem, dizem que a vida não vale a pena e ganham seu sustento ajudando outros a morrer, o menino é risonho. Isto choca seus pais, que tentam, a todo custo, contaminá-lo com o pessimismo que é a marca registrada da família.

O tempo passa e Alain é um menino alegre e otimista que acha a vida encantadora apesar de viver numa cidade onde praticamente todos os habitantes só pensam em como dar um fim à própria vida, o que nos faz pensar que sua alegria é realmente miraculosa, visto que o ambiente mórbido onde ele está inserido não o afeta. E vamos vendo que ganhar a vida vendendo a morte não deixa de afetar sua família: seus pais pensam em cometer suicídio e sua irmã sempre se pergunta por que não pode cortar as veias.

A história começa a chegar ao clímax quando Alain, junto com seus amigos, começa a elaborar um plano para acabar com os suicídios, algo que inevitavelmente se chocará com os valores cultivados pela família Tuvache, levando a um final surpreendente.

Se o filme de Leconte peca pelo exagero na alegria de Alain e na mensagem de que basta mudar de atitude para que tudo comece a melhorar em nossa vida, ele acerta ao nos dizer que se deve dar uma chance ao amor e à alegria, mostrando-nos que, em vez de nos fecharmos em uma atitude sorumbática e nos deleitar com a tristeza, devemos nos abrir ao que há de belo e nos permitir ser felizes.

Além desta mensagem de celebração à vida, A pequena loja de suicídios nos brinda com números musicais primorosos, desenhos bem-feitos e uma história que se desenrola de forma inesperada, revelando que podemos reencontrar nossas razões para viver onde menos imaginamos.