BLUE DROP 11 Thoroughwort: crise entre Hagino e Mari

BLUE DROP 11 THOROUGHWORT: CRISE ENTRE HAGINO E MARI
Miguel Carqueija


Disposta a eliminar a rebelde, Shibariel, em sua nau capitânea estacionada a alguma distância da Terra, ordena nova retaliação contra a nave Blue de Ekaryl, aproveitando que a mesma foi gravemente danificada pela sabotagem de Azanael. Para piorar a situação a leal imediata Tsubael, único apoio que resta a Ekaryl, luta sozinha para consertar os danos e tornar a nave novamente operável, pois a comandante está em seu aposento, chorando copiosamente por ter perdido aquilo que tinha de mais importante na vida – a amizade da menina terrestre, Wakatake Mari, abalada pelas venenosas revelaçãos feitas por Azanael. Mari agora sabe que seus pais e mais de 800 pessoas moradoras da ilha Kamioki morreram em consequência da pane que atingiu a nave Blue comandada por Ekaryl, a quem ela conhece pelo cognome terrestre de Senkouji Hagino. Aquela que salvara a sua vida... mas deixara morrerem os seus pais. Ao se retirar da nave oculta no mar, Mari ainda escuta a humilde observação de Tsubael: “Eu realmente sinto muito pelo que aconteceu mas acredite, foi um acidente inevitável. Você poderia não culpar mais a Comandante?” Mari não responde e vai embora.
Mas a decepção de Mari em relação a Hagino não impede que acontecimentos terríveis estejam na iminência de acontecer na Terra: a invasão das poderosas Arumes está iminente. Nesse contexto, uma inesperada intervenção: a oficial Onomil, que morrera na explosão de energia da Blue cinco anos antes, aparece em espírito à comandante, em plena crise. Ekaryl pede-lhe perdão, mas Onomil responde docemente: “Por favor, não se culpe tanto assim.” Ekaryl entende que deve continuar lutando. É preciso proteger Mari, e além disso há todo um planeta para salvar. O Planeta Terra, dos horimes (humanos terrestres), que Ekaryl deseja salvar a todo custo.


Resenha do capítulo 11, Thoroughwort, — do seriado japonês de animação “Blue drop” (A gota azul) (Tenshitashi no gikyoko), do estúdio Asashi Production (2007) com direção de Masahiko Koohkura. Criação original em mangá de Akihito Yoshitomi.


“Tu que já foste líder de um exército inteiro... Tu que és detentora de tal beleza... Por que ninguém consegue vê-la? Mas ela está logo ali.”
(da peça teatral de Kouzuki Michiko, fala da personagem representada por Wakatake Mari)

“Ei, Joana! Faça alguma coisa! Algo que somente eu consiga ver... seu olhar... seu sorriso...”
(idem – Mari pensa em Hagino enquanto ensaia a peça, estranhamente analógica)

“Joana, a tristeza e a dor porque você tem passado, eu as compreendo um pouco.”
(idem)

“Meu eu atual não pode ir ao seu encontro e não pode mais ouvir a sua voz. Mas Joana, você permanece entre nós, certo? Você ainda ouve a minha voz, certo? Por isso, Joana, se houver alguma chance de ainda nos encontrarmos eu estarei com você novamente, Joana...”
(idem)


Com perfeito domínio da pontuação dramática, Akihito Yoshitomi e demais realizadores de “Blue drop” realizaram verdadeira obra-prima e este capítulo 11 é primoroso na maneira como explora os sentimentos dos seres humanos, terrestres e extraterrestres, mesmo em meio a um drama de proporções incalculáveis. Afinal, a Terra está sob uma ameaça inédita e terrificante, pois o alto comando das arumes pretende controlar os horimes (isto é, nós) por milhares de anos, numa escravidão sem fim. A humanidade terrestre ainda ignora o perigo que corre, e as arumes confiam em sua tecnologia superior, afinal elas são capazes de navegar pelo espaço entre as estrelas.
Sugawara Yuuko, a sensei que também é agente do governo, tendo já descoberto a origem extraterrestre da estudante Hagino (ou seja, Ekaryl) aproveitando o reaparecimento da menina, chama-a em seu gabinete e, apontando-lhe uma arma de fogo, intima-a a contar a verdade. A genialidade da história repousa em grande parte no fato de serem as arumes uma raça de mulheres-clones, vindas de um planeta onde já não existiam homens; portanto Ekaryl na verdade é uma mulher adulta com aparência de adolescente, e só Deus sabe qual é a sua idade. Mas essa aparência possibilitou a Ekaryl infiltrar-se entre os terrestres e até numa escolar feminina (a Academia Kalhou) e Mari, na verdade, só consegue vê-la como outra menina.
Hagino resolve contar a verdade, humildemente. Revela a Yuuko que a Terra será invadida pelas arumes. “Mas você é uma delas”, diz Yuuko. “Não, você está enganada. Eu desejo proteger este planeta.” “Mas como assim? A Terra irá se defender.” “É inútil, com a força dos horimes.” Ekaryl convence a professora a esperar pelo menos o Festival Escolar, no dia seguinte, quando será representada a esperada peça de Michiko sobre Santa Joana Darc.

Uma peça que curiosamente em certos trechos parece se referir a Hagino... numa trágica premonição.
Ekaryl/Hagino é uma heroína doce e triste. Ela sabe que a Terra, em princípio, não tem tecnologia para enfrentar as arumes. Mas fica evidente que Hagino ainda tem esperança, que ainda tem uma carta na mão, e que a usará. Mas como poderá, quase sozinha, deter a força de sua própria espécie, da qual se tornou uma renegada?
Antes de retornar à academia, precisando voltar à nave, Hagino tentou conversar com Mari, mas esta se mostrou indignada: “Você não sabe como eu me sinto!” Tendo sabido por Yuuko (a quem peitou para que lhe revelasse o passado) que seus pais tinham sido encontrados mortos, abraçados na praia, após o cataclismo (ela própria perdera a memória, até dos pais), e que essa e as demais mortes tinham sido provocadas pela nave alienígena, não se acha pronta a perdoar Hagino.
Esta, logo está lutando pela vida, com Tsubael, já que a Blue é violentamente atacada por uma força enviada por Shibariel. A utilização de arma pesada, que destruirá a espaçonave, surpreende Azanael, que não concorda mas não recebe explicação satisfatória de Shibariel. A Blue, quase inoperante, está na iminência de ser destruída... mas subitamente volta a funcionar normalmente e reage destruindo as atacantes. Ekaryl avista Onomil num dos controles e entende que o espírito de sua amiga viera trazer uma ajuda. Receber uma tal graça anima Ekaryl a prosseguir em sua luta pela justiça e pelo amor.
Enquanto isso Azanael, a bordo da nave capitânea, investiga e descobre o resto da verdade sobre o incidente de cinco anos atrás: que a pane fôra provocada por sabotagem do próprio alto comando, interessado em testar o efeito da “força drive” em arumes e horimes.
Em última análise a grande culpa não era de Ekaryl, mas de Shibariel... descoberta essa que leva Azanael a mudar de lado.


imagem da série (Wakatake Mari)