A RELIGIOSA
 
(La Religieuse – França, Alemanha, Bélgica – 2013)

nair lúcia de britto 
Trata-se de uma nova adaptação para o cinema, da obra literária do escritor francês Denis Diderot. A primeira adaptação foi em 1966 sob a direção de Jacques Rivette. Nesta versão de 2013, a direção do filme coube a Guillaume Nicloux.
Para melhor entender o filme creio ser necessário saber um pouco sobre o livro que inspirou o filme e sobre quem o escreveu.

Segundo pesquisa, o que inspirou Diderot a escrever este livro foi um acontecimento real, cuja  notícia se espalhou por toda Europa. Uma religiosa buscava através da Justiça revogar seus votos, alegando que só estava enclausurada num convento por imposição da sua família.  
A notícia chamou a atenção do Marquês de Croismare, que era um dos amigos do escritor. Reunidos comentavam o fato, em tom de brincadeira; até que Diderot resolveu se esclarecer melhor sobre a história; que culminaria num dos seus livros mais célebres. Pelo que eu entendi, o escritor misturou fatos reais com outros criados por sua imaginação.
Segundo informações, Diderot tinha por característica primeiro  escrever e, só depois, refletir sobre o que escrevera. Nesta obra, ele questionou sobre as religiosas que eram obrigadas pelos próprios pais a serem freiras, sem que tivessem nenhuma  vocação: o que representava uma injustiça de ordem social.
Sob o ponto de vista religioso, as freiras deveriam servir a Deus de livre e espontânea vontade. Mas, naquela época, “estavam a serviço da Igreja, do homem, do mundo e suas injustiças”.
Os questionamentos do escritor impediram que sua obra fosse publicada; e a mesma só foi liberada para publicação doze anos depois da morte do escritor, em 1796.

Segundo a Curva dos Livros (blog de literatura), “A Religiosa, é uma obra rica de diálogos, de frases curtas, de vivacidade, de pitoresco; demonstrando, mais do que qualquer outra, a riqueza do estilo de Diderot”.   
 
Achei interessante  falar sobre o livro de Diderot antes de comentar sobre o filme porque, pelo meu olhar observador, concluí o quanto essa produção cinematográfica foi fiel à produção literária, conservando a mesma riqueza de detalhes, a mesma beleza e a mesma pureza; transmitindo, inclusive,  a mesma mensagem que o escritor quis transmitir.
 
A personagem de Suzanne Simonin (magistralmente interpretada por Pauline Etienne), apesar de toda sua luta para se livrar função religiosa,  mostra-se uma mulher de intenso caráter, grande dignidade e coragem. Sobrepõe-se, portanto, quanto à conduta, a todas outras freiras.
Ao assistir o filme, o espectador reforça dentro de si o que é uma grande realidade. Que a verdadeira riqueza do ser humano não está nas suas vestes, nem no berço de ouro, nem no ambiente em que vive e em nenhum dos seus bens materiais; mas, sim, na sua essência.
 
Hoje eu posso entender o celibato dos verdadeiros religiosos. A vocação religiosa é um chamado de Deus. Assim como um pianista tem uma necessidade imperiosa de se debruçar sobre o piano, esquecido do mundo; ou um bailarino que sangra seus pés, ignorando a dor, para se dedicar à dança; assim também é a vocação religiosa.
 
Uma vontade imensa de ser puro, de se despojar de todos os prazeres terrestres para trabalhar para sua evolução espiritual, a serviço de Deus e do amor ao próximo. A exemplo de São Francisco de Assis.    

 
Segundo à Veja, o filme concorreu no Festival de Berlim de 2013 e foi muito bem recebido pela Crítica.
É um filme maravilhoso e as músicas sacras são lindas! 

Nota da autora:
Este filme não tem um caráter de fundo religioso; mas, sim, social. Narra o que acontecia à mulher que não se casava, no século XVIII. A personagem teve a dignidade de se recusar a ser o que não era: uma freira. 

 
Nair Lúcia de Britto
Enviado por Nair Lúcia de Britto em 19/11/2014
Reeditado em 22/03/2015
Código do texto: T5041350
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