Coppola e as Vanguardas: Um olhar sobre Drácula de Bram Stoker

Adaptar um filme a partir de um livro não é fácil, principalmente uma obra que, assim como seu personagem, venceu o teste do tempo, tornando-se um clássico.

A obra imortal do irlandês Bran Stoker é uma das histórias mais vividas na sétima arte. Com tantos filmes e livros contando e recontando o mito do vampiro, como inovar nesse tema? O roteirista James Hart e a genialidade de Francis Ford Coppola acharam a resposta revivendo os primórdios do cinema.

Drácula foi publicado no mesmo período do surgimento dessa nova forma de entretenimento com imagens em movimento. A sutileza em alterar o conto original para transformá-lo em uma história de amor eterno, foi magistralmente filmada por Coppola de forma a brincar com as vanguardas da época.

A luz e sombra aos clássicos moldes do expressionismo da república de Weimar ao cuidado com a cenografia e uso de transposições, à Louis Delluc e seu cinema pela arte. Momentos surrealistas no castelo do conde com ratos e perfumes desobedecendo às leis da física. A cereja do bolo é a homenagem ao cinematógrafo, com uma breve cena filmada com menos quadros, passando a impressão de imagens aceleradas típicas do primeiro cinema.

Essa ambientação com o uso das vanguardas já faz de Drácula uma obra impar, mas Coppola nos apresenta mais, como apresentou no fantástico “O poderoso Chefão”.

O bom uso da narração em off nos mantém próximos do clima do livro. A luz e transparências são os maiores aliados do diretor, assim como o uso da câmera. Um contra plogée destacando a transformação do príncipe da Valáquia ou um plano aberto atenuando a pequenez de um inseguro Harker ao chegar ao castelo do Conde. Ora acompanhamos a cena como um expectador neutro, ora tomamos os olhos da fera pelas ruas de Londres. A cor externar o desenvolvimento dos personagens, como, por exemplo, a mudança na jovem Mina, antes e depois do contato com o misterioso Conde.

Gary Oldman dá vida a um Drácula confiante e poderoso. Seu sotaque forte ao conversar com mina nos remete a alguém fora de seu mundo. Sua postura nos lembra do glamour de outrora. A transformação em fera rendeu um Oscar para a equipe de maquiagem, assim como a elegância nos figurinos e do primoroso uso do som para intensificar medos e emoções.

Buscando ser o mais fiel possível à obra original, o Drácula de Coppola é um filme que resgata um mito e o redesenha para novas gerações. É uma homenagem ao cinema e toda sua linguagem. É uma história de amor que enfrentou oceanos de tempos para ser contada.