TESE SOBRE UM HOMICÍDIO - comentário
Uma tese é uma obra inacabada, aberta. É rascunho e exercício de uma escrita que se põe à prova. O corpo de uma tese leva no seu bojo a possibilidade de antíteses num jogo dialético que ultrapassa limites e abre fronteiras.
O filme argentino “TESE SOBRE UM HOMICÍDIO”, dirigido por Hermán Goldfrid, mostra Buenos Aires a partir da imagem panorâmica da faculdade de direito. O discurso da narrativa segue o mesmo plano aberto e geral quando o objetivo é ostentar a arquitetura clássica das tramas dos filmes policiais.
Um corpo de mulher jovem, deixado no estacionamento da faculdade, acaba por envolver o professor advogado criminalista, cinquentão charmoso, e aposentado interpretado por Roberto Bermudez. A investigação segue a trilha dos detalhes, nenhuma lógica parece satisfazer a busca pelo criminoso. Uma das melhores cenas que “justificam a necessidade do crime” está na sequencia que nos leva até o museu onde a obra de Pablo Picasso ganha retrospectiva. Ali o suspeito surpreende o investigador e o convida para se deliciar com um quadro específico. Não é “Guernica” (a mutilação ali é apenas especulação para o grande público idiota, segundo a personagem). Deparamo-nos diante de um quadro que representa a crucificação de Jesus. O Jovem ensina ao homem maduro como ler os objetos representados no quadro - em êxtase, conclui: o sacrifício é necessário.
O filme parece contrariar os planos cartesianos que conduzem a história de forma linear quando a narrativa se completa com cenas que acontecem na cabeça do protagonista. A síntese que quase formulávamos se torna, mais uma vez, em tese. E a trama continua...
As melhores sequências parecem sonho, delírio de alcoólatra ou anseio de psicopata – e não sabemos, por fim, se a “motivação” seria mesmo uma possível paternidade negligenciada.
O filme parece ser a obsessão de revelar o crime perfeito. Sem conclusão o desfecho faz jus ao nome do filme.