Série de TV - ALÉM DA IMAGINAÇÃO
Republicação
Houve há muitos anos, na TV, uma série chamada ALÉM DA IMAGINAÇÃO, cujos filmes contavam histórias insólitas, muitas vezes de terror, algumas verdadeiramente de arrepiar.
Não saberia relembrar aqui nenhum daqueles enredos, à exceção de um, de notável ingenuidade do ponto de vista da proposta, de muito mais notável acuidade no impacto da sua cena final. Senão, vejamos:
"Um velho senhor, inveterado amante dos livros, sem família, sem amores de qualquer natureza, anônimo bancário, tinha por hábito encerrar-se dentro de um cofre do Banco, no horário do almoço, para exercer, a sós consigo mesmo, sua volúpia toda particular, a de ler, sempre armado com formidável par de óculos de tal espessura, que não se podia saber da existência de olhos por debaixo deles, óculos."
"Certo dia, exatamente igual a todos os outros, nosso cavalheiro, demasiadamente absorvido na leitura, ultrapassou de muito o horário do almoço. Ao sair, enfim, do cofre, deparou-se, de chofre, com a ausência do mundo tal como o havia deixado há algumas poucas horas. Era tudo agora, apenas escombros."
"Com extrema dificuldade foi caminhando entre os entulhos e as gentes, todas mortas, no interior do Banco. No mundo externo, a paisagem era a mesma: não mais prédios, nem homens, nem animais, nem plantas vivas."
"E foi caminhando pela cidade de mortos, ele também sentindo-se, sabendo-se um morto-vivo, o único vivo-morto dos mortais. Entre os escombros de uma lanchonete, achou muito para comer, mas, é claro, nenhuma razão para continuar, em um mundo de só mortos."
"Andando... andando... andando... mais do que a esmo... de repente ei-lo diante do milagre absoluto: toda uma ala da velha biblioteca permanecera intacta. E ele pensou: "Estou salvo." "
"Ergueu os olhos para as estantes bem-amadas com seu tesouro incomensurável, a mantê-lo vivo para sempre. Aí, abaixou-se para buscar um volume, talvez de um dos clássicos, Virgílio, Horácio, Dante... Neste instante, o inexorável destino derrubou-lhe os óculos, irremediavelmente estilhaçados sobre o chão do Mundo Perdido."
Escrita na tarde de 06 de dezembro de 2011.
Não saberia relembrar aqui nenhum daqueles enredos, à exceção de um, de notável ingenuidade do ponto de vista da proposta, de muito mais notável acuidade no impacto da sua cena final. Senão, vejamos:
"Um velho senhor, inveterado amante dos livros, sem família, sem amores de qualquer natureza, anônimo bancário, tinha por hábito encerrar-se dentro de um cofre do Banco, no horário do almoço, para exercer, a sós consigo mesmo, sua volúpia toda particular, a de ler, sempre armado com formidável par de óculos de tal espessura, que não se podia saber da existência de olhos por debaixo deles, óculos."
"Certo dia, exatamente igual a todos os outros, nosso cavalheiro, demasiadamente absorvido na leitura, ultrapassou de muito o horário do almoço. Ao sair, enfim, do cofre, deparou-se, de chofre, com a ausência do mundo tal como o havia deixado há algumas poucas horas. Era tudo agora, apenas escombros."
"Com extrema dificuldade foi caminhando entre os entulhos e as gentes, todas mortas, no interior do Banco. No mundo externo, a paisagem era a mesma: não mais prédios, nem homens, nem animais, nem plantas vivas."
"E foi caminhando pela cidade de mortos, ele também sentindo-se, sabendo-se um morto-vivo, o único vivo-morto dos mortais. Entre os escombros de uma lanchonete, achou muito para comer, mas, é claro, nenhuma razão para continuar, em um mundo de só mortos."
"Andando... andando... andando... mais do que a esmo... de repente ei-lo diante do milagre absoluto: toda uma ala da velha biblioteca permanecera intacta. E ele pensou: "Estou salvo." "
"Ergueu os olhos para as estantes bem-amadas com seu tesouro incomensurável, a mantê-lo vivo para sempre. Aí, abaixou-se para buscar um volume, talvez de um dos clássicos, Virgílio, Horácio, Dante... Neste instante, o inexorável destino derrubou-lhe os óculos, irremediavelmente estilhaçados sobre o chão do Mundo Perdido."
Escrita na tarde de 06 de dezembro de 2011.