"A ESCOLHA DE SOFIA" E OUTRAS CONSIDERAÇÕES
 
 
          Sobre A ESCOLHA DE SOFIA, filme dos EUA, de 1982, protagonizado por Meryl Streep, com direção de Alan J. Pakula.
 
REPUBLICAÇÃO, COM ACRÉSCIMO ESCRITO NO DIA DE HOJE, 6 DE AGOSTO DE 2014: O PRIMEIRO PARÁGRAFO.
 



                As guerras são todas iguais em seu HORROR, sejam quais forem os tempos históricos, ou continentes, ou povos nelas envolvidos. Em tempos de recrudescimento (com trégua momentânea neste agora) da guerra na Faixa de Gaza, da qual guardo a terrífica imagem de uma menina palestina de uns quatro anos a tapar o rosto da sua boneca para que ela, sua boneca, não veja a cena dantesca ao redor de ambas... Neste ano de 2014, em que se “comemoram” 100 anos do início da Primeira Guerra Mundial, venho republicar essa breve resenha de um dos filmes que mais me marcaram a vida, o “A Escolha de Sofia”, espécie de documento do DANTESCO de todas as guerras e, também, no presente agora, do maior horror, para mim, do mais incompreensível horror de todos: a vítima de hoje pode ser o carrasco de amanhã. Assim ocorreu, por exemplo, com a civilização asteca: os espanhóis, que chegaram para destruir-lhe a História, destruíram a História de uma civilização que se ergueu dizimando povos indígenas mais fracos... E assim tem seguido, ao longo dos tempos, essa barbárie chamada História... Assim tem seguido. Ainda que haja explicações (além das históricas), também de natureza espiritual para tal “olho por olho, dente por dente” nada, nenhuma razão, mesmo espiritual - a meu ver - pode “suavizar” o medonho panorama da guerra; de todas, de cada uma das guerras.
    

 
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        Anos... após o fim da II Guerra Mundial, uma mulher de origem polonesa, sobrevivente a campo de concentração, sobrevive, no além da guerra, com seu amante e um amigo, que também a cobiça, todos terrivelmente problemáticos. Vamos acompanhando o ruir progressivo do mundo interior deles e, consequentemente, das suas relações com o mundo exterior. Uma mulher a viver em situação de permanente tragédia, uma verdadeira personagem de tragédia grega, de mito sobre cuja existência não me recordo de jamais ter lido nada (o que não quer dizer que ele, mito, não exista nessa, a grega, e, talvez, em alguma outra tradição mítica).
        Um momento do passado explica-lhe a causa, a causa dessa vida trágica: Vemos a mesma mulher, fugitiva, com seus dois filhos, ambos muito pequenos (uma menina e um menino) a embarcarem, clandestinamente, em um trem, tentando escapar ao horror nazista. Não o conseguem. Um guarda a descobre e lhe propõe (claro, não me lembro das palavras, assisti a este filme há muitos anos): "Escolha um de seus filhos para o sacrifício e eu garanto que a senhora segue, a salvo, com o outro filho". Ela, após um tempo de desesperada agonia, acaba por gritar: “Leve a minha garotinha" e consegue partir, com o filho (que também morreria, algum tempo depois, na guerra); consegue, para a "liberdade".
 
     Sem qualquer espécie de julgamento, que a nós pobres, falíveis e pecadores por herança e... destino... tal julgamento não pode nem deve caber, gostaria, apenas, de deixar aqui três indagações, sob a ótica da questão da escolha pessoal diante de situação-limite:
 
I-   De quantos abismos pode ser composta a alma humana?
II- 1. O que pode ter levado essa mãe a fazer tal escolha, em nível inconsciente ou em qualquer outro nível?
   2. De que outras possibilidades de escolha poderia dispor essa desgraçada mãe (no sentido daquele que perdeu ou que não dispõe da Graça)?
 
 
      “A Escolha de Sofia” narra Um EXEMPLO do HORROR DAS GUERRAS. Apenas um exemplo...
 
 
Texto original escrito na manhã de 5 de março de 2010, com o primeiro parágrafo escrito no início desta presente tarde de 06 de agosto de 2014.