Johnny vai à guerra
Volta da guerra, o que sobrou do corpo de um rapaz explodido por uma bomba, em batalha. Não tem mais braços, pernas, nem rosto. Não tem mais olhos, nariz, boca, e está completamente surdo. De seus sentidos, resta o tato. No mais, permanece vivo e saudável sobre um leito de hospital. Alimenta-se por um tubo.
Incomodou-me, no filme, a excessiva consciência do rapaz ao descobrir sua condição. Membros amputados continuariam doendo e coçando; na história, o rapaz consegue deduzir muito mais do que, de fato, teria conseguido, descobrindo não ter braços, pernas, olhos...
Imerso em uma escuridão total e silenciosa, incapaz de se comunicar, imóvel, a vida do jovem se transforma em um pesadelo interminável. A monotonia absoluta da escuridão silenciosa é rompida apenas eventualmente pelo toque de uma enfermeira, único evento perceptível, única sensação capaz de revelar a passagem do tempo. Fora essa tênue noção de realidade, apenas pesadelos sucessivos, e a impotência absoluta.
Reina, no filme, a total impotência de um jovem brutalmente mutilado. Imóvel, cego, surdo, mudo, transformado em um monstro sem rosto, nenhuma esperança lhe resta. A completa desesperança perpassa todos os médicos e enfermeiros a cuidar eventualmente do que restou de um corpo. Há otimismo na compaixão que tão pavoroso resto inspiraria.
O filme trata da perplexidade, tristeza e impotência de um jovem engolido por um pesadelo que se apossa de toda a sua vida.