O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (Análise e Crítica)

O que faz de um super-herói, cuja principal habilidade é apenas a de lançar teias, ser referência do gênero há 52 anos ininterruptos de sucesso? Simples: ter o seu lado humano e normal muito mais atrativo do que as performances de seu alter-ego. Distraído, tímido, atrapalhado, vulnerável, inocente, íntegro, essas características do seu caráter formam aquilo que mais cativa na interpretação de Andrew Garfield, a personificação perfeita de Peter Parker.

Todo seu jeito de ser que nós leitores e fãs sonhamos em ver, desde a primeira trilogia, de forma natural e divertida, o ator expõe na tela. Apesar de ser um personagem de quadrinhos [que, queiram ou não, ainda é vítima de alguns preconceitos], ele consegue sim ser engraçado, emocionar e até – por que não? – levar um ou outro às lágrimas. O restante do elenco também está bem afiado e transporta aquele universo dos gibis de forma convincente para as telas. A química com Emma Stone (que interpreta Gwen Stacy) é excelente desde o longa passado, assim como a relação cheia de amor e respeito com Sally Field (ótima na pele da Tia May).

Porém, esta continuação da película de 2012 apresenta alguns problemas. E o mais evidente está no roteiro, pelo excesso de subtramas [o mistério envolvendo os pais de Peter, a separação do casal, a perseguição ao assassino do tio, a morte de Norman Osborn, o retorno do amigo Harry, entre outras], que em sua maioria não são concluídas, continuando com pontas soltas e muito a ser resolvido nos próximos dois filmes da franquia.

Os vilões merecem um parágrafo a parte. O principal deles, o antagonista Electro (Jamie Foxx), até traz uma premissa legal [a questão do bullying e as consequências de sempre ser inferiorizado], mas é mal aproveitado e se transforma em um personagem não cativante, cuja motivação para o mal não passa de um pretexto banal para justificar sua atitude. Acertaram ao mudarem o visual tradicional que ele apresenta na HQ, que, no cinema, ficaria meio ridículo. Mas a forma como ele se liberta e principalmente como é derrotado são simplistas demais para quem tem tanto poder, o que demonstra ou pouca criatividade ou necessidade de não se estender muito em um filme que deseja apresentar um todo de três malfeitores.

Apesar do trauma que o público teve com o desastroso “Homem-Aranha 3” (de Sam Raimi, de 2007), neste é necessário dizer que os outros dois vilões (Duende Verde e Rino) são introduzidos de forma inteligente à trama, contextualizada e harmônica, montando um todo coeso, que culminará no Sexteto Sinistro [uma espécie de gangue de vilões que se unem para destruir o Aranha, que frequentemente aparece nas histórias]. Inclusive, uma das grandes incertezas foi a escalação de Dane DeHaan para ficar na pele de Harry Osborn/Duende Verde. Porém, o ator faz um ótimo trabalho, se destaca em todas as cenas em que está presente e promete ser um grande obstáculo na vida do fotógrafo.

São muitas as referências às HQ’s, e, igualmente a elas, mais uma vez se percebe que os dilemas vividos pelo quase adulto Peter Parker são imensamente mais interessantes que as aventuras cheias de ação e situações improváveis do Homem-Aranha. Os voos panorâmicos são muito bem explorados pelo 3D, tal como os efeitos visuais que impressionam, embora em certos momentos possam soar um tanto artificiais por se aproximarem muito à estética dos games. Por outro lado, são as emoções embaladas pela mais uma vez linda trilha sonora que aproximam o espectador dos dramas vividos por um rapaz de quem todos gostariam de ser amigo.

Em suma, este segundo capítulo não é narrativamente uniforme, pode ser visto como um pouco inferior e não deixar tanto um gostinho de “quero mais”, muito embora o final seja inovador e muito corajoso por ser fiel aos quadrinhos. Mesmo assim desperta curiosidade para o que ainda virá, uma vez que fica claro de que há bastante história ainda para se contar e segredos a se revelar. Certeza garantida de bom entretenimento!

Nota: 7,5.