ANTES DO PÔR-DO-SOL
Nota do Site: 5/ 5
Em 1995, Richard Linklater conseguiu a proeza de realizar um filme simples tecnicamente mas de incontestável força narrativa e de completa empatia com os espectadores que, como eu, tiveram o privilégio de acompanhar a história de Jesse e Céline, dois completos desconhecidos que, num específico dia em Viena, decidem passar algumas horas em companhia um do outro antes de suas vidas tomarem rumos diferentes. Porém, a impulsividade juvenil não permitiu que ambos trocassem telefones nem endereços, levando os dois jovens a se reencontrarem apenas 09 anos depois, quando Jesse encontra-se em Paris para divulgar seu livro, completamente baseado em sua experiência em Viena, o que o leva a reencontrar sua antiga paquera no momento em que ele está prestes a retornar para os Estados Unidos.
Colocados mais uma vez numa situação incomum onde ambos possam passar alguns instantes na companhia do outro antes do momento da partida, Jesse e Céline, embora “velhos” conhecidos, sentem de imediato o peso daquela conexão interrompida e, como não poderia deixar de ser, surgem ligeiramente desconfortáveis um ao lado outro, mesmo que este desconforto gradualmente se converta na antiga química que magicamente os uniu em Viena. Aliás, antes desse antigo entrosamento se estabelecer, o roteiro de Richard Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy é hábil em recuperar a importância daquele momento em Viena ao trazer Jesse e Céline em flashbacks do primeiro filme enquanto Jesse responde para os jornalistas presentes na livraria o enredo de seu livro. E quando Céline surge, em seu campo de visão, é com uma inegável emoção que Jesse a observa. E o melhor, também somos levados pela mesma satisfação.
A partir daí, o casal nos leva para um passeio pelos arredores de Paris enquanto ambos trocam informações sobre o que fizeram neste período de 09 anos, em que trabalham, se se relacionaram com outras pessoas, se são felizes pessoal e profissionalmente, etc. E é fantástico como os diálogos deste novo projeto soam ainda bem mais espontâneos e improvisados do que o filme anterior, o que demonstra o carinho de Hawke e Delpy pelos seus personagens bem como o domínio narrativo que estes têm por eles. Quanto a Linklater, ao optar por uma trama que se desenvolve quase que em tempo real, traz ao projeto uma urgência bem maior do que Antes do Amanhecer, já que, como espectadores, intuímos desde o início que aquele encontro brevíssimo pode não dar o tempo suficiente para os dois “matarem” o tempo perdido!
E se neste novo filme é raríssimo a interação dos protagonistas com os transeuntes (algo fabuloso no filme anterior), há novas e sutilíssimas estratégias responsáveis por pequenos momentos que nos dão a sensação exata de espontaneidade exigida pelo roteiro, como pessoas apenas passando ou esbarrando nos protagonistas, Céline interrompendo Jesse para lhe mostrar qual rua tomar ou a folha caindo em frente de Jesse, que o leva por um milésimo de segundo, a olhá-la enquanto Céline conversa com ele. São momentos brevíssimos mas que fazem toda a diferença ao projeto como um todo. E como não admirar os inúmeros momentos em que Jesse e Céline tentam fazer carinho um no outro, recuando no último instante por puro pudor?
E se no filme anterior a cena passada no parque era melancólica por trazer a constatação inevitável de que ambos se separariam nas horas seguintes e talvez nunca mais se encontrariam, desta vez são as cenas passadas no barco em viagem pelo Sena e dentro do carro em direção à casa de Céline que o roteiro nos permite presenciar a frustração de ambos pelo caso não-desenvolvido dos dois. Na primeira cena, é Jesse mesmo brincando, afirmando que escreveu um livro numa tentativa desesperada de encontrar Céline. Na segunda cena, é a vez de Céline afirmar que ler o livro de Jesse a fez encarar a frustração de seus relacionamentos, tudo porque num dia em Viena ela se permitiu a arroubos românticos que agora evita com quem quer que seja. E é de partir o coração vermos nossa querida Julie Delpy pronunciar estas palavras com lágrimas nos olhos.
Entretanto, é na cena seguinte que vem a recompensa, quando em seu quarto Céline toca para Jesse uma música que certamente Céline compôs em sua homenagem, mesmo Céline negando a seguir. Aliás, isso é fantástico em Antes do Pôr-do-Sol, pois cada vez que algum dos personagem faz determinada declaração essa é negada a seguir, dizendo se tratar de uma brincadeira, o que dá ao filme uma sutil ambiguidade que lhe dá ainda mais charme. E se no filme anterior a cena final trazia os protagonistas se despedindo, desta vez é mais do que eficaz encerrar este filme num final em aberto que, passando longe do anti-clímax, dá ao espectador a incumbência de concluir uma história que pela segunda vez nos encantou profundamente.
A partir daí, o casal nos leva para um passeio pelos arredores de Paris enquanto ambos trocam informações sobre o que fizeram neste período de 09 anos, em que trabalham, se se relacionaram com outras pessoas, se são felizes pessoal e profissionalmente, etc. E é fantástico como os diálogos deste novo projeto soam ainda bem mais espontâneos e improvisados do que o filme anterior, o que demonstra o carinho de Hawke e Delpy pelos seus personagens bem como o domínio narrativo que estes têm por eles. Quanto a Linklater, ao optar por uma trama que se desenvolve quase que em tempo real, traz ao projeto uma urgência bem maior do que Antes do Amanhecer, já que, como espectadores, intuímos desde o início que aquele encontro brevíssimo pode não dar o tempo suficiente para os dois “matarem” o tempo perdido!
E se neste novo filme é raríssimo a interação dos protagonistas com os transeuntes (algo fabuloso no filme anterior), há novas e sutilíssimas estratégias responsáveis por pequenos momentos que nos dão a sensação exata de espontaneidade exigida pelo roteiro, como pessoas apenas passando ou esbarrando nos protagonistas, Céline interrompendo Jesse para lhe mostrar qual rua tomar ou a folha caindo em frente de Jesse, que o leva por um milésimo de segundo, a olhá-la enquanto Céline conversa com ele. São momentos brevíssimos mas que fazem toda a diferença ao projeto como um todo. E como não admirar os inúmeros momentos em que Jesse e Céline tentam fazer carinho um no outro, recuando no último instante por puro pudor?
E se no filme anterior a cena passada no parque era melancólica por trazer a constatação inevitável de que ambos se separariam nas horas seguintes e talvez nunca mais se encontrariam, desta vez são as cenas passadas no barco em viagem pelo Sena e dentro do carro em direção à casa de Céline que o roteiro nos permite presenciar a frustração de ambos pelo caso não-desenvolvido dos dois. Na primeira cena, é Jesse mesmo brincando, afirmando que escreveu um livro numa tentativa desesperada de encontrar Céline. Na segunda cena, é a vez de Céline afirmar que ler o livro de Jesse a fez encarar a frustração de seus relacionamentos, tudo porque num dia em Viena ela se permitiu a arroubos românticos que agora evita com quem quer que seja. E é de partir o coração vermos nossa querida Julie Delpy pronunciar estas palavras com lágrimas nos olhos.
Entretanto, é na cena seguinte que vem a recompensa, quando em seu quarto Céline toca para Jesse uma música que certamente Céline compôs em sua homenagem, mesmo Céline negando a seguir. Aliás, isso é fantástico em Antes do Pôr-do-Sol, pois cada vez que algum dos personagem faz determinada declaração essa é negada a seguir, dizendo se tratar de uma brincadeira, o que dá ao filme uma sutil ambiguidade que lhe dá ainda mais charme. E se no filme anterior a cena final trazia os protagonistas se despedindo, desta vez é mais do que eficaz encerrar este filme num final em aberto que, passando longe do anti-clímax, dá ao espectador a incumbência de concluir uma história que pela segunda vez nos encantou profundamente.