A VIAGEM DE CHIHIRO
Nota do Site: 5/ 5
Atenção: contém spoilers!
A Viagem de Chihiro é um filme que mexe com nossa subjetividade. Quando criança, o individuo interage apenas no espaço em que vive, produzindo referências a partir das experiências vivenciadas naquele ambiente e incorporando-as ao seu imaginário infantil. É uma estratégia adotada, mesmo que inconscientemente, como forma de lidar com o mundo externo, que ainda não vivenciou. Este filme em questão, ao trazer uma história repleta de fantasmas e lugares fantásticos, estimula diretamente este imaginário, sendo eficiente justamente em conceber uma belíssima lição de moral ao final da “viagem”.
Escrito e dirigido pelo mestre Hayao Miyazaki, o filme conta a história de Chihiro, uma jovem de pouco mais de 10 anos que está na estrada com seus pais, de mudança. Aborrecida pelo fato de ter que deixar seus amigos e tudo o que conhece para trás, sua viagem logo toma novo rumo quando um desvio na estrada os leva a um túnel que logo desperta a curiosidade dos pais e a apreensão imediata da menina. Julgando se tratar de um parque temático abandonado, os pais de Chihiro logo iniciam a exploração do lugar, deparando-se com um banquete e pondo-se a comer freneticamente. Enquanto isso, Chihiro encontra o jovem Haku, que explica que aquele lugar se trata de uma casa de banhos para fantasmas, sendo proibida a permanência dela ali após o pôr-do-sol. Tarde demais. Enquanto foge de espectros que surgem de todos os lados, a garota descobre que os pais transformaram-se em porcos e ela está presa naquele lugar. Enquanto busca um jeito de sair dali com a ajuda de Haku, Chihiro precisa servir fielmente à bruxa Yubaba, administradora da casa de banhos, antes que ela mesma e seus pais transformem-se em comida para fantasmas.
Embora ostente a “classificação livre”, este filme de Miyazaki é de longe um filme que será compreendido tanto pelo público infantil quanto pelos adultos, uma vez que a narrativa traz um tom que varia entre o sombrio e o estranho, representando um verdadeiro pesadelo. Contudo, mesmo adotando um estilo fantástico e bizarro, o filme converte-se em seus momentos-chave, numa fábula moral admirável. Chihiro, por exemplo, para sobreviver naquele universo enquanto busca voltar à sua realidade precisa obedecer cegamente às determinações de Yubaba (cujos traços lembram, curiosamente, uma madrasta má cabeçuda), além disso, por várias vezes a garota é levada a escolher entre o modo mais fácil ou o modo correto de se fazer as coisas (talvez esse seja o papel do personagem Sem Face) e, ainda por cima, precisa confiar em desconhecidos que podem, dependendo das motivações, ser maléficas ou oportunistas, embora outros personagens cumpram a função tradicional de auxiliar a protagonista. Além disso, é curioso o comportamento dos pais de Chihiro no começo do filme, cuja imprudência lembra duas crianças desobedientes e traquinas.
E sendo A Viagem de Chihiro um filme baseado num cenário fantástico, por diversas vezes pensei (com minha imaginação impregnada por referências hollywoodianas) que toda aquela narrativa não passaria de um sonho da protagonista e que a mesma despertaria ao final, surpresa e aliviada, o que para minha surpresa e satisfação não foi o caso, já que tudo aquilo pelo qual Chihiro passara era, sim, real (no contexto do filme, claro!), embora reconheça que as transformações passadas pela garotinha revelavam, sim, uma transformação moral que iria acompanhá-la a partir dali, uma solução que se sai bem por não cair na tentação de nos trapacear em prol de um choque superficial e medíocre e que certamente corria o risco de acontecer, se caso o filme fosse um produto de Hollywood. Além disso, a música tocada durante os créditos finais evoca justamente essa idéia de “lembranças esquecidas”, o que reforça a idéia do quão poderoso e plausível é o imaginário infantil, mas que não resiste à implacável inevitabilidade do tempo e do crescimento, físico e psicológico.
Seja como for, o que fica desta experiência é a forte sensação provocada por seus cenários, personagens e situações, num ambiente que poderia perfeitamente ser nosso próprio imaginário. Afinal, quem, em sua infância, nunca imaginou viajar e desbravar lugares desconhecidos e imprevisíveis, assim como Chihiro fizera?
Escrito e dirigido pelo mestre Hayao Miyazaki, o filme conta a história de Chihiro, uma jovem de pouco mais de 10 anos que está na estrada com seus pais, de mudança. Aborrecida pelo fato de ter que deixar seus amigos e tudo o que conhece para trás, sua viagem logo toma novo rumo quando um desvio na estrada os leva a um túnel que logo desperta a curiosidade dos pais e a apreensão imediata da menina. Julgando se tratar de um parque temático abandonado, os pais de Chihiro logo iniciam a exploração do lugar, deparando-se com um banquete e pondo-se a comer freneticamente. Enquanto isso, Chihiro encontra o jovem Haku, que explica que aquele lugar se trata de uma casa de banhos para fantasmas, sendo proibida a permanência dela ali após o pôr-do-sol. Tarde demais. Enquanto foge de espectros que surgem de todos os lados, a garota descobre que os pais transformaram-se em porcos e ela está presa naquele lugar. Enquanto busca um jeito de sair dali com a ajuda de Haku, Chihiro precisa servir fielmente à bruxa Yubaba, administradora da casa de banhos, antes que ela mesma e seus pais transformem-se em comida para fantasmas.
Embora ostente a “classificação livre”, este filme de Miyazaki é de longe um filme que será compreendido tanto pelo público infantil quanto pelos adultos, uma vez que a narrativa traz um tom que varia entre o sombrio e o estranho, representando um verdadeiro pesadelo. Contudo, mesmo adotando um estilo fantástico e bizarro, o filme converte-se em seus momentos-chave, numa fábula moral admirável. Chihiro, por exemplo, para sobreviver naquele universo enquanto busca voltar à sua realidade precisa obedecer cegamente às determinações de Yubaba (cujos traços lembram, curiosamente, uma madrasta má cabeçuda), além disso, por várias vezes a garota é levada a escolher entre o modo mais fácil ou o modo correto de se fazer as coisas (talvez esse seja o papel do personagem Sem Face) e, ainda por cima, precisa confiar em desconhecidos que podem, dependendo das motivações, ser maléficas ou oportunistas, embora outros personagens cumpram a função tradicional de auxiliar a protagonista. Além disso, é curioso o comportamento dos pais de Chihiro no começo do filme, cuja imprudência lembra duas crianças desobedientes e traquinas.
E sendo A Viagem de Chihiro um filme baseado num cenário fantástico, por diversas vezes pensei (com minha imaginação impregnada por referências hollywoodianas) que toda aquela narrativa não passaria de um sonho da protagonista e que a mesma despertaria ao final, surpresa e aliviada, o que para minha surpresa e satisfação não foi o caso, já que tudo aquilo pelo qual Chihiro passara era, sim, real (no contexto do filme, claro!), embora reconheça que as transformações passadas pela garotinha revelavam, sim, uma transformação moral que iria acompanhá-la a partir dali, uma solução que se sai bem por não cair na tentação de nos trapacear em prol de um choque superficial e medíocre e que certamente corria o risco de acontecer, se caso o filme fosse um produto de Hollywood. Além disso, a música tocada durante os créditos finais evoca justamente essa idéia de “lembranças esquecidas”, o que reforça a idéia do quão poderoso e plausível é o imaginário infantil, mas que não resiste à implacável inevitabilidade do tempo e do crescimento, físico e psicológico.
Seja como for, o que fica desta experiência é a forte sensação provocada por seus cenários, personagens e situações, num ambiente que poderia perfeitamente ser nosso próprio imaginário. Afinal, quem, em sua infância, nunca imaginou viajar e desbravar lugares desconhecidos e imprevisíveis, assim como Chihiro fizera?