Robocop (2014) - Crítica
Engana-se quem acha que a grande estrela do longa é o policial-robô e o dilema homem versus máquina. Ou então os competentes efeitos especiais. Ou ainda a inserção de um diretor brasileiro nas grandes produções hollywoodianas. Nada disso. A grande estrela de “Robocop” sem dúvida é o sempre magnífico Samuel L. Jackson, tanto que com ele o filme se inicia e também termina.
Seu personagem, propositalmente caricato, dá o tom político à produção e representa todo o poder que a mídia tem de manipular os fatos em prol de seus interesses quase sempre partidários e duvidosos. Suas poucas participações como âncora de um programa televisivo são as melhores sequências do filme e garantem momentos divertidos além de boas risadas, simplesmente por ele estar perfeito no papel.
Fora este personagem, até se tenta discutir política e levantar algum questionamento, mas o lado “pipoca” fala mais alto e tudo quase sempre termina em tiros e perseguições, antevistos graças a um roteiro previsível e com muito menos pretensão se comparado às entrevistas para divulgação dadas pelo diretor, que continua mantendo a câmera nervosa e a estética nas cenas de ação muito parecida com aquela que acompanhamos nos dois “Tropa de Elite”.
Ao reger a produção, José Padilha não decepciona e deixa claro que é um profissional muito talentoso, não somente para os padrões brasileiros como também para os americanos. Encarou a responsabilidade de dirigir um longa com orçamento de 100 milhões e, mesmo ainda não apresentando uma característica mais própria, se mostra proposto a aprender e se aperfeiçoar. Os amantes dos jogos com certeza irão se deliciar com as sequências de ação, fortemente inspiradas nos games e muito interativas.
Mesmo tendo no elenco nomes de peso como Gary Oldman e Michael Keaton, que por sua vez não conseguem destaque, os outros atores são medianos e as interpretações chegam a incomodar de tão rasas e vezes ruins mesmo, obtendo-se ao final uma película pouco emotiva (o que justamente contrasta com a ideia de que as emoções humanas deveriam se sobrepor às insensibilidades da máquina).
Joel Kinnaman, como protagonista, não faz feio e através dos gestos (principalmente com o olhar) transmite ao espectador tanto a ausência como a contenção das emoções. Talvez depois de Jackson seja o melhor em cena. Ruim mesmo está Abbie Cornish, que “interpreta” a esposa do policial. Agora com muito mais destaque que na película original, a atriz é fraca e seu único artifício é fazer cara feia para tentar transmitir raiva, ou tremer a cabeça numa apelação ridícula a fim de passar nervosismo.
Mas nada é tão decepcionante como o clímax. O roteiro em si é redundante, se apóia demais nas referências originais e demonstra presença zero de criatividade. Com tudo isso o público mereceria uma resolução pelo menos à altura do que se propunha o remake. Sem ficar claro se o personagem de Keaton era realmente vilão ou não, o desfecho é simplório e inexpressivo. Diria mais: vergonhoso mesmo.
Com todos seus prós e contras, deve fazer a alegria daqueles que realmente só buscam entretenimento, o que por sinal não é nenhum pecado. Consegue divertir, é cheio de referências à mitologia original, renova alguns elementos e tem lá os seus bons momentos. Que o nosso brasileiro consiga destaque e sucesso na terra do Tio Sam.
Nota: 6,5.