O LADO BOM DA VIDA
Nota do Site: 2/ 5
O Lado Bom da Vida é uma comédia romântica que tenta passar por drama e, no processo, acabou conquistando a simpatia de Hollywood para o Oscar, graças ao incrível “Que Indica” (Q.I) de David O. Russel dentro da Academia. Seja como for, as oito indicações conseguidas não se justificam, sobretudo as categorias de ator, atriz, ator coadjuvante e atriz coadjuvante, muito embora Bradley Cooper e Jennifer Lawrence funcionem como protagonistas, graças à química apresentada.
Escrito pelo próprio Russel, o filme gira em torno de Pat (Bradley Cooper) que, diagnosticado como bipolar após agredir o amante de sua esposa, passa oito meses numa clínica psiquiátrica e, depois de um acordo judicial, consegue a liberdade. Obcecado em retomar seu casamento e, sem perceber esta impossibilidade, Pat acaba conhecendo a jovem viúva Tiffany (Jennifer Lawrence) que, ainda em luto, estabelece de imediato uma relação com Pat que, mesmo parecendo estranha no início, vai aos poucos evoluindo para uma afinidade maior, embora ela encontre, no processo, a resistência do persistente Pat, que ainda nutre um forte desejo pela ex-esposa.
Concebido desde o começo como comédia, O Lado Bom da Vida, mesmo estabelecendo uma estratégia visual que sugere um tom mais documental ao utilizar uma constante câmera na mão sempre próxima dos atores, não consegue fugir em momento algum dos clichês do gênero, com todos os seus personagens unidimensionais e suas situações particulares. Assim, quando a câmera, logo após o happy end, finalmente se afasta dos atores (num zoom out nada elegante, diga-se de passagem) e numa montagem nada original passa a revisitar as locações vistas durante o filme, fiquei sinceramente contrariado ao perceber a clara referência à Antes do Amanhecer, numa alusão que irrita pela obviedade e que só não é mais grave porque a cena não se alonga mais, e, enfim, o filme acaba, de fato.
Mais me antecipo. O interessante ao escrever sobre esse filme é mesmo levantar especulações sobre o porquê ele foi levado tão a sério. Não que ele seja uma daquelas comédias românticas piegas e artificiais. Na verdade, como passatempo despretensioso o filme funciona muito bem. Vejam por exemplo a cena em que Tiffany explica à Pat sua fase “promíscua”: mesmo narrando de um jeito que chocaria qualquer interlocutor, é hilário a forma curiosa e receptiva a forma como o personagem recebe as informações da parceira. Aliás, a composição de Cooper para o personagem é digna de aplausos, já que o fato de Pat não medir o que fala e tampouco conseguir conter sua inconveniência é algo que sempre nos deixa apreensivos a respeito das suas atitudes futuras, diferente de Tiffany, cuja promiscuidade pós-luto não se sustenta justamente por causa da implausibilidade disso, que não nos sugere verossimilhança alguma. E se nos interessamos na relação entre os protagonistas, é porque de algum jeito – não me pergunte qual – ficamos interessados no pronto restabelecimento de Pat, mesmo que ele tenha que enfrentar um universo de personagens improváveis e situações implausíveis.
Além disso, a narrativa secundária mostra-se uma tremenda bagunça, como por exemplo, o desnecessário personagem de Chris Tucker, que basicamente encarna o amigo trapalhão que, toda vez que se vê em liberdade, acaba voltando graças às mentiras que conta para sair. Quanto a Robert de Niro, este só conseguiu indicação ao Oscar porque a Academia parece estar sinceramente empenhada em resgatar a carreira do ator do limbo ao qual este se submeteu nos últimos anos, estrelando bobagens piores do que este mediano filme.
Depois de falar tão mal do filme, fica a impressão de que nada aqui presta, o que não é verdade, já que temos sim, bons momentos, como por exemplo o ensaio de dança entre Pat e Tiffany, ao som da belíssima Girl from de North Country, de Bob Dylan e Johnny Cash; a briga entre De Niro e Cooper, onde um ansioso Pat está em crise, e que só não foi melhor porque O. Russel insistiu em finalizar esta seqüência com uma cena cômica que prejudicou a nossa experiência. Além disso, a cena do número de dança entre os protagonistas, no terceiro ato, mostrou-se eficaz graças ao aspecto de amadorismo dada à dança dos dois.
E como não poderia deixar de ser, esta cena também é sabotada pela situação clichê onde o mocinho corre atrás da mocinha momentaneamente decepcionada depois de ver o seu “amado” falando algo ao ouvido da ex-esposa, Nikki. Aliás, David O. Russel só escreveu essa cena para permitir esse “clímax” tão comum nos filmes do gênero, criando um draminha boboca e passageiro, ao som de uma trilha adocicada qualquer.
Resolvendo o arco narrativo desta maneira, não há como dar créditos a esse filme. Se optasse por conduzi-lo como um drama mais contundente a respeito de um homem bipolar em recuperação e, no processo, pontuasse sua história com pequeníssimas doses de humor aqui e ali, talvez o resultado tivesse sido outro. Mas do jeito que está O Lado Bom da Vida não passa mais do que um mero entretenimento de Sessão da Tarde.
Escrito pelo próprio Russel, o filme gira em torno de Pat (Bradley Cooper) que, diagnosticado como bipolar após agredir o amante de sua esposa, passa oito meses numa clínica psiquiátrica e, depois de um acordo judicial, consegue a liberdade. Obcecado em retomar seu casamento e, sem perceber esta impossibilidade, Pat acaba conhecendo a jovem viúva Tiffany (Jennifer Lawrence) que, ainda em luto, estabelece de imediato uma relação com Pat que, mesmo parecendo estranha no início, vai aos poucos evoluindo para uma afinidade maior, embora ela encontre, no processo, a resistência do persistente Pat, que ainda nutre um forte desejo pela ex-esposa.
Concebido desde o começo como comédia, O Lado Bom da Vida, mesmo estabelecendo uma estratégia visual que sugere um tom mais documental ao utilizar uma constante câmera na mão sempre próxima dos atores, não consegue fugir em momento algum dos clichês do gênero, com todos os seus personagens unidimensionais e suas situações particulares. Assim, quando a câmera, logo após o happy end, finalmente se afasta dos atores (num zoom out nada elegante, diga-se de passagem) e numa montagem nada original passa a revisitar as locações vistas durante o filme, fiquei sinceramente contrariado ao perceber a clara referência à Antes do Amanhecer, numa alusão que irrita pela obviedade e que só não é mais grave porque a cena não se alonga mais, e, enfim, o filme acaba, de fato.
Mais me antecipo. O interessante ao escrever sobre esse filme é mesmo levantar especulações sobre o porquê ele foi levado tão a sério. Não que ele seja uma daquelas comédias românticas piegas e artificiais. Na verdade, como passatempo despretensioso o filme funciona muito bem. Vejam por exemplo a cena em que Tiffany explica à Pat sua fase “promíscua”: mesmo narrando de um jeito que chocaria qualquer interlocutor, é hilário a forma curiosa e receptiva a forma como o personagem recebe as informações da parceira. Aliás, a composição de Cooper para o personagem é digna de aplausos, já que o fato de Pat não medir o que fala e tampouco conseguir conter sua inconveniência é algo que sempre nos deixa apreensivos a respeito das suas atitudes futuras, diferente de Tiffany, cuja promiscuidade pós-luto não se sustenta justamente por causa da implausibilidade disso, que não nos sugere verossimilhança alguma. E se nos interessamos na relação entre os protagonistas, é porque de algum jeito – não me pergunte qual – ficamos interessados no pronto restabelecimento de Pat, mesmo que ele tenha que enfrentar um universo de personagens improváveis e situações implausíveis.
Além disso, a narrativa secundária mostra-se uma tremenda bagunça, como por exemplo, o desnecessário personagem de Chris Tucker, que basicamente encarna o amigo trapalhão que, toda vez que se vê em liberdade, acaba voltando graças às mentiras que conta para sair. Quanto a Robert de Niro, este só conseguiu indicação ao Oscar porque a Academia parece estar sinceramente empenhada em resgatar a carreira do ator do limbo ao qual este se submeteu nos últimos anos, estrelando bobagens piores do que este mediano filme.
Depois de falar tão mal do filme, fica a impressão de que nada aqui presta, o que não é verdade, já que temos sim, bons momentos, como por exemplo o ensaio de dança entre Pat e Tiffany, ao som da belíssima Girl from de North Country, de Bob Dylan e Johnny Cash; a briga entre De Niro e Cooper, onde um ansioso Pat está em crise, e que só não foi melhor porque O. Russel insistiu em finalizar esta seqüência com uma cena cômica que prejudicou a nossa experiência. Além disso, a cena do número de dança entre os protagonistas, no terceiro ato, mostrou-se eficaz graças ao aspecto de amadorismo dada à dança dos dois.
E como não poderia deixar de ser, esta cena também é sabotada pela situação clichê onde o mocinho corre atrás da mocinha momentaneamente decepcionada depois de ver o seu “amado” falando algo ao ouvido da ex-esposa, Nikki. Aliás, David O. Russel só escreveu essa cena para permitir esse “clímax” tão comum nos filmes do gênero, criando um draminha boboca e passageiro, ao som de uma trilha adocicada qualquer.
Resolvendo o arco narrativo desta maneira, não há como dar créditos a esse filme. Se optasse por conduzi-lo como um drama mais contundente a respeito de um homem bipolar em recuperação e, no processo, pontuasse sua história com pequeníssimas doses de humor aqui e ali, talvez o resultado tivesse sido outro. Mas do jeito que está O Lado Bom da Vida não passa mais do que um mero entretenimento de Sessão da Tarde.