DJANGO LIVRE
Nota do Site: 5/ 5
Django Livre, o novo filme de Quentin Tarantino, é uma declarada homenagem ao western original estrelado por Franco Nero em 1966. Nesta nova roupagem, a narrativa conta, entre tiros e explosões, a história do escravo Django (Jamie Foxx) que, adquirido num leilão, é logo comprado, alforriado e recrutado pelo caçador de recompensas King Schultz (Christoph Waltz), para juntos perseguirem e capturarem um grupo de irmãos procurados pela polícia, estabelecendo-se, a partir daí, uma sociedade em busca de novos “contratos”. Neste ínterim, enquanto aperfeiçoa suas habilidades como pistoleiro, Django fica sabendo do destino de sua esposa, Brunhilde (Kerry Washington), comprada pelo fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), pondo logo os dois parceiros no encalço deste imprevisível fazendeiro.
Trazendo já nos créditos iniciais a clássica música eternizada por Luiz Bacalov (além do mesmo layout de créditos da obra original), o roteiro de Quentin Tarantino mostra-se mais comedido em relação à utilização de referências pop e cinéfilas, restringindo-as à estupenda trilha sonora que mesclam com eficiência faixas que vão do pop ao rap, junto às músicas do filme original. Além disso, a forma ensaiada e espalhafatosa com que os tiroteios e explosões vistos ao longo da trama foram encenados dão o tom de absoluto exagero com que o diretor pontuou seu filme, dando-lhe uma roupagem moderna e jovial.
Concebendo seqüências ancoradas no humor negro e no bizarro, e apoiados por diálogos memoráveis em sua construção, Django Livre tem também a seu favor um elenco afiadíssimo cujo domínio interpretativo é claramente de Christoph Waltz, com uma composição que oscila entre o cinismo e o pragmatismo, passando gradualmente à um sujeito que vai se modificando em contato com as barbaridades que presencia. Enquanto isso, Jamie Foxx, embora ofuscado por Waltz, compõe com talento um indivíduo que usa o ódio reprimido para conseguir sucesso na parceria com Schultz enquanto aprende a dissimular a fim de adquirir a atenção de seu antagonista, Calvim Candie. E quando Foxx finalmente rouba a cena, vemos surgir uma pequena joia de cinismo e destruição. Enquanto isso, Leonardo DiCaprio, como Calvim Candie, encarna um sujeito de modos ligeiramente afetados e trajes bem desenhados, que escondem um indivíduo frio e violento que explode quando desafiado, algo visto, por exemplo, na fabulosa cena onde Candie “autopsia” um crânio (!). E ainda temos a ponta especial de Franco Nero, trocando diálogos com Foxx numa cena passada num bar.
Usando de seqüências ultra violentas, sobretudo àquelas envolvendo escravos, o roteiro de Tarantino é hábil em explorar, além da brutalidade escravagista, também a dissimulação e o perigo de alguns personagens negros, como o interessante criado Stephen (Samuel L. Jackson, quase irreconhecível), cuja dedicação exacerbada ao patrão Candie esconde um indivíduo frio e perigoso. Além disso, a postura de Django no destino do escravo D’artagnan choca pela frieza e pragmatismo com que ele a encara.
Mas o principal destaque do filme é mesmo a direção afiadíssima de Quentin Tarantino, criando seqüências sangrentas e repletas de humor negro, como corpos sendo usados como escudos e indivíduos já atingidos que continuam a receber tiros enquanto rolam pelo chão! Além disso, Tarantino ainda nos brinda com momentos fabulosos, como o plongé mostrando determinado personagem, entre corpos e rifles, ser rendido após um tiroteio, ou aquele onde o protagonista açoita um capanga que havia sido seu feitor, num claro momento de catarse. E como não mencionar o hilário colóquio entre fazendeiros e que envolvem simplórias máscaras ao estilo Ku Klux Klan? E o que dizer sobre a sangrenta seqüência final?
Bem menos contido em sua necessidade de homenagear o cinema, Quentin Tarantino nos entregou uma história que nos faz rir pelo cinismo e pela lógica particular de seus personagens, além de nos chocar pela frieza e pela brutalidade dos tiroteios/ assassinatos. Mas acima de tudo, Tarantino nos brindou com uma narrativa pujante que faz jus ao original que o inspirou. Ele é um exagerado sim, mas de inegável talento cênico.
Trazendo já nos créditos iniciais a clássica música eternizada por Luiz Bacalov (além do mesmo layout de créditos da obra original), o roteiro de Quentin Tarantino mostra-se mais comedido em relação à utilização de referências pop e cinéfilas, restringindo-as à estupenda trilha sonora que mesclam com eficiência faixas que vão do pop ao rap, junto às músicas do filme original. Além disso, a forma ensaiada e espalhafatosa com que os tiroteios e explosões vistos ao longo da trama foram encenados dão o tom de absoluto exagero com que o diretor pontuou seu filme, dando-lhe uma roupagem moderna e jovial.
Concebendo seqüências ancoradas no humor negro e no bizarro, e apoiados por diálogos memoráveis em sua construção, Django Livre tem também a seu favor um elenco afiadíssimo cujo domínio interpretativo é claramente de Christoph Waltz, com uma composição que oscila entre o cinismo e o pragmatismo, passando gradualmente à um sujeito que vai se modificando em contato com as barbaridades que presencia. Enquanto isso, Jamie Foxx, embora ofuscado por Waltz, compõe com talento um indivíduo que usa o ódio reprimido para conseguir sucesso na parceria com Schultz enquanto aprende a dissimular a fim de adquirir a atenção de seu antagonista, Calvim Candie. E quando Foxx finalmente rouba a cena, vemos surgir uma pequena joia de cinismo e destruição. Enquanto isso, Leonardo DiCaprio, como Calvim Candie, encarna um sujeito de modos ligeiramente afetados e trajes bem desenhados, que escondem um indivíduo frio e violento que explode quando desafiado, algo visto, por exemplo, na fabulosa cena onde Candie “autopsia” um crânio (!). E ainda temos a ponta especial de Franco Nero, trocando diálogos com Foxx numa cena passada num bar.
Usando de seqüências ultra violentas, sobretudo àquelas envolvendo escravos, o roteiro de Tarantino é hábil em explorar, além da brutalidade escravagista, também a dissimulação e o perigo de alguns personagens negros, como o interessante criado Stephen (Samuel L. Jackson, quase irreconhecível), cuja dedicação exacerbada ao patrão Candie esconde um indivíduo frio e perigoso. Além disso, a postura de Django no destino do escravo D’artagnan choca pela frieza e pragmatismo com que ele a encara.
Mas o principal destaque do filme é mesmo a direção afiadíssima de Quentin Tarantino, criando seqüências sangrentas e repletas de humor negro, como corpos sendo usados como escudos e indivíduos já atingidos que continuam a receber tiros enquanto rolam pelo chão! Além disso, Tarantino ainda nos brinda com momentos fabulosos, como o plongé mostrando determinado personagem, entre corpos e rifles, ser rendido após um tiroteio, ou aquele onde o protagonista açoita um capanga que havia sido seu feitor, num claro momento de catarse. E como não mencionar o hilário colóquio entre fazendeiros e que envolvem simplórias máscaras ao estilo Ku Klux Klan? E o que dizer sobre a sangrenta seqüência final?
Bem menos contido em sua necessidade de homenagear o cinema, Quentin Tarantino nos entregou uma história que nos faz rir pelo cinismo e pela lógica particular de seus personagens, além de nos chocar pela frieza e pela brutalidade dos tiroteios/ assassinatos. Mas acima de tudo, Tarantino nos brindou com uma narrativa pujante que faz jus ao original que o inspirou. Ele é um exagerado sim, mas de inegável talento cênico.