“Cidade dos Anjos”(City of Angels)
“Cidade dos Anjos”(City of Angels)
Houve um tempo em que cinema era uma pílula mágica, mágica e devastadora ao mesmo tempo, dependia apenas de quem manejava a varinha.
Rodado em 88, ouso dizer que se não for o top, está milimetricamente perto disso – melhor papel de Nicolas Cage – o anjo Seth.
O espetáculo abre com uma menininha de 9 anos, no máximo, pronta para fazer a transição, sua mãe ainda tenta o hospital, há uma equipe médica dando tudo de si, Cage observa, em seu rosto há o desenho de um sorriso, e como que por encanto a menina já está ao seu lado e ambos saem de mãos dadas pelo corredor.
Ele pergunta pra ela:
- Do que você mais gostava?
- De pijamas – responde ela.
Adaptado da obra de Wim Wenders, City... leva o espectador a surfar nos conceitos propostos, do início ao fim, sendo que no início temos uma panorâmica de L.A., com seu trânsito e neuras urbanas, inclusive de ordem policial, tudo visto do alto e, mesmo assim, dá o que pensar sobre as linhas gerais de uma cidade do primeiro mundo.
Brad Silberling dirige o todo cujo roteiro foi confeccionado a 4 mãos (inclusive as de Wenders), e com menos de 6 minutos de filme já está comunicado ao público que a cidade pulula de anjos, que eles conversam entre si, abraçam os despercebidos humanos, se vestem de preto e assistem em uníssono o nascer e o por do sol.
Nesses 6 minutos já vemos os primeiros diálogos de Seth com Cassiel, vivido pelo afro americano André Braugher. Irão conversar o filme inteiro.
Que ninguém duvide do poder de comunicação do cinema, em especial antes de seu obituário (em torno de 2010...), pois quando ele quer comunicar “4”, ele não diz 2+2.
Culturas, digamos, mais acanhadas, sentiram certo incômodo em ver Meg Ryan de mochila, óculos escuros, descendo de bike pelas ruas da metrópole, usando roupas esportivas dos pés a cabeça para em seguida entrar num hospital e perfazer uma cirurgia. Vapt vupt. Sem vossa excelência, sem formulários. Imagine, 1988...O próprio lay-out da Meg, nessa época e independente da indumentária, vendia muito mais do que ousa almejar a indústria da beleza, em qualquer tempo.
E assim temos o alicerce - Nicolas Cage e Meg Ryan – ele anjo, ela humana, ambos vão se lançar na experiência do entrelaçamento. Nicolas quer saber qual a sensação de um abraço sólido. Meg ainda não experimentara o amor num estado menos banal do que o suposto habitual.
Tão logo a cirurgiã Ryan chega no hospital ela passa por uma experiência transformadora. Seu paciente morre na mesa.
Não sei se você está familiarizado com a teoria de que médicos, às vezes, brincam de Deus. Também desconheço se você tem familiaridade com outra teoria, que externa “Se realmente dependêssemos de Deus, sería-nos difícil bancar o Deus perante nossos semelhantes”. Ora, estamos falando de Deus visto ser este um filme sobre anjos. E horas e horas após o paciente da Meg ter saltado pro outro lado – Seth estava à sua espera – aliás, foi assim que os protagonistas se conheceram na trama, enfim, Meg confessa para uma amiga: se nada disso está nas minhas mãos, e agora?
Taí um questionamento vital pra todo e qualquer humano, curador ou aspirante à cura.
Deixando a teologia de lado por um instante, chegou a hora de dizer de que se trata “Cidade...”. Chico Xavier explicava que cada espírito está numa “faixa de compreensão” e que todo mundo no incrível planetinha faz parte de uma só família. “Cidade...” é um filme de amor. Ponto. Parte das 7 bilhões de compreensões individuais terrenas curte um “Romeu&Julieta”, com aquele drama todo e os cadáveres no final. Ora, alguma parte curtiu a empreita de Silberling&Wenders, que por sinal faturou 19 prêmios numa pá de certames.
As primeiras cenas dos primeiros encontros íntimos entre o anjo Cage e a cirurgiã Ryan são uma apologia ao lado singelo da vida. Eles conversam. Ninguém ali está querendo vender nada pra ninguém. Cage pega o braço esquerdo dela e desce com a ponta de seu indicador direito, até a palma da mão. Ele pergunta o que ela sente. Eles passeiam. Depois ela lhe conta sobre o gosto das frutas.
Rodado e parido em plena fatia temporal do Schwarzenegger, Rambo, Punks, todo mundo de preto, o diretor Brad Silberling vai na contramão conferindo ao programa o tom perfeito de um rico colorido que se perpetua das ruas ao hospital, dos estabelecimentos todos onde acontece a ação, uma ação na contramão do estereótipo ação, diga-se de passagem.
O segundo paciente de Meg, Dennis Franz, será uma peça chave na história. Ao operá-lo, ela ainda sussurra: “por favor, não morra”. Franz, no filme Nathaniel Messinger, na metade do espetáculo ele e Cage batem um papo, tão bom que Nathaniel exclama: isso é surpreendente, procure essa palavra no dicionário e verá uma foto de nós dois.
Nathaniel expressa ao incrédulo Cage:
- Lógico que eu sou um de vocês. Vou te provar. Vocês vivem em bibliotecas, falam qualquer língua, viajam na velocidade do pensamento, lêem pensamentos.
Cage permanece pasmo, querendo saber como isso acontece. Trocando em miúdos: como um anjo se torna humano?
Nathaniel diz que Ele (Deus) deu a esses tontos (humanos) a maior dádiva que existe. Por que não daria a nós?
Cage ainda continua absorto. Nathaniel arremata, fornecendo a mais simples resposta: Você escolhe. A dádiva chama-se livre arbítrio.
Sem vacilar um instante, City of Angels exala um extenso leque de idéias, conceitos, subuniversos, a vida e a morte muito próximos, o funcionamento da intuição e da observação, etc., e impossível negar que os realizadores desse Trabalho de Arte fizeram realmente uma torta bem recheada.
De um lado, é um filme adiante de seu tempo, tamanhas inserções ele proporciona no campo da chamada “substância do que não se vê”, também conhecida por Fé. Por outro, a nota dissonante em relação a hoje – 2014, segundo ano da Nova Era – é que no atual período a tônica deve ser o amor por si mesmo, antes de qualquer outro. Dizem que esta é uma das mais difíceis lições.
Meg começa a indagar e, depois de uma boa dose de digestão face as pistas sobre o misterioso Cage, ela bate na porta de Messinger.
Eles conversam. Dada altura ele revela:
- Seth desconhece a dor, o medo e a fome. Ele está disposto a abrir mão de tudo, inclusive a própria eternidade, tamanho o amor que tem por você.
Ela ouve, sem ainda mensurar o real significado disso.
Ainda tem muito filme pela frente.
“Cidade dos Anjos”(City of Angels)
Houve um tempo em que cinema era uma pílula mágica, mágica e devastadora ao mesmo tempo, dependia apenas de quem manejava a varinha.
Rodado em 88, ouso dizer que se não for o top, está milimetricamente perto disso – melhor papel de Nicolas Cage – o anjo Seth.
O espetáculo abre com uma menininha de 9 anos, no máximo, pronta para fazer a transição, sua mãe ainda tenta o hospital, há uma equipe médica dando tudo de si, Cage observa, em seu rosto há o desenho de um sorriso, e como que por encanto a menina já está ao seu lado e ambos saem de mãos dadas pelo corredor.
Ele pergunta pra ela:
- Do que você mais gostava?
- De pijamas – responde ela.
Adaptado da obra de Wim Wenders, City... leva o espectador a surfar nos conceitos propostos, do início ao fim, sendo que no início temos uma panorâmica de L.A., com seu trânsito e neuras urbanas, inclusive de ordem policial, tudo visto do alto e, mesmo assim, dá o que pensar sobre as linhas gerais de uma cidade do primeiro mundo.
Brad Silberling dirige o todo cujo roteiro foi confeccionado a 4 mãos (inclusive as de Wenders), e com menos de 6 minutos de filme já está comunicado ao público que a cidade pulula de anjos, que eles conversam entre si, abraçam os despercebidos humanos, se vestem de preto e assistem em uníssono o nascer e o por do sol.
Nesses 6 minutos já vemos os primeiros diálogos de Seth com Cassiel, vivido pelo afro americano André Braugher. Irão conversar o filme inteiro.
Que ninguém duvide do poder de comunicação do cinema, em especial antes de seu obituário (em torno de 2010...), pois quando ele quer comunicar “4”, ele não diz 2+2.
Culturas, digamos, mais acanhadas, sentiram certo incômodo em ver Meg Ryan de mochila, óculos escuros, descendo de bike pelas ruas da metrópole, usando roupas esportivas dos pés a cabeça para em seguida entrar num hospital e perfazer uma cirurgia. Vapt vupt. Sem vossa excelência, sem formulários. Imagine, 1988...O próprio lay-out da Meg, nessa época e independente da indumentária, vendia muito mais do que ousa almejar a indústria da beleza, em qualquer tempo.
E assim temos o alicerce - Nicolas Cage e Meg Ryan – ele anjo, ela humana, ambos vão se lançar na experiência do entrelaçamento. Nicolas quer saber qual a sensação de um abraço sólido. Meg ainda não experimentara o amor num estado menos banal do que o suposto habitual.
Tão logo a cirurgiã Ryan chega no hospital ela passa por uma experiência transformadora. Seu paciente morre na mesa.
Não sei se você está familiarizado com a teoria de que médicos, às vezes, brincam de Deus. Também desconheço se você tem familiaridade com outra teoria, que externa “Se realmente dependêssemos de Deus, sería-nos difícil bancar o Deus perante nossos semelhantes”. Ora, estamos falando de Deus visto ser este um filme sobre anjos. E horas e horas após o paciente da Meg ter saltado pro outro lado – Seth estava à sua espera – aliás, foi assim que os protagonistas se conheceram na trama, enfim, Meg confessa para uma amiga: se nada disso está nas minhas mãos, e agora?
Taí um questionamento vital pra todo e qualquer humano, curador ou aspirante à cura.
Deixando a teologia de lado por um instante, chegou a hora de dizer de que se trata “Cidade...”. Chico Xavier explicava que cada espírito está numa “faixa de compreensão” e que todo mundo no incrível planetinha faz parte de uma só família. “Cidade...” é um filme de amor. Ponto. Parte das 7 bilhões de compreensões individuais terrenas curte um “Romeu&Julieta”, com aquele drama todo e os cadáveres no final. Ora, alguma parte curtiu a empreita de Silberling&Wenders, que por sinal faturou 19 prêmios numa pá de certames.
As primeiras cenas dos primeiros encontros íntimos entre o anjo Cage e a cirurgiã Ryan são uma apologia ao lado singelo da vida. Eles conversam. Ninguém ali está querendo vender nada pra ninguém. Cage pega o braço esquerdo dela e desce com a ponta de seu indicador direito, até a palma da mão. Ele pergunta o que ela sente. Eles passeiam. Depois ela lhe conta sobre o gosto das frutas.
Rodado e parido em plena fatia temporal do Schwarzenegger, Rambo, Punks, todo mundo de preto, o diretor Brad Silberling vai na contramão conferindo ao programa o tom perfeito de um rico colorido que se perpetua das ruas ao hospital, dos estabelecimentos todos onde acontece a ação, uma ação na contramão do estereótipo ação, diga-se de passagem.
O segundo paciente de Meg, Dennis Franz, será uma peça chave na história. Ao operá-lo, ela ainda sussurra: “por favor, não morra”. Franz, no filme Nathaniel Messinger, na metade do espetáculo ele e Cage batem um papo, tão bom que Nathaniel exclama: isso é surpreendente, procure essa palavra no dicionário e verá uma foto de nós dois.
Nathaniel expressa ao incrédulo Cage:
- Lógico que eu sou um de vocês. Vou te provar. Vocês vivem em bibliotecas, falam qualquer língua, viajam na velocidade do pensamento, lêem pensamentos.
Cage permanece pasmo, querendo saber como isso acontece. Trocando em miúdos: como um anjo se torna humano?
Nathaniel diz que Ele (Deus) deu a esses tontos (humanos) a maior dádiva que existe. Por que não daria a nós?
Cage ainda continua absorto. Nathaniel arremata, fornecendo a mais simples resposta: Você escolhe. A dádiva chama-se livre arbítrio.
Sem vacilar um instante, City of Angels exala um extenso leque de idéias, conceitos, subuniversos, a vida e a morte muito próximos, o funcionamento da intuição e da observação, etc., e impossível negar que os realizadores desse Trabalho de Arte fizeram realmente uma torta bem recheada.
De um lado, é um filme adiante de seu tempo, tamanhas inserções ele proporciona no campo da chamada “substância do que não se vê”, também conhecida por Fé. Por outro, a nota dissonante em relação a hoje – 2014, segundo ano da Nova Era – é que no atual período a tônica deve ser o amor por si mesmo, antes de qualquer outro. Dizem que esta é uma das mais difíceis lições.
Meg começa a indagar e, depois de uma boa dose de digestão face as pistas sobre o misterioso Cage, ela bate na porta de Messinger.
Eles conversam. Dada altura ele revela:
- Seth desconhece a dor, o medo e a fome. Ele está disposto a abrir mão de tudo, inclusive a própria eternidade, tamanho o amor que tem por você.
Ela ouve, sem ainda mensurar o real significado disso.
Ainda tem muito filme pela frente.