A HORA MAIS ESCURA
Nota do Site: 5/ 5
Certos diretores, por virem de longas bem premiados, são pouco apreciados em seus novos esforços mesmo sendo, a rigor, tão bons quanto seus antecessores. Como é o caso de A Hora Mais Escura, novo filme de Kathryn Bigelow, que mesmo sendo tão bom quanto o ótimo Guerra ao Terror, parece não ter a mesma apreciação que o antecessor.
Apresentando-nos à novata agente da CIA, Maya (Jessica Chastain) que, dois anos depois do 11/09, está acompanhando o colega Dan (Jason Clarke) no interrogatório/ tortura de um suspeito terrorista, enquanto buscam notícias que possam levar ao paradeiro de Osama Bin Laden. Assim, a partir de uma estrutura episódica que cobre dez anos de investigação/ busca do líder da Al-Qaeda e seus principais "colaboradores”, o filme acompanha ainda a protagonista e suas mudanças psicológicas durante este longo período, entregando ao público um fabuloso arco dramático neste processo.
Neste sentido, mudam-se os líderes políticos e as táticas de abordagem junto aos suspeitos (devido à denúncias de tortura), bem como ataques à agentes americanos, levando a CIA a realocar seus recursos e reconsiderar suas estratégias sem prejuízo junto à opinião pública. Paralelamente, Maya é concebida como uma sagaz porém insegura novata, passando à uma agente obsessiva e focada, mergulhada num universo de perigos e de pistas – falsas ou não. E é aqui que Jessica Chastain merece aplausos, nos permitindo observar suas nuances e facetas, levando-nos a entender qual o real significado do tocante último plano do filme, que a aproxima tematicamente ao protagonista de Guerra ao Terror, cujo arco dramático era bastante similar.
Mas o trabalho de Chastain não seria o mesmo se o roteiro de Mark Boal não permitisse o desenvolvimento desse arco dramático a partir de uma ótima pesquisa, que sintetiza de forma objetiva os principais eventos que levaram a investigação/ localização/ morte do líder saudita, com destaque para a reprodução quase fiel à missão de abate do terrorista (falaremos disso adiante). Auxiliado ainda pela ótima montagem de Dylan Tichenor e William Goldenberg, o filme consegue traduzir cronologicamente os principais momentos ocorridos pós-11/09 sem soar episódico, mesmo sendo estruturado em capítulos. Além disso, Boal se sai bem nos momentos em que precisou ficcionalizar certos acontecimentos para não perder a verossimilhança e a objetividade. E isso claro, auxiliado pela fotografia crua e nervosa de Greig Fraser, cuja câmera adota uma estratégia visual condizente com o documentário. E isso auxiliado pela trilha diegética do cada vez mais recorrente Alexandre Desplat, e que só se entrega a um tema mais tradicional somente no último plano, a fim de salientar o desempenho de Chastain nesse momento.
Já Kathryn Bigelow mostra-se cada vez mais à vontade com este tipo de tema e sem medo de ousar esteticamente, compreendendo, por exemplo, que os planos lentos adotados em seu filme anterior não podiam ser repetidas aqui, optando mais uma vez em manter a objetividade entregando-nos um filme cru e visceral que sempre nos coloca no centro da ação, diante de torturas, explosões e tiroteios, como se fôssemos testemunhas oculares. Desta forma, quando a protagonista descobre o paradeiro de Osama, Bigelow estende seu filme com o intuito de compartilhar com o espectador da mesma frustração e impotência de Maya em ver sua pista ignorada e legada à segundo plano. Assim, quando a diretora finalmente nos joga na ação de captura/ morte de Osama, permitindo-nos vislumbrar todos os passos, compartilhamos da mesma apreensão da protagonista e, o que é mais incrível, dos soldados, embora já saibamos como aquilo irá terminar.
Não é de se admirar que a cena final seja dedicada à Maya. Surgindo entre os soldados tomados pela agitação e o frenesi do momento, a protagonista enquanto caminha em direção à maca onde encontra-se o corpo de Osama, vai tendo o som ao redor “diluído” aos poucos, como se mais nada existisse entre Maya e a maca. Assim, o simples ato de “reconhecer” Osama lhe permite ter seus esforços e obsessões justificados. Aí, quando Maya já no avião é perguntada sobre seu itinerário, ela emudece, já que ela não tem mais o que fazer depois dali a não ser chorar, num reconhecimento melancólico de que, afinal de contas, ela não tem vida social para além daquilo tudo. E é aí que reside toda a genialidade deste último plano!
Apresentando-nos à novata agente da CIA, Maya (Jessica Chastain) que, dois anos depois do 11/09, está acompanhando o colega Dan (Jason Clarke) no interrogatório/ tortura de um suspeito terrorista, enquanto buscam notícias que possam levar ao paradeiro de Osama Bin Laden. Assim, a partir de uma estrutura episódica que cobre dez anos de investigação/ busca do líder da Al-Qaeda e seus principais "colaboradores”, o filme acompanha ainda a protagonista e suas mudanças psicológicas durante este longo período, entregando ao público um fabuloso arco dramático neste processo.
Neste sentido, mudam-se os líderes políticos e as táticas de abordagem junto aos suspeitos (devido à denúncias de tortura), bem como ataques à agentes americanos, levando a CIA a realocar seus recursos e reconsiderar suas estratégias sem prejuízo junto à opinião pública. Paralelamente, Maya é concebida como uma sagaz porém insegura novata, passando à uma agente obsessiva e focada, mergulhada num universo de perigos e de pistas – falsas ou não. E é aqui que Jessica Chastain merece aplausos, nos permitindo observar suas nuances e facetas, levando-nos a entender qual o real significado do tocante último plano do filme, que a aproxima tematicamente ao protagonista de Guerra ao Terror, cujo arco dramático era bastante similar.
Mas o trabalho de Chastain não seria o mesmo se o roteiro de Mark Boal não permitisse o desenvolvimento desse arco dramático a partir de uma ótima pesquisa, que sintetiza de forma objetiva os principais eventos que levaram a investigação/ localização/ morte do líder saudita, com destaque para a reprodução quase fiel à missão de abate do terrorista (falaremos disso adiante). Auxiliado ainda pela ótima montagem de Dylan Tichenor e William Goldenberg, o filme consegue traduzir cronologicamente os principais momentos ocorridos pós-11/09 sem soar episódico, mesmo sendo estruturado em capítulos. Além disso, Boal se sai bem nos momentos em que precisou ficcionalizar certos acontecimentos para não perder a verossimilhança e a objetividade. E isso claro, auxiliado pela fotografia crua e nervosa de Greig Fraser, cuja câmera adota uma estratégia visual condizente com o documentário. E isso auxiliado pela trilha diegética do cada vez mais recorrente Alexandre Desplat, e que só se entrega a um tema mais tradicional somente no último plano, a fim de salientar o desempenho de Chastain nesse momento.
Já Kathryn Bigelow mostra-se cada vez mais à vontade com este tipo de tema e sem medo de ousar esteticamente, compreendendo, por exemplo, que os planos lentos adotados em seu filme anterior não podiam ser repetidas aqui, optando mais uma vez em manter a objetividade entregando-nos um filme cru e visceral que sempre nos coloca no centro da ação, diante de torturas, explosões e tiroteios, como se fôssemos testemunhas oculares. Desta forma, quando a protagonista descobre o paradeiro de Osama, Bigelow estende seu filme com o intuito de compartilhar com o espectador da mesma frustração e impotência de Maya em ver sua pista ignorada e legada à segundo plano. Assim, quando a diretora finalmente nos joga na ação de captura/ morte de Osama, permitindo-nos vislumbrar todos os passos, compartilhamos da mesma apreensão da protagonista e, o que é mais incrível, dos soldados, embora já saibamos como aquilo irá terminar.
Não é de se admirar que a cena final seja dedicada à Maya. Surgindo entre os soldados tomados pela agitação e o frenesi do momento, a protagonista enquanto caminha em direção à maca onde encontra-se o corpo de Osama, vai tendo o som ao redor “diluído” aos poucos, como se mais nada existisse entre Maya e a maca. Assim, o simples ato de “reconhecer” Osama lhe permite ter seus esforços e obsessões justificados. Aí, quando Maya já no avião é perguntada sobre seu itinerário, ela emudece, já que ela não tem mais o que fazer depois dali a não ser chorar, num reconhecimento melancólico de que, afinal de contas, ela não tem vida social para além daquilo tudo. E é aí que reside toda a genialidade deste último plano!