A GRANDE BELEZA
TEMOS UM NOVO FELLINI?
Não posso dizer que tivemos uma grata surpresa quando,naquele sábado mortiço,fomos ao Gláuber Rocha assistir “A GRANDE BELEZA”.Na verdade ,o que nos surpreendeu foi ter assistido a um filme magistral,coisa difícil de se ver nos dias de hoje.
O cinema italiano que nos deu Antonioni,Visconti,Monicelli ,Pontecorvo ,Rossellini,De Sicca,Zefirelli , Tornatore e Fellini agora nos brinda com o despontar de Paolo Sorrentino,para mim,um novo Fellini,com uma pequena ,mas,sutil diferença:uniu a imagem á música e esta á palavra, abrangendo assim ,as três grandes vertentes da Cultura Contemporânea numa só obra – prima.
A maioria do público vai se identificar com Jep Gambardelli, (interpretado por Toni Servillo) escritor de um livro só,jornalista frustrado e bom vivant, cujo sonho é ser o “rei dos mundanos”;ele diz não querer mais compromissos e nem ser obrigado a nada porque chegou aos 65 anos e não há tempo suficiente para perder.”Além está o Além e eu não me ocupo com o Além.”Até a trilha sonora – perfeita – se cala diante desta fala.E ,no silêncio,quando o blá-blá-blá sem sentido se cala temos um vislumbre da grande beleza.E,compreendemos porque Jep escreveu um único livro:não há personagens que mereçam ser retratados ou imortalizados no mundo de hoje.
Os personagens,quase todos mergulhados num turbilhão de festas barulhentas e vazias,tédio e insatisfação se sucedem marcando presença num mundo ininteligível para aqueles que vivem do trabalho e têm um objetivo no viver.Personagens e cenas que vão do grotesco ao sublime ,desfilam diante de nossos olhos deslumbrados.
Um deles,a freira meio caquética ,mas,que realiza milagres;ou o grotesco cardeal candidato a papa que só pensa em comida e a tudo responde com a receita de um prato;ou a Condessa ,cujo filho tantã morre num acidente provocado e faz doação dos seus bens terrenos para virar missionária.E as inúmeras atrizes,artistas e mágicos, loucos para subir na vida ,capazes das maiores degradações para terem um minuto de fama.
Todos procurando a grande beleza,inclusive o Jep ,o único com sede de transcendência que,mergulhado até o pescoço numa sociedade hipócrita e decadente encontra,afinal, a grande beleza nas coisas simples e num amor de juventude, onde deixou seu coração ainda puro.
A música merece um capítulo á parte. Ela completa e domina o filme.Sabe-se que a música não foi feita para o filme;mas,fiquei em dúvida se o filme foi feito para a música. Confuso?Nem tanto!Pois existe uma união perfeita entre ambos.
O filme mostra a moderna música erudita,principalmente a música sacra onde brilham nomes como Arvo Part, John Taverner e VladimirMartynov,partindo de temas como “The Lamb”,do poeta inglês,William Black,que eleva nosso espírito e “My heart’s in the Highlands,do poeta escocês Robert Burns” e onde , em algum lugar ,no passado,todos nós,inclusive o errático Jep ,um dia deixamos nossos corações.
The Beatitudes” ,de Martynov, que está presente no milagre dos flamingos provocado pela freira santa,volta nos créditos finais para nos provocar “una furtiva lacrima” até sairmos do cinema.
TEMOS UM NOVO FELLINI?
Não posso dizer que tivemos uma grata surpresa quando,naquele sábado mortiço,fomos ao Gláuber Rocha assistir “A GRANDE BELEZA”.Na verdade ,o que nos surpreendeu foi ter assistido a um filme magistral,coisa difícil de se ver nos dias de hoje.
O cinema italiano que nos deu Antonioni,Visconti,Monicelli ,Pontecorvo ,Rossellini,De Sicca,Zefirelli , Tornatore e Fellini agora nos brinda com o despontar de Paolo Sorrentino,para mim,um novo Fellini,com uma pequena ,mas,sutil diferença:uniu a imagem á música e esta á palavra, abrangendo assim ,as três grandes vertentes da Cultura Contemporânea numa só obra – prima.
A maioria do público vai se identificar com Jep Gambardelli, (interpretado por Toni Servillo) escritor de um livro só,jornalista frustrado e bom vivant, cujo sonho é ser o “rei dos mundanos”;ele diz não querer mais compromissos e nem ser obrigado a nada porque chegou aos 65 anos e não há tempo suficiente para perder.”Além está o Além e eu não me ocupo com o Além.”Até a trilha sonora – perfeita – se cala diante desta fala.E ,no silêncio,quando o blá-blá-blá sem sentido se cala temos um vislumbre da grande beleza.E,compreendemos porque Jep escreveu um único livro:não há personagens que mereçam ser retratados ou imortalizados no mundo de hoje.
Os personagens,quase todos mergulhados num turbilhão de festas barulhentas e vazias,tédio e insatisfação se sucedem marcando presença num mundo ininteligível para aqueles que vivem do trabalho e têm um objetivo no viver.Personagens e cenas que vão do grotesco ao sublime ,desfilam diante de nossos olhos deslumbrados.
Um deles,a freira meio caquética ,mas,que realiza milagres;ou o grotesco cardeal candidato a papa que só pensa em comida e a tudo responde com a receita de um prato;ou a Condessa ,cujo filho tantã morre num acidente provocado e faz doação dos seus bens terrenos para virar missionária.E as inúmeras atrizes,artistas e mágicos, loucos para subir na vida ,capazes das maiores degradações para terem um minuto de fama.
Todos procurando a grande beleza,inclusive o Jep ,o único com sede de transcendência que,mergulhado até o pescoço numa sociedade hipócrita e decadente encontra,afinal, a grande beleza nas coisas simples e num amor de juventude, onde deixou seu coração ainda puro.
A música merece um capítulo á parte. Ela completa e domina o filme.Sabe-se que a música não foi feita para o filme;mas,fiquei em dúvida se o filme foi feito para a música. Confuso?Nem tanto!Pois existe uma união perfeita entre ambos.
O filme mostra a moderna música erudita,principalmente a música sacra onde brilham nomes como Arvo Part, John Taverner e VladimirMartynov,partindo de temas como “The Lamb”,do poeta inglês,William Black,que eleva nosso espírito e “My heart’s in the Highlands,do poeta escocês Robert Burns” e onde , em algum lugar ,no passado,todos nós,inclusive o errático Jep ,um dia deixamos nossos corações.
The Beatitudes” ,de Martynov, que está presente no milagre dos flamingos provocado pela freira santa,volta nos créditos finais para nos provocar “una furtiva lacrima” até sairmos do cinema.