A peixinha que saiu da água





“Como pode um peixe vivo viver fora da água fria?”
(“Peixe vivo”, canção folclórica de Minas Gerais)

PONYO (Gake no ue no Ponyo) (literal: “Ponyo no penhasco”) – Japão, 2008 (Estúdio Ghibli). Desenho animado de longa-metragem escrito e dirigido por Hayao Miyazaki. Adaptação do conto de fadas “A pequena sereia”, de Hans Christian Andersen, e da lenda japonesa “Urashima Taro”. Duração: 101 minutos. Elenco original (dubladores): Hiroki Doi, Yuria Nara, Noah Cyrus, Frankie Jonas, Tina Fey, Matt Damon, Cloris Leachman, Lily Tomlin, Betty White, Liam Neeson, Cate Blanchett.

De longa data eu admiro o cineasta japonês Hayao Miyazaki, uma espécie de Walt Disney oriental, e cujos desenhos longos são sempre envolventes e profundos.
Já na década de 80 Miyazaki realizou algumas das melhores obras-primas da animação, como “Meu vizinho Totoro”, “Laputa” e a inigualável “Nausicaa do Vale do Vento”, com a princesa messiânica que amava a natureza.
Com relação a “Ponyo” (que no Brasil recebeu o tolo subtítulo “Uma amizade que veio do mar”), embora se diga ser inspirada na “Pequena sereia” de Andersen, na prática é bem diferente. Ressente-se, a meu ver, de um visual mais tosco que a maioria dos desenhos do autor Miyazaki. A trama também é algo pueril. De fato é uma história mais apropriada para crianças pequenas, sem a mesma densidade de “Nausicaa”. Mesmo assim é uma animação notável e que merece ser assistida. Algumas de suas cenas, principalmente as que mostram criaturas marinhas, são excepcionalmente belas.
Pode parecer estranho, mas a personagem que eu mais apreciei foi Lisa, a madrasta de Sozuke, o garoto de cinco anos (mas muito inteligente) que adota a peixinha dourada Ponyo, sem saber que ela fugia de um extravagante “ex-humano” que vivia em baixo d’água e criava muitos peixes com rosto de aparência humana. A cena em que Lisa recebe Ponyo já humanizada é singela: a naturalidade com que Lisa aceita a situação incrível e a gentileza com que serve lanche às duas crianças. Em contraste com esta cena de paz há passagens meio apocalípticas com o mar em revolta ameaçando tragar tudo.
Miyazaki, como sempre, faz uso de um minimalismo encantador que valoriza muito os seus trabalhos.

Rio de Janeiro, 21 a 25 de julho de 2013.