Capitão Phillips
Confesso que tenho uma certa implicância com Tom Hanks. Embora o considere um ator de respeito, acho a maioria dos seus filmes cansativos e suas interpretações dentro da média. Porém, não é o que acontece neste, que também oferece outros méritos além do ator.
Apesar dos seus 140 minutos de projeção (como falei, “filmes cansativos”), o roteiro nos reserva boas surpresas que vez e outra nos acordam de um certo marasmo em que o longa se encontra. Mesmo quando pensamos que a situação possa estar resolvida, uma nova tensão é criada e tudo parece voltar ao ponto zero, o que traz aflição (positivamente falando) ao espectador, que deseja ver os meios de um desfecho já previamente conhecido.
Entretanto, o que mais chama atenção é a atmosfera verossímil presente na obra, já que se trata de uma ficção baseada em um sequestro real de um navio de carga em águas internacionais próximas à Somália. Além da fotografia crua, diálogos objetivos e movimentos bruscos de câmera que a todo momento nos transportam para aquele ambiente de mar agitado, o grupo de atores que vivem os piratas somalis é um espetáculo à parte, sendo inclusive todo o diálogo entre eles produzido em sua língua nativa.
Não sendo apresentados como vilões, assim como os americanos na qualidade de heróis, o roteiro é inteligentemente imparcial e desconstrói qualquer tipo de nacionalismo que se pretende embutir em películas desse gênero. Tanto as razões para o sequestro são legítimas, assim como os meios pelos quais os americanos resgatam o comandante refém também os são. A sensibilidade e o desespero dos dois líderes, em lados opostos, os humanizam e dissolvem qualquer dicotomia ou mistificação. Dessa forma, também se tem um filme em certo ponto político sem se discutir didaticamente questões políticas (no geral, sempre feito de forma chata).
De maneira alguma é um filme difícil de se compreender, mas também não é para todos. Aqueles que esperam por ação, tiroteios e sangue podem sair um pouco decepcionados, posto que o que se focaliza mesmo são as relações interpessoais em situações extremas. A cena final é paradoxalmente humana e profunda. Vale muito a pena conferir.
Nota: 8,5.