Thor: O Mundo Sombrio (Análise e Crítica)
Com “Homem de Ferro 3”, lançado mundialmente em abril deste ano, o Marvel Studios iniciou a tão aguardada Fase 2, que dá continuidade aos eventos mostrados em “Os Vingadores” (2012). Apesar de configurar a terceira maior bilheteria de todos os tempos, não agradou a muitos (leitores ou não de quadrinhos) e amargou duras críticas negativas tanto por espectadores como pela imprensa especializada. Seis meses depois, chega às salas de cinema “Thor: O Mundo Sombrio”, que por sua vez tenta restabelecer com o público um pouco da credibilidade perdida pelo estúdio e lhe entrega um entretenimento despretensioso e de ótima qualidade.
A segunda aventura solo de Thor (Chris Hemsworth) narra as peripécias do deus nórdico após a invasão de alienígenas em Nova Iorque. Desta vez ele não só terá que salvar Asgard (seu reino natal) e Midgard (a Terra), como todo o universo contra um inimigo bastante poderoso – o elfo negro Malekith (Christopher Eccleston), que após séculos aprisionado no limbo pelo pai de Odin (Anthony Hopkins) é despertado sem querer pela mortal Jane Foster (Natalie Portman) e jura vingança contra os Nove Reinos. Só que, para tal, será preciso que o asgardiano se alie ao seu meio-irmão Loki (Tom Hiddleston), o deus da trapaça muito conhecido por sua ambição e egocentrismo.
Sob a tutela agora de Alan Taylor, a estratégia de introdução é a mesma apresentada em “Thor” (2011): a narração de Odin explica fatos que poderiam tomar muita parte do filme e torná-lo mais longo do que o necessário, e assim de forma resumida o espectador já fica sobreavisado acerca da trama e o que dela poderá aguardar. Embora no seu todo apresente um ritmo linear, a primeira meia hora de projeção é um tanto monótona por introduzir cenas que só se explicarão no seu desenrolar. Assim como um episódio interminável de “Games of Thrones” em que nada acontece [Taylor dirigiu alguns da série], os diálogos [bons até] se arrastam e nem o humor parece funcionar por se mostrar um tanto forçado.
Porém, o longa cresce à medida que a ação entra em cena e Loki ganha mais espaço, até culminar naquele que pode ser o melhor desfecho para um filme da Marvel até agora. A partir daí tudo começa a funcionar. O roteiro, usando e abusando de reviravoltas, prende a atenção da audiência graças aos truques de Loki, que alterna realidade e ilusão, ludibriando também o espectador. Dessa forma, alguns eventos pouco convincentes [como a inclusão de Jane Foster na história] passam despercebidos, já que a relação entre os dois irmãos se transforma no cerne da história.
Para promover isso, a escolha do vilão foi apropriada. Não sendo muito relevante nem mesmo nos quadrinhos, Malekith se permite ser quase que um coadjuvante e não rouba o espaço para que os conflitos entre Thor e Loki se articulem. Com este antagonista, a Marvel corrigiu um erro recorrente em seus filmes, que em grande maioria possuem vilões caricatos e mal desenvolvidos. O elfo negro é o primeiro inimigo efetivamente sinistro e sem nenhum traço cômico: figuro, voz e maquiagem corroboram na construção de um personagem que não cai no ridículo – como aconteceu com o Caveira Vermelha de “Capitão América – O Primeiro Vingador” (2011) e o Mandarim de “Homem de Ferro 3”.
Por falar em alívio cômico, a personagem Darcy (Kat Dennings) finalmente encontra espaço para suas piadas e situações hilárias, mais contextualizadas às situações que no começo da projeção. Apesar de a princípio parecer direcionado mais ao público adulto que infantil [fotografia e trilha sonora mais escuras aludem a isso], o humor refinado já característico do selo Marvel cria surpresas impensáveis e que acertam em cheio os apaixonadas por esse universo. A “participação” do Capitão América (Chris Evans) e Thor andando de metrô são cenas que entram para a galeria das mais icônicas.
Taylor se sai bem na direção e utiliza os efeitos de maneira coerente e sem exageros, e traz realidade a uma história ambientada em um contexto fantasioso por si só. Investindo em ficção científica, fica evidente que a nova saga de Thor abre caminhos para o público ir se acostumando à atmosfera intergaláctica que será explorada em “Guardiões da Galáxia”, produção marcada para estrear em agosto de 2014 e que vai adaptar ao cinema um dos principais grupos da linha cósmica da editora estadunidense.
Apesar do aproveitamento aquém de certos personagens importantes à sua mitologia, o longa proporciona boas horas de diversão descompromissada, já que sua estética não pretende inovar e nem fazer o público refletir sobre questões filosóficas: é o entretenimento puro a serviço de si próprio! O que não é ruim, já que tem qualidade. Portanto, “Thor: O Mundo Sombrio” escreve mais um capítulo de um todo universo coeso, mesmo seus heróis em filmes solo recebendo cada um roupagens e nuances diferenciadas. Desta vez, é possível sair da sala de exibição de alma lavada e espírito renovado.
Nota: 8,5.