TREM DA VIDA – O FILME (Resenha)
O Trem da vida, de Radu Mihaileanu - Romênia/França, 1998 - que trata da questão da cultura e das imbricações linguísticas no jogo de poder.
Obs. Interessante para aplicar em aula sobre cultura, religião, antropologia, sociologia, ética, etc.
Exemplo introduzido pela cinematografia para falar de um sonho. O sonho da cultura e do respeito à diversidade cultural.
Schlomo, personagem que é tido por “louco” e que ao final revela-se um presidiário do regime nazista, deixa se imaginar num sonho de liberdade. Ele inicia o filme dizendo: “(...) Ele permitiu (...)”. E divaga com uma narrativa que parece ir longe, até ser interceptado pelo Rabi que pede ao mesmo para contar sobre os “le nazist” (...) mas ele continua narrando em ficção.
A narrativa ficcional se adianta e ante a ameaça nazista que se aproxima do vilarejo judaico, Schlomo fala da ideia do trem. Ele diz: “deportaríamos as vacas, os gansos, as crianças (...” e confirma: “as crianças somos nós”. Talvez no sentido de definir que a narrativa do filme fica por conta da imaginação e da memória.
“Um dia viajaremos para um espaço além do céu (...) o espaço está no coração”
“Vamos procurá-lo em outro lugar”. Schlomo é mais um visionário.
O Rabi quando interceptado por uma mãe pedindo silêncio na reunião para não acordar as crianças, afirma: “Como poderemos pensar sem falar?”
Shtetl (cidadezinha em iídiche) - Kosher (apto) Ex. a comida judaica tem que ser kosher...
“Não é justo que uns nasçam pobres e outros ricos” (alguém comentando Marx). Devagar, devagar, se vai longe.
O primo do Rabi que vem para ensinar o alemão diz: “o alemão é uma língua austera, Mordechai, concisa e triste. O ídiche é uma paródia do alemão mas tem humor; então para falar bem o alemão e perder o sotaque, é preciso retirar o humor. Só isso”.
O filme revela uma experiência de deslocamento constante, quebra de fronteiras culturais, hibridismo. Os personagens são sujeitos em deslocamento, não só no sentido físico da palavra, mas também no sentido cultural. São os elementos religiosos os mais lembrados quando se pensa em partir, (Os animais para o sacrifício, o material do altar etc.)
O maquinista não tinha experiência, mas tinha “um sonho e esperança de um espaço maior”
Aproxima-se o Shabat e o trem precisa parar para a comemoração. O “filhinho” pergunta para sua mãe se a terra para onde estão indo é santa. A reposta materna é fantástica: “Uma terra pode ser santa em qualquer lugar”.
Durante a comemoração do Shabat o Rabi questiona o “comandante e os soldados” fictícios, por não tirarem os quepes e recebe uma resposta negativa – O deslocamento cultural religioso é em função do perigo. Neste momento os judeus estão sendo observados por um grupo de ciganos também judaicos. Alguém se antecipa na comida e gera uma grande discussão que envolve questões de religião, ética e moral judaica. Quem a interrompe é Schlomo que diz: “Se Deus existe ou não, que diferença faz? já se perguntaram se nós existimos? - O homem inventou Deus e a Bíblia...”.
Ao final, o encontro com os ciganos transforma a história daquele trem, que ao atravessar a fronteira com a Rússia, já celebrava transformações e deslocamentos culturais no elemento festivo da diversidade.
O filme encerra com Schlomo celebrando musicalmente suas memórias, e o sonho da liberdade tão almejada permanece por conta do imaginário.