Faroeste Caboclo- O Filme- Resenha
No filme Faroeste Caboclo diversos elementos nos aprisionam a trama do início ao fim. Um longa metragem brasileiro que repercute bem o momento social e político atual e surpreende também na inovação por apresentar um gênero dramático, pouco comum entre os filmes produzidos no país, e que perpassa o policial e o western, cuja trama é baseada no sucesso homônimo de Renato Russo - Faroeste Caboclo composta em 1979 e lançada apenas em 1987.
Como trama central os antagonistas, João de Santo Cristo e Jeremias disputam o coração da menina de classe abastada, Maria Lúcia, e os revezes da sociedade onde predomina o tráfico de drogas e de influência, corrupção, alienação, discriminação e preconceito. No contexto exibem sentimentos os mais complexos, como os de João, que fazem com que o personagem embrutecido transfira o ódio que sente por Jeremias para cada um dos espectadores que se emocionam e sofrem com tantas atrocidades e injustiças cometidas. Entre outras nuances, é uma grande história de amor, fadada a tragédia esperada do final, no filme uma cena de faroeste que arrebata.
O filme não é a transcrição exata da canção, mas transita através dela e nos oportuniza licenças do diretor estreante René Sampaio que incrementam toda a história. Na película o aflorado lado poético, religioso e exotérico de Renato Russo, impresso nas canções, é suprimido, e o sofrer do personagem João de Santo Cristo é visto ali às claras, e juntamente com ele seguimos a via crúcis até o final, em silêncio, com aquele nó na garganta que a violência, a truculência nos impõe.
Inicia no sertão da Bahia, na cidade de Santo Cristo, mas Brasília é o palco principal, as cenas na maioria são em tons terrosos, ocorre em uma ambientação bastante envolta a poeira, barro, como nos velhos faroestes. Cenas projetadas do ponto de vista do olhar do protagonista, também nos remetem ao cerne de um temível desejo de vingança, contido nos antigos filmes western. No mais se vê Brasília entre luzes das festas regadas ao branco e exagerado pó da cocaína.
Há cenas em que são tocadas e mostradas músicas da época como “Tédio e Até quando esperar”, da Plebe Rude. Mas o Hit “Faroeste Caboclo” é o prêmio do final quando é executada na íntegra durante os créditos, vez que o filme tem vida própria e se desenrola magistralmente sem precisar da música homônima ao fundo.
É de fato um presente aos apreciadores dos bons filmes, uma estreia do diretor René bastante festejada, um grande avanço para o cinema brasileiro, uma realização digamos assim de um desejo de Renato Russo que quando compôs a música a escreveu em forma de roteiro, para o futuro. Um final arrebatador, para uma película que se propõe mostrar a dura história de João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira), Maria Lúcia (Ísis Valverde) e Jeremias (Felipe Abid), personagens da canção que viveu e vive até hoje no imaginário coletivo do povo brasileiro.
Digno de ser apreciado. Até o final quando rolam os créditos e ficar escutando a canção inteira, pensando, refletindo, chorando...