Crash (Crash – 2004 - Paul Haggis)

Crash (Crash – 2004 - Paul Haggis)

Esse filme ainda não estreou por aqui, então eu não me aventuro na tradução que será feita do filme. Provavelmente alguma esdrúxula. Mas no dia em que estrear, corra, seja o primeiro da fila da primeira sessão do primeiro dia, depois veja o filme de novo na segunda sessão. Vá pra casa, se tranque no quarto e pense, pense e pense.

Indubitavelmente Crash é um dos melhores filmes do ano, se não for o melhor. Paul Haggis ganhou minha eterna simpatia por esse pedaço vivo de sociedade que compõe com todos os momentos do filme.

Começando pela trilha sonora que é sentida e vivida a todo momento, deixando o espectador com aquele sentimento de imersão, como se fosse englobado por uma camada de água, purificante e isolante. Desde a primeira imagem até o fade out final somos dragados naquele universo que é o nosso, dia a dia.

Engraçado que a primeira frase do filme seja “É o sentido do tato”. Os personagens do filme, a fotografia e a trilha formam uma obra que pode quase ser alcançada, mas desistimos logo em seus primeiro minutos, pois descobrimos que aquela realidade incomoda. É feia, é horrível, é impossível ser assim. Daí descobrimos que infelizmente somos nós.

O filme conta um dia na vida de algumas pessoas que moram em Los Angeles. Dois detetives, um promotor e sua mulher, dois assaltantes, um consertador de fechaduras, um persa, um casal de negros e dois policiais. Que mal ou bem, querendo ou não estão inseridos em uma sociedade que hão de conviver.

Não interessa seus preconceitos e ideais, você vai ter que conviver com esses ou aqueles tipos. Estereotipando-os ou não a coisa não é simples e por mais idéias corretas que você tenha em sua pessoa a sociedade te esmaga e te faz agir como uma mera figura do jogo.

Em um filme onde ninguém é culpado ou inocente, vemos o desenrolar de fatos, que se ligam uns aos outros pelo simples fato de coexistirem na mesma cidade, sobre a mesma sociedade, sobre os mesmos princípios regentes.

Uma hora alguém abusa de outro e na outra a está salvando. A vida corre e as escolhas, sejam elas como forem se cruzam, se machucam, se renovam.

As atuações são muito boas e elevam o nível do longa que tem em sua edição um fator dos mais relevantes para não fazer o espectador se confundir ou se cansar. E já falando no espectador, esse deve estar bem atento a detalhes que vão sendo pincelados ao longo do filme para concluir e fechar tudo no final.

Palmas também para argumento e o roteiro que vão destilando sua mensagem sem pressa no desenrolar dos minutos, no olhar de cada personagem, nas atitudes refletidas no futuro, nas reflexões de atitudes do passado, nas palavras ditas sem pensar. Pelas pessoas, reais, que estão ali diante de nós. Nos identificamos, e com isso sofremos, nos envergonhamos, sentimos asco e nojo.

Evitando entrar no campo das análises, nem no campo das lições de moral o filme deixa cada personagem a vontade para reagir e pensar no que fez. Consequentemente colocando o espectador nesse mesmo campo de pensamento.

Ambientado logo após os atentados terroristas a história vai mostrando como as tensões estão à flor da pele e a questão do racismo e do etnocentrismo estão em alta. Com todos tendo que lidar a sua maneira no seu próprio nível com essas questões.

Aflorando uma hipocrisia e tornando-a sincera e com isso ficando ciente dessa deficiência de caráter todos os personagens vão sofrer e aprender algo com suas lições. De suas escolhas e seus atos.

É um filme muito mais humano que sobre o racismo, muito mais tolerante e aberto que julgador. É filme para rever algumas vezes e cada vez ver o filme em sua camada mais profunda e com isso ver a sua própria camada mais funda, e chegar ao seu próprio íntimo. Refletir e chorar, se livrar desse peso e pensar que falta muito para que nós encotremos um meio pacifico de viver.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 20/08/2005
Reeditado em 03/11/2005
Código do texto: T43865
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