A culpa é do Fidel

Anna de la Mesa (Nina Kervel-Bey) tem 9 anos, mora em Paris e leva uma vida regrada e tranqüila, dividida entre a escola católica e o entorno familiar. O ano é 1970 e a prisão e morte do seu tio espanhol, um comunista convicto, balança a família. Ao voltar de uma viagem ao Chile, logo após a eleição de Salvador Allende, os pais de Anna estão diferentes e a vida familiar muda por completo.

Adaptação livre do romance Tutta Colpa di Fidel, da jornalista italiana Domitilla Calamai, o longa – metragem é a primeira ficção de Julie Gravas (filha do cineasta grego Costa – Gravas). Anna de La Mesa (Nina Kervel) é uma pequena dama de nove anos, que ensina seu irmão François a se comportar na mesa, adora natação, a sua grande casa, o seu belo jardim e estuda num colégio católico. Mas tudo em sua vida muda a partir do momento em que seus pais resolvem se tornar ativistas políticos.

O mundo de Anna se resume ao seu colégio, onde convive com outras meninas igualmente damas; o seu belo jardim e sua babá anticomunista que fugiu de Cuba após a revolução liderada por Fidel.

Tudo isso começa a desaparecer quando sua tia Marga e sua prima Pilar vão morar na casa de seus pais por conta do assassinato do seu tio pelo regime do general Franco. Tal fato faz com que seu pai comece a refletir a respeito dos seus princípios políticos, pois seus pais espanhóis eram Pro – Franco, uma espécie de fardo que ele carrega. Primeiro ele abandona o emprego e todos vão morar num apartamento bem menor, sem jardim e sem babá. A mãe, vivida por Julie Depardieu, escreve pra revista Marie – Clarie, mas se interessa a escrever um livro sobre o direito ao aborto e a contracepção.

O filme retrata os fatos históricos do período entre 1970 e 1971. O ativismo político dos pais começa depois de uma viagem ao Chile, a partir de então, passam a intermediar a campanha de Salvador Allende. O pequeno apartamento passa a ser freqüentado pelos ‘barbudos’ chilenos amigos de seus pais e por ‘mulheres choronas’ que vão conversar com sua mãe. Anna é obrigada a sair do catecismo, distribuição de riqueza e espírito de grupo começa a ser o assunto que mais se ouve em casa, sua antiga babá fora substituída por militantes estrangeiras que se exilaram na França, passa a comer ‘comidas estranhas’ da Grécia ao Vietnã…

O Pequeno François encara bem as condições, mas Anna fica aborrecida com todas as mudanças, a sua ex babá cubana a fez acreditar que os comunistas, os ‘barbudos’ de vermelho, expulsam as pessoas de suas casas; o Fidel enlouquece a todos, então, a culpa de sua condição atual é dele; Sua avó diz que os ‘vermelhos’ são pobres e querem tirar tudo deles.

Todas essas informações são muito confusas para a pequena ‘múmia’ (como são chamados no Chile todos aqueles que se opõem a Allende) que começa a questionar tudo, até a tentativa de seus pais lhe convencer que tudo aquilo que fazem é o certo.

Sem apelar às pieguices, o longa é bem humorado e inteligente. Conta de forma singela o que é ser filho de comunista (situação que a própria diretora viveu). Acredito que muitos que tem pais esquerdistas vão se identificar com frases como: ” já disse pra não ler isso, o Mickey Mouse é um facista!”.

O filme trata, sobretudo, de trazer questionamentos éticos e políticos, principalmente nos momentos em que Anna põe em xeque as convicções dos militantes e questiona realidade conservadora de seu colégio católico.

Além disso, a própria menina consegue ver as coisas de forma mais crítica e ampliar sua visão de mundo. Suas perguntas faz perceber o quanto uma criança, mesmo com sua aparente inocência, é capaz de ‘tocar na ferida,’ de fazer indagações as quais os adultos tão convictos de suas posturas não conseguem formular para si mesmos a fim de realizarem uma auto reflexão.

Ficha Técnica

Gênero: Drama

Direção: Julie Gavras

Roteiro: Arnaud Cathrine, Domitilla Calamai, Julie Gavras

Elenco: Benjamin Feuillet, Julie Depardieu, Marie Kremer, Martine Chevallier, Nina Kervel-Bey, Olivier Perrier, Stefano Accorsi

Produção: Sylvie Danton

Fotografia: Nathalie Durand

Trilha Sonora: Armand Amar

Inã Cândido e Juliana Carneiro do Nascimento
Enviado por Inã Cândido em 12/06/2013
Código do texto: T4337296
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.