"Filha da Luz": uma odisséia espiritual

“FILHA DA LUZ”: UMA ODISSÉIA ESPIRITUAL

Miguel Carqueija



“O poder das trevas treme diante da inocência” (frase que ouvi de minha mãe, Georgeta Pereira, quando eu era criança)



“Bless the child” (“Abençoai a criança”) ou, no Brasil, “Filha da Luz”, é um dos mais emocionantes filmes de terror — e de tema religioso — que eu já assisti. Produzido nos EUA em 2000 (sendo co-produção alemã) por Mace Neufeld, com 107 minutos de duração, é um hábil “thriller” de suspense onde pontifica a atuação de Kim Basinger como a notável personagem Maggie O’ Connor, além da menina-atriz Holliston Coleman no papel de Cody, a personagem do título.
Estamos em Nova Iorque, em 1993. Após 2.000 anos, a Estrela de Belém reaparece brilhando no céu daquela grande metrópole, indicando um edifício. Sem nada saber dos planos divinos uma das moradoras do citado prédio, a jovem, íntegra e bondosa enfermeira Maggie, que trabalha numa clínica psiquiátrica, recebe a inesperada visita de sua sumida irmã, a toxicômana Jenna (Angela Bettis). Esta dera à luz, poucos dias atrás, uma menina, que recebera o nome de Cody. Sem condições para criá-la, Jenna vai embora, deixando o bebê com a irmã, e some no mundo.
Maggie, que fôra abandonada pelo marido por não poder sustentar a gravidez até o fim (tivera vários abortos espontâneos), e que era uma alma nobre, acolhe a menina como filha e a cria com todo o carinho. Cody parece sofrer uma forma branda de autismo, como se “ouvisse coisas que ninguém mais escuta”, e Maggie a coloca numa escola maternal católica, dirigida por freiras. Quando a pequena está com cinco anos, estranhos acontecimentos principiam a acontecer. Cody ressuscita uma pombinha que quebrara o pescoço numa vidraça; ao entrar numa pequena capela todas as velas se acendem diante dela. Maggie começa a ter alucinações apavorantes. Então Jenna surge do nada, e casada com o misterioso Erik Stark (Rufus Sewell), que dirige uma organização de auto-ajuda, “New Dawn” (“Nova Era”), cuja fachada esconde uma seita satanista. Erik e Jenna reivindicam a tutela de Cody e Maggie não consegue impedir que a levem.
Assim começa a luta desesperada de Maggie para recuperar sua filha adotiva, com a aliança do agente do FBI e ex-seminarista John Travis (Jimmy Smiths). Aos poucos Maggie toma conhecimento da verdade espantosa. Cody é uma menina santa, destinada a, futuramente, conduzir um número incalculável de pessoas para Deus. Erik, por sua vez, deseja impedir esse futuro (seria a Era Marial prevista por São Luís Grignon de Montfort), e para tanto o seu intento é perverter a garota ou, caso não consiga, eliminá-la.
Na verdade Erik sabe que a menina tem grandes poderes e ele pretende utilizá-los para servir ao inferno, o que só poderá acontecer se Cody se afastar de Deus. Fracassando nas primeiras tentativas o líder satanista deixa claro que o prazo de Cody se encerra na Páscoa, quando, diz ele, "você aceitará o meu mestre ou morrerá pelo seu" - ou seja, "você escolherá entre Satã e Jesus Cristo, e nesse último caso eu a matarei". O filme dá a entender que o futuro da humanidade dependerá da decisão de uma criança: se ela ceder, o poder das trevas dominará a Terra.
Mas Cody é a criança abençoada, é a Filha da Luz. Mesmo tendo apenas seis anos de idade, mesmo ameaçada de morte, mesmo sendo levada ao sabá maligno e posta diante da presença visível de Satanás, ela não pretende renegar a Deus e prestar culto ao diabo. E, como a criança resiste, Deus envia os seus anjos para defendê-la. Ao mesmo tempo Maggie, com Travis e outros policiais, invade o antro dos satanistas para confrontar os adversários de carne e osso. O clímax de “Filha da Luz” é uma grandiosa batalha entre o Bem e o Mal.
“Filha da Luz”, ou “Abençoai a criança”, é um dos mais belos filmes de tema sobrenatural de todos os tempos.



imagem do filme