Tentação
Vi o filme e, como sempre, fiquei procurando algo interessante para assimilar como ensinamento. Sei que esta não é a proposta de um filme mas tento achar isso. O novo cinema tem proposto inúmeros movimentos e quebras na maneira da percepção do espectador pois esta se torna outra ou simplesmente não existe. Uma forma nova de olhar, ou melhor, uma proposta despropositada? Esta novidade consiste na não-adequação do olhar do espectador para o cinema. É difícil quebrar paradigmas, sempre foi, só que antes se tentava a quebra com um plano montado e bem estruturado para ser colocado no lugar. Este novo cinema se coloca para nós como a maior perfeição da realização do carpe diem horaciano. Cada filme, um olhar, olhar deseducado, olhar infantil que olha para o mundo com a certeza de que ele é maior e que há sempre o novo para ser visto. Esta possibilidade do olhar é fantástica.
No filme “Tentação”, os personagens se colocam a mercê do olhar do outro na ingênua esperança de uma mudança de atitude. A ação escolhida para este momento epifânico esperados por todos é a traição. Edith trai por puro egoísmo; Hank, marido de Edith, por pura indiferença; Terry, por manipulação e seu marido por amor, ou melhor, aquilo que se acha que é amor, é amor. Na conclusão, entendemos que o outro jamais será o eu. As decisões realmente importantes só dependem de nós e até nossos desejos mais íntimos e que aparentemente necessitam do outro para sua consumação, até estes se perdem no mar do impossível quando nós simplesmente entregamos o leme do barco a outrem. Estar no controle de sua própria vida não é nunca negar a importância do mundo instaurado a seu redor mas reconhecer que este mundo é parceiro, e muitas vezes, passivo.