Dogville: o mundo nosso - uma leitura emocionada
Estou fraca hoje. Eu tinha que escrever algo sobre o que vi ontem e minha condição atual me fez pensar o quão somos fracos. Dogville me propôs tal reflexão.
Minha fraqueza específica hoje é de ordem física e facilmente reparável. Lembrando do filme, fico a imaginar como podemos chegar a tal ponto e, no momento de desespero, efêmero, é verdade, conseguimos nos curar desta doença sórdida de não alcançarmos a humanidade a qual nos autodenominamos.
Demorei muito para ver este filme, algo que fiz, confesso que totalmente inconsciente. Pude me confrontar com o homem em seu estado 'in natura', sem máscaras politicamente corretas dando direção às suas ações. E a palavra que eu posso nominar esta sensação foi estarrecimento.
Durante a sessão, muitas vezes tive o ímpeto de levantar-me da cadeira e ir embora pois não era obrigada a sentir aquela sensação de ser violentada (sei que a palavra é forte mas era isso que sentia) na minha ignorância, estava sendo levada para luz e isso pode não ser tão agradável, situação corriqueira para Grace (Nicole Kidman) em contato com a realidade da convivência com os habitantes da pequena cidade de Dogville. Porém uma força, que não era tão forte assim, me fez ficar ali, vendo que o homem é capaz de tudo menos de ser humano.
As relações de poder, camufladas ou não, nos relacionamentos entre os personagens é algo perfeito do ponto de vista da retratação: cada personagem carrega em si um traço da miséria humana. O filme foi feliz na escolha de atores, um elenco inquestionável e a atuação de Nicole Kidman consagrada em minha humilde opinião. A ausência daquele cenário tradicional faz com que a única coisa observável seja cada individuo, o terrível do ponto de vista pragmático, pois nos confronta com o nada que somos diante do mundo, algo que é sim extremamente necessário e saudável nas relações interpessoais. “-Isso é real” – dizia a mim mesma e isso feria. Como me surpreender com o desfecho deste filme? Quando me vi estava já fazendo parte. Desejava o que Grace consumou. A surpresa aguardada no desfecho acontecia durante todo o filme. O final era previsível se não fosse por um lamentável motivo: o anjo imaculado até então, se entrega às regras deste mundo cão e agora simplesmente faz parte. Fica a decepção pessoal e uma pergunta: quem irá nos salvar?