A Morte do Demônio [2013] (Análise e Crítica)
Separado por um espaço temporal de 32 anos, o remake de “A Morte do Demônio” tem não somente a função de pastichar uma das mais simbólicas obras de horror gore, como a de principalmente reviver o gênero em suas raízes mais profundas, uma vez que as últimas décadas o vêm tratado muito mal: esquecendo-o por completo ou – o que é pior – bestificando as produções com dosagens desnecessárias de humor barato.
Logo nos primeiros minutos, verificamos duas importantes mudanças: o tom da narrativa e as adaptações no roteiro original. Enquanto no longa de 1981 havia a presença constante de humor negro assim como uma certa comicidade devido à produção que beirava o artesanal, neste não há espaço para isso. Os tons pesados da fotografia de Aaron Morton, da trilha sonora de Roque Baños e da equipe de maquiagem demonstram de imediato que existe uma outra proposta, onde não deve permanecer espaço para qualquer espécie de riso. E isso é mantido até o último segundo de projeção.
Embora o mote também continue o mesmo – cinco amigos chegam a uma cabana e lá acidentalmente se desperta uma força demoníaca através da leitura de trechos de um livro satânico –, o roteiro é melhor trabalhado e as situações, antes à revelia, passam a ser contextualizadas. Agora não se trata somente de uma aventura descabida. A protagonista, Mia (Jane Levy), é levada por três amigos e seu irmão (Shiloh Fernandez) a uma antiga casa na floresta que pertencia a seus pais numa tentativa para se tratar de seu vício em drogas. Dessa forma, há uma proposta de colocar dramaticidade à história assim como desenvolver os personagens, algo difícil de ocorrer em filmes de horror. Embora isso somente se realize mesmo com o casal de irmãos, o espectador não se depara com uma trama vazia de sentido e de alguma maneira se envolve emocionalmente com esses personagens.
A direção da refilmagem ficou a cargo de Fede Alvarez, escolhido pelo diretor da película novecentista Sam Raimi, que se “limitou” a captar os recursos e adaptar o roteiro. O estreante de origem uruguaia faz um excelente trabalho no posto que lhe foi referido e mantém elementos originais como o movimento de câmera criado por Raimi que anuncia a chegada da entidade em questão. Fora isso, despreza os excessos de CGI (reforçadamente recorrentes e que prejudicaram o gênero), e em seu lugar opta por efeitos que resultam um maior realismo. Exemplos claros disso são as cenas de mutilação e derramamento de sangue, que dialogam com a estética trash pela falta de pudor ao transmitir tamanha violência.
Ademais, os fãs são presenteados com inúmeras referências ao clássico: a cena do estupro da árvore, o sótão em que aprisionam a possuída, a tentativa de fuga do local, entre outras bastante significativas. Mas, a fim de atender a uma certa originalidade e – principalmente – a tentativa de se fazer uma franquia, do clímax em diante a história dá uma reviravolta e o espectador se percebe diante de um novo final, que apresenta algumas situações que podem não agradar a todos. Dessas inovações, a mais impactante é a chuva de sangue, em uma referência forte a uma passagem bíblica. Ironia ou uma simples intertextualidade?
Porém, alguns pecados são cometidos, e dois deles se ressaltam. O primeiro é a ausência de suspense. Tudo que é previamente anunciado se materializa, e dessa forma o público não é surpreendido pelos eventos por não se criar uma tensão para que os mesmos aconteçam. Não existem aquelas famosas falsas situações. A linguagem de Alvarez é tão objetiva quanto a de Raimi, mas em 1981 não se exigia tanto como hoje, principalmente pelo desgaste da indústria cinematográfica atual. Quem vai ao cinema hoje para ver um filme como este paga para levar sustos, gosta disso e espera por esses eventos, que não se concretizam.
O segundo equívoco foi a aposta da violência nua e crua já na primeira sequência de possessão. O ideal seria que ela fosse crescendo gradualmente, até se chegar a um desfecho apavorante (como preza o cartaz nacional de divulgação). Não é o que ocorre. Divulgadas anteriormente nos trailers, as cenas de mutilação não oferecem novidade e novamente a falta de suspense atrapalha. Poucas são as pessoas que ainda viram ou escondem o rosto enquanto as ações se encadeiam. O alto nível de violência inicial acaba a colocando em um certo lugar-comum, afinal é sempre isso que se vê e se espera.
Em suma, todavia, é quase unânime a concepção de que o remake de “A Morte do Demônio” seja o melhor filme de horror dos últimos 25 anos, pelo menos. Entre acertos e eventuais erros, é uma promessa ao resgate do horror em sua essência numa abordagem moderna, cujos fãs estão cada vez mais exigentes e cansados de assistirem a produções propositalmente (até pela faixa etária e arrecadação em bilheteria) abrandadas. Que seja o primeiro de uma safra!
Nota: 7,0.