CENAS DE UM CASAMENTO
Não sou crítico de cinema. Então não esperem ler sobre detalhes técnicos sobre a obra que comento. Sobre isso pode-se buscar em muitas fontes. Vou dizer apenas que o diretor é Ingmar Bergman e é estrelado pela belíssima Liv Ulmann. Que olhos, meu Deus. E, como sempre, contarei detalhes da história. Aliás, bastante previsível, pois muito verdadeira.
De início, a ironia: eles estão sendo entrevistados pela repórter de uma revista que fará uma matéria sobre casamentos perfeitos. Já se sente que há algo de podre neste reino, pois o marido se auto-elogia demais, enquanto ela é mais contida. Mas realmente aparentam ter uma vida repleta de felicidade e sucesso. Ele é Johan, um médico, e ela, Marianne, uma advogada de direito de família e possuem duas filhas.
Logo após, eles recebem um casal de amigos para um jantar. Talvez pelo excesso de vinho, estes começam uma discussão que termina com enormes baixarias, com detalhes anatômicos. Johan e Marianne ficam assustados com a cena. Afinal, durante todo o seu relacionamento nunca tiveram um entrevero qualquer. Vão dormir aparentemente muito felizes. Tudo entre ambos era sempre calmo demais.
Calmo demais. Talvez por isso Marianne tome um enorme choque quando Johan lhe conta que está apaixonado por outra mulher e está se preparando para viajar com a outra, Paula, para Paris. Ela implora que ele não se vá. Se agarra aos seus pés, se humilha, mas Johan está determinado. É uma idiotice o que ele está fazendo, é claro. Mas compreensível para um homem que nunca tivera uma relação sexual com outra mulher na vida, além da esposa.
E ele parte deixando Marianne arrasada. Sete meses depois ele reaparece, e ela ainda espera que ele volte. Contudo, ele parte novamente. Com o tempo, a dor que ela sente vai se transmutando. Começa a ter casos amorosos para fechar o vazio existencial que a partida de Johan lhe deixara. Enfim, aceita o fim de seu casamento e pede o divórcio a Johan.
Mas agora, ele é que está relutante. Já não é tão jovem e começa a achar a vida com Paula uma droga. E, hora de assinar os papéis da separação, eles têm uma violenta discussão, e Johan chega a agredi-la. Contudo, é tarde demais para uma reconciliação. E assim termina o casamento de ambos. Ela conhece outro homem, mais vigoroso sexualmente que Johan, que agora está casado com Paula. E neste ponto Johan e Marianne descobrem que sempre foram apaixonados um pelo outro.
O filme é longo, dura umas três horas, mas é impossível despregar os olhos da tela. Os personagens secundários, como as duas filhas do casal, a Paula ou o novo marido de Marianne nunca aparecem no filme. Sabemos deles somente através dos diálogos entre Johan e Marianne. Na verdade, é um filme que mostra como podemos errar pelos pecados da imaginação. Ele agora é um velho fracassado. E o vigor sexual do novo marido dela faz com que seja constantemente traída. De modo que, depois de tantas vicissitudes, eles só consigam experimentar um pouco de felicidade nos braços um do outro. Amei este filme.