A pessoa é para o que nasce
Este é um documentário que foi buscar detalhes do cotidiano de três irmãs cegas que viviam, há muitos anos, pelas ruas e praças de Campina Grande, na Paraíba, pedindo esmolas para sobreviverem. A falta da visão foi substituída pelo dom da cantoria, o qual elas desempenham muito bem, desde quando eram ainda bem novas. Este dom fez com que Roberto, o responsável pelo filme, tivesse a idéia de transformá-las em celebridades.
Sem família, as três ceguinhas, como eram chamadas, viviam sozinhas. Até que um dia, aparece dona Didi. Uma senhora da mesma cidade, que se dispõe a cuidar delas. Claro que, para isso, elas precisam desembolsar parte da aposentadoria para pagar pela valiosa ajuda.
Maroca, a mais velha, viveu casada por onze anos até ficar viúva. Casou-se pela segunda vez com Silvestre e teve Dalva, filha que, quando criança, as ajudava nos afazeres de casa. Entretanto, ao conquistar a adolescência, Dalva, que guiava as irmãs pelas ruas, passa a sentir-se envergonhada por ter a mãe e duas tias cegas.
As oportunidades começaram a surgir na vida delas, a partir do momento em que as filmagens para o documentário tiveram início. Quem vivia numa redoma chamada Campina Grande, passa a viajar para outros estados para cumprir agendas de shows. Em um festival de música em Salvador, Maroca, Poroca e Indaiá, têm a chance de conhecer, ninguém menos, que Gilberto Gil. Dali partem para a capital paulista, onde são aplaudidas por milhares de pessoas.
Dona Didi decide se mudar e o seu lugar é ocupado por Valneide que, com muito carinho, passa a tomar conta das, agora famosas, ceguinhas da Paraíba.
No decorrer das filmagens, Maroca se envolve emocionalmente com Roberto que, meio sem jeito e, numa situação desconfortável, tem uma séria conversa com as três e deixa claro que está ali apenas como um grande amigo. Mesmo decepcionada, ela pede que Roberto não se afaste delas. Pensativas as irmãs ouvem no rádio, na voz de Roberto Carlos, “A distância”. Em certo momento, Maroca desabafa e diz ter sido traída pelas duas irmãs, que se deitaram várias vezes com seu marido no passado. Isso lhe causou uma grande mágoa que ela carregava no peito há muitos anos.
O tempo passa e Maroca reclama que Roberto não lhe mandou uma foto do seu filho, como havia prometido. Roberto, no entanto, resolve fazer uma surpresa para elas e leva o filho e a esposa para visitá-las. Maroca não esconde que o seu maior sonho é que Indaiá se case. Indaiá, tomada de emoção, deságua em lágrimas.
Um certo dia, na casa nova que compraram depois que viraram celebridades, as três comentam sobre as viagens que fizeram, os lugares que conheceram e sobre o avião. Lamentavelmente, já no final do filme, as três ceguinhas são expostas ao ridículo, aparecendo inteiramente nuas, se banhando em uma linda praia. A meu ver, invasão de privacidade.
O maior triunfo delas, no entanto, é receber a Medalha do Mérito Cultural em Brasília, das mãos do presidente Lula, onde as três cantam o Hino Nacional Brasileiro.
Vale ressaltar que, várias vezes, as protagonistas do documentário usam a expressão: “eu vi”, o que deixa claro que, os cegos também podem ver. Cada um à sua maneira.