Oz - Mágico e Poderoso (Análise e Crítica)
Crítica: Oz – Mágico e Poderoso
Ao adaptar o conto infantil “Alice no país das maravilhas” para uma versão sombria (2010), é possível que Tim Burton tivesse em mente a ideia de que ele estaria quebrando antigos paradigmas no que diz respeito ao mundo de sonhos comercializado pelos estúdios Walt Disney. Entretanto, é difícil calcular se o mesmo planejava fazer dessa artimanha de sucesso um legado. E eis que, anos mais tarde, estreia nos cinemas “Oz – Mágico e Poderoso”, filme dirigido por Sam Raimi, apresentando os mesmos elementos da produção citada.
Baseado na literatura de L. Frank Baum, este longa tem a função de explorar o universo pré-magico de Oz. Narra as peripécias de Oscar/Oz (James Franco), um mágico falido e galanteador – porém egoísta e ambicioso, cujo sonho é se tornar notável em sua profissão além de muito rico. Acidentalmente, por conta de entrar em um tornado viajando em seu balão, tem uma segunda chance em um universo paralelo que também se chama Oz. Segundo a profecia local, ele é por quem todos esperavam e o único capaz de derrotar a Bruxa Má.
A escolha de Sam Raimi não foi ocasional. Embora tenha ficado mais conhecido pelo seu trabalho na trilogia original de Homem-Aranha (2002/2004/2007), ele fez carreira dirigindo e produzindo filmes de terror, como a franquia “O Grito” (2004/2006/2009), “Possessão” (2012) e o horripilante “A Morte do Demônio” (1981). Seja na fotografia de Peter Deming, na trilha sonora de Danny Elfman, na direção de arte e principalmente nos efeitos especiais, esses elementos estão presentes em “Oz”, obviamente de maneira reduzida. A prova é que as crianças se manifestam mal a algumas cenas mais “horripilantes”, como a da sombra da Bruxa Má e a transformação de uma personagem em bruxa.
Observando cuidadosamente, pode se chegar à conclusão de que a película não é de forma integral dedicada aos pequenos. Em três ou quatro cenas, há insinuação de um jogo sexual, incluindo algumas metáforas “inocentes”, além da violência não temperada. E isso não se dá nas lutas ou na cena em que os babuínos malvados lutam contra espantalhos rasgando o seu tórax ou quebrando seu pescoço, pensando se tratar de soldados humanos do bem. As sequências mais chocantes são protagonizadas pela Boneca de Porcelana, que, embora se aparenta delicada e indefesa, fala naturalmente em matar e anda armada com uma faca. Não chocaria tanto, se ela não pertencesse ao núcleo do bem. Apesar de reprimida por Oz pela sua atitude e pelo teor cômico dado à situação, não deixa de ser um largo passo [bom ou ruim?], vista a maneira tradicional em que o estúdio costuma(va) tratar suas estórias.
Se Raimi não impressiona na direção pelo seu didatismo enfadonho, não se pode dizer o mesmo acerca dos efeitos visuais. Certamente são eles o grande atributo da fita, cuja pós-produção tomou demasiado tempo da equipe especializada. Eles não são tão reais a ponto de tirarem o aspecto fantástico da produção, mas nem por isso menos espetaculares. Ainda não muito explorado, criou-se um mundo de sonhos com tudo que se tem direito. E a tecnologia 3D, além de muito interativa, realça diferentes coloridos, texturas, planos e nuances que são dados às imagens.
Quanto ao elenco, a batuta de Raimi não foi suficiente para passar motivação ao espectador. O galã James Franco faz um bom trabalho interpretando o protagonista, mas há momentos em que o ator deixa transpassar um certo incômodo e inverdade – talvez por rodar tomadas basicamente sozinho e à frente de um fundo verde. Falta afinação e conectividade também ao trio de bruxas. Enquanto a verdadeira Bruxa Má Evanora (Rachel Weisz) não impõe respeito algum como autoridade das trevas, a Bruxa Boa Glinda (Michelle Williams) irrita com sua passividade e benevolência. Aquele clássico maniqueísmo, mas que aqui não convence. A que se destaca é Theodora (Mila Kunis), mais pelo dualismo do próprio personagem que pela interpretação fraca da atriz, que geralmente não deixa a desejar. Destacam-se então – por incrível que possa parecer –, a presença dos personagens digitais, como a já supracitada Boneca de Porcelana e do Macaco Voador, responsável pelos melhores momentos do filme. (Ele pedindo colo é de rolar de rir... rsrsrsrs...)
Entre altos e baixos, o ponto fraco está em seu roteiro. Com uma duração de aproximados 120 minutos, a primeira parte é muito empolgante, sendo a apresentação em preto-e-branco do protagonista o melhor trecho de todo o filme. Realmente o público é cativado pelo personagem e começa a torcer por ele, mesmo que suas ações sejam reprováveis. É na segunda parte, com a entrada de Michelle Williams, que o roteiro se perde. Seu núcleo de origem é chato e complexo, além do fato de ela ser a “responsável” pela transformação de Theodora em uma bruxa das trevas: motivo que, pelo contexto, soou forçado e clichê. O desfecho do conflito fica muito aquém do esperado e inclusive vergonhoso, mostrando ser uma saída não criativa para o encerramento deste primeiro capítulo da franquia.
De principal mensagem, temos a certeza de que as pessoas podem mudar em prol do bem coletivo, como aconteceu com Oz. Ademais, resta o alívio de se conquistar uma segunda chance: se o mágico não pôde curar uma paraplégica no mundo real, ele o fez quando colou as pernas da Boneca de Porcelana que não podia mais andar; e também se ele não pôde ficar com a mulher que amava no mundo real (também vivida por Michelle Williams), isso foi possível neste universo paralelo. Mas o problema pode ser exatamente este: será que apenas oniricamente somos capazes de nos realizar? Será que os sonhos podem se transformar em vida real? Ou a vida real poderia ser para sempre um sonho? Anseio por elas serem respondidas.
Devido a altas expectativas do estúdio, a segunda parte já está em pré-produção e tudo garante que sua estreia ocorrerá em 2015. Não vejo necessidade, pois a falta de originalidade já está bem flagrante e não existem muitas lacunas, uma vez que o projeto se mostrou bastante “redondo”. Vale a diversão, mas alguns possivelmente sairão do cinema com uma sensação de expectativa não preenchida.
De fato, menos poderia ter sido mais e substituir qualidade de uma boa história por extravagância tende a resultar em risco.
Nota: 7,0.