CAMELOS TAMBÉM CHORAM

(Byambasuren Davaa e Luigi Falorni, Die Geschiche von weinenden Kamel, Alemanha/Mongólia, 2003)

nair lucia de britto

 

A vida nos grandes centros urbanos é fria, desapegada de seus valores mais simples e básicos, substitui o convívio com a natureza através da construção de uma outra “natureza” de ordem cultural onde habita a impessoalidade e a correria...”, diz Ruy Gardnier.

Talvez, tenha sido esse o motivo pelo qual os diretores estudantes Bymbasuren e Luigi Falorni buscam um lugar onde os sentimentos ainda prevalecessem e a convivência com outro conservasse sua pureza natural, aliada ao instinto de sobrevivência.

Foi assim que chegaram com suas câmeras no deserto de Gobi, no sul da Mongólia, justamente na época de cria dos camelos, meio de transporte dos nômades e provedores de lã; para documentar a vida de uma família, composta de quatro gerações, que vivia numa pequena aldeia daquele imenso deserto.

O resultado desse trabalho foi indicado para o Oscar como melhor filme documentário.
Os camelos são animais ruminantes que têm corcovas no dorso, pescoço longo e calosidades nas juntas dos joelhos. Aqueles que têm apenas uma corcova são os dromedários.

Por serem animais muito úteis e facilmente dosmeticados, eles são muito estimados pelo homem, nas regiões desérticas da Austrália, para onde foram levados. Há registro da domesticação de camelos desde cerca de 1100 anos a.C., na Babilônia. Adaptam-se muito facilmente no deserto porque são capazes de viver de plantas espinhosas e conservar água no corpo.

No filme, o componente mais velho da família conta uma lenda sobre os camelos aos seus netos. A lenda diz que no começo de sua existência os camelos tinham chifres, que emprestaram aos veados. Mas eles não os devolveram e sumiram misteriosamente, levando consigo os chifres dos camelos.

Por isso que até os dias de hoje, os camelos costumam contemplar o horizonte com um olhar perdido e melancólico, à espera do que ainda julgam lhes pertencer...

Apesar do seu jeito desengonçado, os camelos sabem conquistar o coração da gente com uma a ternura que só ele sabe transmitir; além de prover o sustento da família.

Embora imaginemos que sem o conforto proporcionado pela tecnológia e pela modernidade, a vida deve ser muito dura, o que o documentário mostra é maravilhoso! A começar pela paisagem exótica, o contato do homem com a natureza e com os animais...

O carinho, a paciência e o amor enriquecendo essa convivência. Os idosos são valorizados pelo seu conhecimento e são ouvidos com atenção pelos mais jovens e também participam das atividades, pois a alegria de viver os tornam saudáveis.

As crianças são criadas com carinho e atenção, mas sem excesso de mimos ou de brinquedos que as tornem ociosas e ináptas. Elas têm seu momento de folguedos, mas também têm suas obrigações e, junto com os adultos, aprendem cedo as leis de sobrevivência.

No filme, uma fêmea de camelo dá cria e o último filhote que nasce é um lindo camelinho branco. O parto foi difícil, mas foi bem assessorada. Ressentida pelo sofrimento passado, a mãe do camelinho rejeita o filhote e recusa-se a amamentá-lo.

Os donos do animal já sabem como resolver o problema. Dois meninos vão à cidade à procura de um tocador de violino para que ele, com sua música, ele amoleça o coração da mãe do camelinho e faça as pazes com seu filhote.

Quando o músico chega começa o ritual com toda a família em volta. Todos ouvem em silêncio o som do instrumento rústico, feito à mão. Enquanto as notas musicas ecoam no ar, a mãe dos meninos vai aproximando o filhote de camelo de sua mãe.

O animal nem percebe a ação estratégica de que está sendo alvo... O pensamento do animal está na canção, seus ouvidos atentos às notas musicais... até que seus olhos se enchem de lágrimas.

O camelinho aproveita esse momento de enlevo para abocanhar a teta da mãe. Então saboreia o leite que o alimenta e lhe garante a vida! O filhote vence, afinal, toda a resistência da mãe. É um sublime momento de emoção!

Nair Lúcia de Britto
Enviado por Nair Lúcia de Britto em 17/12/2012
Reeditado em 17/08/2015
Código do texto: T4040237
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