A PELE

(Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus – eua 2006)

nair lúcia de britto

Conforme foi registrado no início do filme, “A Pele” é um tributo e não uma biografia de Diane Arbus (1923-1971), a brilhante fotógrafa americana, considerada um dos nomes mais relevantes dos Estados Unidos na arte da fotografia documental.

Reconhecida internacionalmente como uma das melhores profissionais do século XX, foi uma das primeiras fotógrafas a usar o flasch simultaneamente com a luz do dia. Dessa forma, evitava que os rostos fotografados obscurecessem nos ambientes excessivamente claros. Pelo contrário, conseguia iluminá-los com uma luz clara, direta e sem artifícios.

Tomou gosto pela fotografia por influência do seu marido Allan Arbus, fotógrafo de moda, do qual era apenas assistente. Trabalharam juntos na área do propaganda por vários anos; mas com o passar do tempo sua necessidade de independência tornou-se imperiosa e inevitável. Em 1959 deixou o marido e passou a estudar fotografia na Escola de Nova Iorque, sob orientação de Alexey Brodovitch e do discípulo dele: Richard Avedon.

O universo “fashion”, com o qual convivera até então, não satisfazia sua aspiração artística. A busca pela realização pessoal impulsionou-a a procurar, munida com sua Rolleiflex, horizontes novos. Ficou fascinada pelos modelos extravagantes que encontrou: tipos exóticos, bizarros e até mesmo por aqueles que causavam um impacto assustador ao primeiro olhar.

Embora esses modelos fossem o oposto do que comumente seria a beleza convencional, ela os fotografava com paixão; documentava a existência deles como se quisesse reafirmá-los como seres humanos, parte integrante do nosso mundo e transformava habilmente suas estranhas figuras em obras de arte!

Seu trabalho foi exposto em 1967 num museu de Nova Iorque (Colectiva New Documents Museum of Modern Art). Nos seus retratos observava-se a empatia existente entre a fotógrafa e seus modelos. A respeito deles Diane dizia:

A maior parte das pessoas passa a vida temendo experiências traumáticas, enquanto estas já nasceram com seu trauma e já passaram pelo seu teste na vida – são aristocratas.”

Para mim, o sujeito de uma fotografia é sempre mais importante do que a fotografia. E mais complicado...”

O filme “A Pele” teve como base a biografia de Diane Arbus, lançada em l984, pela especialista Patricia Bosworth. Contudo foi a personalidade extravagante, marcante e perturbadora da fotógrafa que inspirou o diretor Steven Shaimberg e o roteirista Erin Cressida Wilson a imaginarem uma curiosa fábula.

A maravilhosa e inigualável atriz australiana, Nicole Kidman (protagonista de “Os Outros”) interpreta Diane Arbus. O misterioso e fictício personagem Lionel Sweeney é interpretado por Robert Downey Jr); enquanto que o marido da fotógrafa, Allan Arbus, é protagonizado brilhantemente por Ty Burnell.

O excelente trabalho dos atores enriqueceu a trama que oscila entre o real e o imaginário. No triângulo amoroso que se forma os sentimentos transbordam, sutilmente entrelaçados a um clima de erotismo, com uma discreta dose de suspense.

Para comentar “A Pele”, pareceu-me imprescindível rememorar Diane Arbus, cuja obra, revolucionou a fotografia moderna e foi consagrada na Bienal de Veneza, em 1972.

Acredito que, somente conhecendo seu trabalho e ao menos um pouco de sua poderosa, intrigante e exuberante personalidade é possível entender a delicadeza desse filme que, sem dúvida, é também uma obra de arte.

Nair Lúcia de Britto
Enviado por Nair Lúcia de Britto em 15/12/2012
Reeditado em 17/08/2015
Código do texto: T4037430
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