(DAS LEBEN VON DONNERSMARCK - Alemanha – 2006)
Construído em 1961, o Muro de Berlim por 28 anos dividiu a Alemanha em dois blocos:
a República Federal da Alemanha (RFA), constituída pelos países capitalistas subordinados aos EUA; e a República Democrática Alemã (RDA), constituída pelos países socialistas, simpatizantes do regime soviético.
Foi com base nessa fase da História que o cineasta Florian Henckel von Donnersmarck dirigiu e escreveu o roteiro do filme A VIDA DOS OUTROS.
Começa em 1984. A Agência de Segurança Nacional da RDA (Berlim Oriental) supervisiona o comportamento de cidadãos suspeitos de agir contra o Estado. A maior pressão recaía contra os artistas. Qualquer referência em desacordo com o regime, o artista era banido das Artes.
O agente da Stasi (polícia secreta), Gerd Wiesler (Ulrich Muhe), é um profissional admirável pela competência e habilidade em arrancar a confissão dos suspeitos. Sua aparência é a de um homem frio, calculista, arrogante e autoritário. Sempre bem-sucedido em seus interrogatórios severos, ensina sua estratégia infalível em palestras.
Ao término de uma aula, Wiesler é aplaudido e convidado pelo tenente-coronel Anton Grubtz
(Ulrich Tukur) para irem ao teatro. Lá, o Ministro da Cultura Bruno Hemph (Thomas Thieme) aguardava na platéia e incumbe o tenente-coronel de investigar a vida do poeta e dramaturgo Georg Dreyman; apesar do artista evitar em suas obras qualquer divergência com o governo.
A peça termina e Georg festeja com sua namorada Christa-Maria, a atriz principal. O Ministro se aproxima do casal e ironicamente sugere que o dramaturgo trabalhe a favor do governo. Ao mesmo tempo corteja a atriz. O dramaturgo irrita-se e observa:
"Deixe a política de lado quando assistir as minhas peças. É impossível para todos compartilhar da mesma fé.”
Mas Georg fica preocupado e teme também ser banido. Resolve visitar Albert Jerska, seu amigo e diretor preferido, para saber sua opinião sobre o ocorrido. Jerska o recebe amistoso e serve vinho ao amigo; depois de ouvir o dramaturgo, desabafa:
“Não suporto mais este país. Não há direitos humanos nem liberdade de expressão. Isso me deixa louco, mas em compensação é o mesmo sistema que nos inspira a escrever. Contar como as pessoas vivem neste país, vidas reais... Essa é a verdadeira obra-prima vinda das nossas consciências.”
Enquanto isso, sob às ordens do tenente-coronel, Wiesler monta um sistema de escuta no apartamento do dramaturgo, aproveitando-se da ausência dele. No sótão do prédio, o agente faz sua sede de fiscalização. A partir daí, dia e noite, tudo que acontece na casa do artista é monitorado, sem que Georg de nada suspeite.
Sob à mira do espião, Christa-Maria prepara uma festa de aniversário para Georg. Os convidados (todos artistas) chegam e a conversa corre animada. Quando a comemoração termina, Georg abre os presentes que recebera, inclusive o de Jerska; depois, entrega-se aos carinhos de Christa-Maria.
Wiesler não perde nada e relata tudo ao tenente-coronel durante uma refeição. No restaurante da Agência, Wiesler repara no comportamento inadequado do seu superior para com um dos funcionários que também se servia, à mesa ao lado.
Voltando ao seu posto de espionagem o agente também não aceita o procedimento incorreto do Ministro da Cultura, chantageando Christa-Maria, a fim de satisfazer desejos sórdidos. Instintivamente, Wiesler usa de astúcia para que Georg perceba as artimanhas do Ministro.
Georg abraça carinhosamente a atriz, que está deprimida, querendo protegê-la... Suplica-lhe para se afastar do Ministro; mas ela só pensa em proteger sua arte e o homem amado.
Wiesler sensibiliza-se vendo o sentimento de ternura entre os dois. Planeja, então, encontrar a atriz “casualmente”, a fim de convencê-la a se defender da chantagem.
Num bar, ele se apresenta como um admirador de sua arte e, sutilmente, a faz refletir e se valorizar. Incentivada pelo apoio recebido, Crhista-Maria desiste do encontro com o Ministro e, em vez disso, corre para os braços de Georg, que a recebe, emocionado.
“Minha inspiração voltou para casa!”
Wiesler também está feliz...
Em sua casa, agrada-lhe ler um trecho do livro do dramaturgo, que ele raptara.
“Brecht:
A CADA DIA DE SETEMBRO O AMANHECER ERA AZUL.
AQUELAS JOVENS ÁRVORES ALÇANDO O CÉU...
COMO O AMOR QUE FLORESCE E CRESCE
ACIMA DE NÓS, FLUTUANDO O AZUL DO CÉU
COMO UMA NUVEM BRANCA PASSANDO
QUE COM FÉ EM SEU CORAÇÃO NUNCA IRÁ TE DEIXAR.”
O espectador do filme mal percebe a lenta metamorfose em relação ao caráter do personagem. Pouco a pouco, Wiesler vai abandonando o aspecto peculiar do carrasco frio e austero. Toma-lhe o lugar um outro homem, uma pessoa sensível à beleza...
Súbito o telefone de Georg toca. Imediatamente o agente secreto se põe à escuta. A notícia sobre Jerska é triste! O diretor preferido do dramaturgo desistira da vida! Georg fica tão triste que não sabe o que dizer. Apenas vai até o piano e começa a tocar...
É uma música suave, linda... melancolicamente a melodia ecoa pela sala. Silenciosa, Christa-Maria o abraça. A música também ecoa nítida dentro do sótão. Wiesler a ouve, emocionado.
Junto aos amigos, igualmente abalados com a súbita perda, Georg toma ciência do desaparecimento de outros artistas; infelizes por se verem impedidos de expressar sua arte. Georg resolve escrever um artigo denunciando essa estatística que o RDA oculta.
Seus amigos artistas concordam em ajudar Georg a publicar o artigo como anônimo. O editor da revista Mirror também aprova a idéia e lhe dá uma máquina de escrever minúscula a fim de que Georg possa escondê-la no apartamento dele, enquanto trabalha no script.
Wiesler, por sua vez, colabora. Nada revela sobre os planos do dramaturgo, dispensa o agente substituto de turno e passa a emitir relatórios falsos, que em nada comprometem.
O artigo é, afinal, manchete da Mirror. O tenente-coronel fica furioso com Wiesler pela “incopetência” dele. E, por ordem do Ministro, prende Christa-Maria, supondo o envolvimento.
com o autor anônimo. E ninguém melhor que Wiesler, para fazê-la revelar sobre o esconderijo da tal máquina de escrever, que levaria até o autor do artigo.
Na presença do seu superior, Wiesler é obrigado a interrogá-la, usando a costumeira e infalível estratégia. Como era de se esperar, a atriz confessa tudo. Em liberdade, a atriz volta para Georg, carregada de culpa.
Vê quando a polícia invade o apartamento e abre a táboa do assoalho da sala... O casal espanta-se em ver o esconderijo vazio. O fato era que Wiesler chegara antes da polícia e retirara a prova do delito, sem ser visto.
“Maldita mentirosa!”, o tenente-coronel blasfema.
Apavorada, Christa-Maria foge correndo e atravessa a rua sem ver o caminhão que vem em velocidade... Georg corre em seu socorro, mas é tarde...
Passado alguns anos, Georg descobre que fora espionado, mas que os relatórios arquivados nada registravam sobre seu artigo, nem sobre a tal máquina... Quem o salvara?!!!
Por causa disso, Wiesler foi rebaixado de cargo. Estava trabalhando na seção de cartas, quando um dos colegas ouve no rádio a notícia de que o Muro de Berlim caíra. Todos se abraçavam e festejavam a queda. Era o ano de 1989 e, finalmente, o RDA deixou de existir...
Dois anos depois da data histórica, Wiesler passa em frente à uma livraria e vê suntuoso cartaz anunciando o lançamento de um novo livro de Georg Dreyman.
Atraído por ele, o ex-agente do serviço secreto entra na livraria, compra o livro e abre-o. Surpreso e comovido lê a dedicatória que o escritor lhe oferecia...
O título da obra era: SONETO DOS BONS HOMENS.
A verdadeira arte tem o poder de transformar o mundo e as pessoas, sempre para melhor...
(Nota da autora deste texto)