"Nós que aqui estamos por vós esperamos"
"Nós que aqui estamos por vós esperamos"
O singelo depoimento de um fotógrafo anônimo (que não pertence a este filme), assim expressa: toda vez que vou fotografar qualquer coisa do cotidiano, tenho a sensação de estar entrando no meio de uma história.
Pois...
O cineasta Marcelo Masagão tira da cartola, através de um sem número de registros animados do século XX, a existência de grande parte dos anônimos (talvez você se identifique com algumas frações), e lança sobre cada um deles uma admirável composição. Daí ele costura, (por trás age uma trilha de raríssima qualidade), e o filme todo, os takes iconográficos retalhados e espalhados na obra passam a funcionar por si mesmos e inda que cada qual tenha uma tonalidade única, todos expressam a quintessência indubitável sobre o suspiro humano nesta terra: se contemplada com a devida distância, toda vida é uma licença poética.
Marcelo fez justamente isso e atingiu um tremendo resultado, além dos 17 prêmios (nacionais e internacionais) que o filme conquistou.
Afinal, o que é que nós viemos fazer, ou, o que estamos fazendo no presente momento? O de sempre – trabalhando pela evolução do planeta. Individual e coletivamente dizendo. Uns com muito sofrimento, outros tocando flauta nos intervalos.
Vejamos a licença poética da família Jones. São imagens fortes – o bisavô Jones sendo ensacado na Primeira Guerra Mundial. O neto Jones destrinchado no Vietnã. O Jones do meio agora merecendo uma pausa, vide as cenas da rapaziada se divertindo nas praias da Normandia - suscitam longínquas reflexões.
Então temos o trabalhador da Ford montando um Ford T – ele rala 12 horas por dia de segunda a sábado e aos domingos faz piquenique. Nunca teve um automóvel e espirrou da esfera em 1919, graças a Gripe Espanhola. Depois vem a alemã que faz bombas, o carteiro japonês, a outra que empacota cigarros e virou telefonista, o operário padrão russo que foi mandado para a Sibéria por discordar do partido, mais soldados, trincheiras, nossos brothers de Serra Pelada – 8.000 Joãos, 9.000 Josés, o alfaiate voador, o montador de bicicletas chinês cujo currículo, muito expressivo, assinala a execução de 3 professores (!) e sabe-se lá quantos etecéteras podem sonhar vossa vã filosofia.
Tudo vira fumaça no liquidificador “Nós que aqui estamos...” e na visão do autor-diretor a arte e as idéias são como o orvalho num oásis esquecido em meio a imenso deserto. Uma pitada de Freud, Nijinsky, Duchamp e sorte daquele que pôde se expressar, pensar e conjeturar na “Era dos Extremos”. Costuma-se dizer deste filme que ele é a Leitura Cinematográfica da obra do historiador britânico Eric Hobsbawm.
Leituras não faltam, de documentário a filme ensaístico, "filme-memória", e a mais acertada delas, “difícil de ser rotulado”.
Lançado em 99, deixamos a pegadinha do título para o espectador, a impecável música de Wim Mertens para os apreciadores e os 73 minutos de Masagão valem para este século e provavelmente para os próximos.
Sem tirar nem por, Marcelo fez um filme sobre o Sal da Terra.
"Nós que aqui estamos por vós esperamos"
O singelo depoimento de um fotógrafo anônimo (que não pertence a este filme), assim expressa: toda vez que vou fotografar qualquer coisa do cotidiano, tenho a sensação de estar entrando no meio de uma história.
Pois...
O cineasta Marcelo Masagão tira da cartola, através de um sem número de registros animados do século XX, a existência de grande parte dos anônimos (talvez você se identifique com algumas frações), e lança sobre cada um deles uma admirável composição. Daí ele costura, (por trás age uma trilha de raríssima qualidade), e o filme todo, os takes iconográficos retalhados e espalhados na obra passam a funcionar por si mesmos e inda que cada qual tenha uma tonalidade única, todos expressam a quintessência indubitável sobre o suspiro humano nesta terra: se contemplada com a devida distância, toda vida é uma licença poética.
Marcelo fez justamente isso e atingiu um tremendo resultado, além dos 17 prêmios (nacionais e internacionais) que o filme conquistou.
Afinal, o que é que nós viemos fazer, ou, o que estamos fazendo no presente momento? O de sempre – trabalhando pela evolução do planeta. Individual e coletivamente dizendo. Uns com muito sofrimento, outros tocando flauta nos intervalos.
Vejamos a licença poética da família Jones. São imagens fortes – o bisavô Jones sendo ensacado na Primeira Guerra Mundial. O neto Jones destrinchado no Vietnã. O Jones do meio agora merecendo uma pausa, vide as cenas da rapaziada se divertindo nas praias da Normandia - suscitam longínquas reflexões.
Então temos o trabalhador da Ford montando um Ford T – ele rala 12 horas por dia de segunda a sábado e aos domingos faz piquenique. Nunca teve um automóvel e espirrou da esfera em 1919, graças a Gripe Espanhola. Depois vem a alemã que faz bombas, o carteiro japonês, a outra que empacota cigarros e virou telefonista, o operário padrão russo que foi mandado para a Sibéria por discordar do partido, mais soldados, trincheiras, nossos brothers de Serra Pelada – 8.000 Joãos, 9.000 Josés, o alfaiate voador, o montador de bicicletas chinês cujo currículo, muito expressivo, assinala a execução de 3 professores (!) e sabe-se lá quantos etecéteras podem sonhar vossa vã filosofia.
Tudo vira fumaça no liquidificador “Nós que aqui estamos...” e na visão do autor-diretor a arte e as idéias são como o orvalho num oásis esquecido em meio a imenso deserto. Uma pitada de Freud, Nijinsky, Duchamp e sorte daquele que pôde se expressar, pensar e conjeturar na “Era dos Extremos”. Costuma-se dizer deste filme que ele é a Leitura Cinematográfica da obra do historiador britânico Eric Hobsbawm.
Leituras não faltam, de documentário a filme ensaístico, "filme-memória", e a mais acertada delas, “difícil de ser rotulado”.
Lançado em 99, deixamos a pegadinha do título para o espectador, a impecável música de Wim Mertens para os apreciadores e os 73 minutos de Masagão valem para este século e provavelmente para os próximos.
Sem tirar nem por, Marcelo fez um filme sobre o Sal da Terra.