TOP DE TELA: GONZAGA DE PAI PARA FILHO

Com as merecidas reverências à bela obra que por ora pontua nossas telas cinematográficas:

O longa em epígrafe, recém chegado às telas do cinema brasileiro, nos premia com um filme documentário de ímpar delicadeza artística a nos proporcionar o contato com a comovente história biográfica e com a genialidade artística e da discografia do nosso Luís Gonzaga, o Rei do Baião, bem como com a sucessão musicista do seu não menos maravilhoso filho cantor e compositor, Gonzaguinha, cuja obra impecável elenca um dos mais preciosos ícones da nossa mais recente MPB do final dos anos setenta, início dos oitenta, que confrontaram e cantaram as reivindicações "políticas de alma' frente ao então histórico cenário da ditadura militar.

O palco da obra também nos agracia com a poética e com a belíssima fotografia do sertão nordestino, com flashes sociológicos da cultura de época "coronelista" ali arraigada naquela região do nordeste e com toda a dificuldade de vida sofrida, tão artistica e comoventemente encenada naqueles difíceis tempos de ínico e progressão da vida do menino, do adolescente, e do jovem adulto artista que levou multidões aos rítmos do xote, do xaxado e do baião, algo "for all", para os quatro cantos do nosso Brasil...e do mundo.

Belíssima cultura autóctone e singular, um genuíno tesouro histórico da nossa música, não apenas os Gonzagas pai e filho, como essa belíssima homenagem cinematográfica dedicada ao centenário de nascimento do rei do Baião.

Na esfera psicológica e humanista da obra, o filme nos convida a visualizarmos e repensarmos as conflituosas relações entre pais e filhos e nos faz perceber claramente que muitas vezes somos reféns dos momentos de vida, não necessariamente agentes dos rumos que seguimos ou das mudanças que gostaríamos de protagonizar nas nossas relações pessoais e familiares.

O filme muito facilmente nos leva às lágrimas...a nos demonstrar que há situações em que a vida autoritariamente nos imputa suas mudanças, todavia nos absolve dos nossos caminhos obrigatórios, sem que nos penalizemos com culpa sobre os rumos que tomamos por determinação dos martelos do destino.

Trata-se, a meu ver, dum filme muito bem estruturado, todavia, como fã fanática da discografia do rei Gonzagão, apenas deixo aqui uma impressão pessoal, a de que poderia ter sido melhor explorada e comunicada ao público a tão vasta obra do belíssimo cancioneiro de Luis Gonzaga pai, o foco da maior homenagem secular da nossa música regionalista.

Um artista que coloriu o Brasil com a alma do canto poético.

Vale muito conferir mais esse "top de tela" do cinema brasileiro.

E antes que eu me esqueça: LUÍS, RESPEITA JANUÁRIO!