007 - Operação SkyFall (Análise e Crítica)
Não é uma tarefa nada fácil sobreviver com sucesso de público e crítica por 50 anos, e além disso ser o merecedor do título de o maior detetive da História do Cinema. Para tal proeza, foi necessário que James Bond fosse adaptado aos diversos contextos que permearam entre os anos 1960 aos dias atuais. Por conta disso, é muito interessante observar o rumo que esta franquia vem tomando a fim de se adequar a estes nossos tempos e – principalmente – aos “dogmas” que norteiam o cinema-blockbuster. Porém, sem nunca perder traços essenciais, que fazem parte da linguagem do personagem: as altas doses de charme, elegância e sedução.
Prova disso é a primeira sequência de ação, que, inclusive, abre o longa-metragem. Ela lembra muito as eloqüentes cenas de filmes como “Missão Impossível”, “Busca Implacável” e a trilogia Bourne, estrelado por Matt Damon, entre outros: carros na contramão, perseguição a pé, contato com o QG via telefone, diálogos rápidos e objetivos etc. Passados alguns momentos, quando Bond (Daniel Craig) vai à China, toda a direção de arte e figurinos trabalham para dar à película o seu tom bastante peculiar – a sensualidade. É exatamente o contraste equilibrado entre a aceitação do novo e o respeito à tradição que faz de “007 – Operação SkyFall” um filme admirável.
A trama é muito simples: James Bond e sua equipe de agentes secretos necessitam encontrar um arquivo com uma lista vazada com nomes de outros agentes secretos, a serviço do governo britânico, espalhados pelo mundo. Entretanto, ela cai em mãos erradas, e agentes começam a ser assassinados. Dado como morto, Bond resolve voltar à ativa, mas para isso será preciso passar por um teste que prove suas aptidões. Nesse momento, ele terá de mostrar para todos – inclusive para si próprio – que ainda é capacitado para missões de campo.
Olhando assim, a trama parece superficial. E o é, na verdade. Entretanto, a grande sacada está no roteiro, que é justamente outro ponto bastante interessante para se observar. Distinguindo-se do filme anterior, “Quantum of Solace” (2008), o foco deixa de ser a ação e passa ao psicológico do personagem. Suas emoções são trazidas à flor da pele na relação de confiança e lealdade para com a Senhora M (Judi Dench), que continua fabulosa dando vida a esta paradoxal personagem. Esse elo entre o subordinado e a chefa é que se encarrega de ser o fio condutor da trama. Após ser oficialmente dado como morto, a Senhora M vai à janela e um temporal começa a cair. Como é um filme cheio de metáforas, podemos entender que se trata da tristeza e de um choro interno, uma vez que não lhe seria conveniente expressar tais emoções publicamente.
Ademais, outras demonstrações são dadas ao decorrer de “SkyFall”, que se mostrou ser o melhor da trilogia protagonizada por Daniel Craig, um ator não considerado tão grandioso assim, mas que está se saindo muito bem no papel, sem caricaturalizá-lo, como o fez Pierce Brosnan, cuja presença marca, a meu ver, a pior fase do personagem. O vilão da vez, Silva (Javier Bardem), também é interessante e se molda à proposta do roteiro, posto que seu personagem, apesar de querer se vingar de M, nutre em relação a ela emoções completamente opostas. Assim, é um antagonista impulsionado por motivos restritamente individuais e adversos, como amor e ódio.
Fora isso, “SkyFall” rompe com alguns tradicionais paradigmas da mitologia do detetive inglês. O primeiro se dá pelo fato de não haver uma Bond Girl ao menos oficial. É claro que 007 continua o mesmo pegador de sempre e rodeado de belas mulheres, mas nenhuma que pelo menos neste longa tenha atributos suficientes para alcançar o posto. O segundo é ele se apresentar mais fraco e frágil física e psicologicamente, o que o caracteriza mais humano e menos herói. E o terceiro é uma verdadeira surpresa: em um diálogo nada inocente – naquela tradicional cena de estar amarrado em uma cadeira – James Bond “confessa” que já poderia ter experimentado relações sexuais com outros homens. Logo ele? Pois é, o texto é muito bem escrito e humorado, rico de sacadas objetivas e ótimas metáforas também. Ficou na insinuação, mas o que não deixa de ser uma adaptação aos novos tempos, nos quais a bissexualidade passou a ser uma bandeira defendida por muitos.
Por último, gostaria de comentar acerca da música-tema cantada por Adele, que leva o título do filme. É impressionante como a canção funciona bem no lindo clipe psicodérico (Tudo a ver com o roteiro!) que serve como a clássica abertura dos filmes da cinessérie, que introduz algumas pistas, verdadeiras, falsas e hipotéticas, sobre a trama. O engraçado é que chega a impressionar como, fora daquele contexto, a canção é cansativa e enervante...
Sem mais, “SkyFall” merece a ida ao cinema, pois vale muito a pena conferir, já que ao mesmo tempo reinventa o personagem sem descaracterizar a sua essência. Feito nada simples, concorda? Absoluto, trata-se de um dos melhores episódios da franquia (de 23 filmes!) nos últimos anos.
Nota: 8,5.